Sicredi Ouro Verde MT

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Raízes Ouro Verde | Ep. 01
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Raízes Ouro Verde | Ep. 02

JOCI PICCINI e CELSO LAMPUGNANI

No segundo episódio do podcast Raízes Ouro Verde, contamos a história inspiradora da cooperativa Sicredi Ouro Verde MT. Este episódio conta com a participação especial de Joci Piccini, produtor rural, empresário e atual vice-prefeito de Lucas do Rio Verde. Recebemos também Celso Lampugnani, empresário, ex-conselheiro e atual coordenador de núcleo da cooperativa.

Durante a conversa, eles comentam o impacto positivo da cooperativa no desenvolvimento das cidades onde a Ouro Verde atua, e compartilham suas visões sobre o futuro da cooperativa nos próximos 35 anos.

Você já ouviu falar sobre a Sicredi Ouro Verde antes? Conheça mais sobre a história da cooperativa, através do podcast Raízes Ouro Verde.

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Raízes Ouro Verde | Ep. 01
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TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 2

Bruno:
Olá, sejam bem-vindos ao segundo episódio do podcast Raízes Ouro Verde. Esse é o nosso encontro que celebra os 35 anos da cooperativa Sicredi Ouro Verde MT.

 

Camila:
É isso, Bruno. E na semana passada, a gente começou então esse projeto, recebendo aqui no nosso estúdio o nosso presidente Elegir Tecchio e o nosso vice-presidente Gilberto Canepilli. Eles contaram um pouquinho das origens da nossa cooperativa, né? E essa semana a gente recebe outros dois associados que fizeram parte dessa origem da nossa Sicredi Ouro Verde. Eles estão com a gente aqui no nosso estúdio.

 

Então são eles: Joci Piccini, produtor rural, empresário, atual vice-prefeito de Lucas do Rio Verde e sócio-fundador da nossa cooperativa Ouro Verde; e seu Celso Lampugnani, também empresário, ex-conselheiro da cooperativa, foi vice-presidente da cooperativa e atualmente coordenador de núcleo aqui da nossa Ouro Verde.

 

Sejam muito bem-vindos ao Raízes Ouro Verde.

 

Celso:
É um prazer participar dessa conversa e vamos fazer o possível para contar alguma coisa de produtivo que aconteceu na época da implantação dessa cooperativa.

 

Joci:
Muito bem. Eu acho que é muito importante para nós lembrar um pouco dessa história tão bonita, né? Desse passado aí que até hoje é novidade. Eu acho que a Sicredi nunca vai ficar vencida, né? Vai ficar sempre atualizada, como está hoje aí.

 

Camila:
Credi Lucas, que hoje é Sicredi Ouro Verde. É um pouco disso que a gente vai contar, né, Bruno?

 

Bruno:
É isso mesmo. Antes de iniciar e voltar lá na década de 90 para trazer um pouco da história da cooperativa, a gente gostaria também de saber as raízes dos nossos convidados que estamos recebendo hoje no podcast Raízes Ouro Verde. Seu Joci e seu Celso, gostaríamos de saber a história de vocês. Quando tudo começou? Quando o Joci conheceu o Mato Grosso? Quando chegou ao Mato Grosso? O senhor também? Vamos começar por aí para a gente entender realmente o caminho que foi percorrido até aqui.

 

Joci:
Bom, eu sou Joci Piccini, natural de Renascença, Paraná. Vim para o Mato Grosso em 1980. Morei em Tangará da Serra por um ano e depois vim para Lucas do Rio Verde em dezembro de 1980. Na época, Lucas do Rio Verde tinha bem pouca coisa. Não tinha nem as estradas aí; a gente tinha que entrar pela 338.

 

Camila:
Não tinha a 163 ainda?

 

Joci:
Não, tinha a 163, mas não tinha a 449, não tinha nada. Então a gente entrava lá pela 338. Tinha um posto policial ali no São Cristóvão e, para passar lá, você tinha que dizer onde ia, o que ia fazer e que horas voltava. Então a gente ia lá… Eu passei umas duas vezes para levar um saco de milho para um cara que morava na terra de um amigo meu — terra essa que depois acabei comprando dele — para plantar e manter a posse desse terreno de 200 hectares. Depois fui adquirir essa terra do seu Antônio Tonato, o nome do primeiro produtor do lote 70 do setor 1 ali do setor 3, linha 1.

 

De lá para cá fiquei por aqui e mudei definitivamente em março de 1981 para Lucas do Rio Verde.

 

Me lembro que a gente ia na Primaverinha — era como se fosse a capital da cidade — onde tinha um posto de gasolina e um restaurante. Já em Lucas do Rio Verde havia uma ponte de madeira sobre o Rio Verde e no tempo das chuvas tinha um exército que cuidava disso; os caminhões só passavam quando eles liberavam.

 

O supermercado daqueles dias era uma tenda de lona ali na beira do Rio Verde onde os caminhões passavam para levar verdura para Alta Floresta, Sinop, Matupá e Guarantã — tudo pela BR-163 subindo para o Pará. Ali você comprava cebola, batatinha, arroz e feijão; era o supermercado.

 

Camila:
Antes do seu Celso falar um pouquinho das raízes dele… Só voltando para 1981: não tinha nem acontecido o assentamento ainda, né?

 

Joci:
Não. Estavam chegando naqueles dias. Tinha muito poucas famílias. O INCRA estava construindo o PA aqui com o executor Ferreira; depois teve um coronel envolvido também.

 

Camila:
Acho legal lembrar porque muita gente não sabe dessa história: Lucas do Rio Verde é originário de um projeto de assentamento.

 

Joci:
Pessoas vieram lá de Nanuai e vieram se instalar aqui. Foi um dos primeiros projetos de assentamento antes mesmo de Lucas do Rio Verde; Terra Nova teve um projeto mais ao norte antes disso.

 

Lucas nasceu como uma terra muito boa… Mas vou te falar: tinha uns posseiros naquela confusão sobre quem era posseiro ou não era posseiro — disputa de terra com o INCRA… Foram muitas demandas das pessoas que passaram por essa história aí.

 

O Lira foi uma pessoa muito influente nisso; ele foi vereador em Diamantino quando Lucas do Rio Verde ainda era distrito de Diamantino. Me lembro muito bem do Lira e também do Lerdo Rusco… Tinha muita gente nessa época que hoje esquecemos: Betinho, Norivaldo… Pessoas que participaram desse crescimento inicial e desenvolvimento de Lucas.

 

Celso:

Eu, Celso, nasci em Guaporé, Rio Grande do Sul. Mas não me criei em Guaporé. O que me trouxe a Lucas foi que, em 1982, falaram do projeto de Terra Nova. Em 1982, vim trazer uma mudança de um amigo que foi morar em Terra Nova. E foi aí que despertou o interesse de ir para o Mato Grosso. Por quê? Porque, chegando lá, a gente descarregou a mudança e, na volta, não tinha outra coisa para carregar. Compramos milho na lavoura do pessoal e jogamos em cima do caminhão aquele milho na quantidade de volumes que se costumava carregar no caminhão para ter o peso certo.

 

Na volta, passando na balança, passou do peso muito. Tivemos que descarregar vários sacos para poder chegar no peso. Para ver que o milho era muito bom. Então isso chamou atenção porque a produtividade era boa.

A partir daí, começou a vir o pessoal de lá de baixo para começar a ocupação das áreas. E, junto deles, teve um primo meu e um rapaz que era meu funcionário numa ferraria. Nós tínhamos até uma ferraria lá. Ele veio para cá para trabalhar junto com o Bassani, que também era vizinho nosso lá. Nós escrevemos juntos lá.

 

Aí esse Jordani, que era meu funcionário na ferraria, voltou depois de um ano que estava aqui e me falou: “Tu quer ganhar dinheiro? Vai para lá.” Porque eu, além de ter a ferraria, tinha uma serraria e um boteco bem na frente da igreja. Mas o meu ganha-pão mesmo era o comércio que tinha lá. Aí ele falou: “Tu quer ganhar dinheiro? Tem que ir lá para o Mato Grosso, porque lá não tem nada e está crescendo.”

 

Começou a chegar gente. Daí, em 1985, eu tinha o meu guri mais velho, que era o César. No meio do ano ele estava de férias e eu falei para a Neuza, minha esposa: “Vamos lá conhecer esse Lucas então.” Porque em 1982 não existia Lucas ainda. Era um povoadinho; nem nome tinha.

 

Em 1982, quando passamos aqui, estavam abrindo a BR-163. Era buraco para todo lado, atoleiro… Chegamos até a atolar o caminhão na areia seca! Então resolvemos vir conhecer em 1985. Aí já tinha um primo morando aqui, já estava estabilizado, já tinha mais gente e a vila já estava formada. Isso chamou atenção: “Quem sabe seja um lugar bom para a gente.”

 

Meu irmão Dimmer também estava por aqui puxando frete com caminhão. E um belo dia ele me ligou e disse: “Celso, o INCRA está entregando terrenos gratuitos! Se você quiser, venha para cá pegar esses terrenos. Estão dando dois terrenos para cada um que quiser comércio; mas tem que vir e construir.”

Falei para ele: “Então vai lá e confirma que a gente vai sim.” E assim foi feito. Ganhamos quatro terrenos juntos; construímos e eu vim com a mudança no final de 1985 ou início de 1986 para morar aqui definitivamente.

 

Camila: E lá se vão 40 anos…

 

Celso: Essa foi minha história de chegada aqui. Felizmente, o então povoado foi crescendo; foi criado o plebiscito para transformar Lucas do Rio Verde em município e nós já participamos disso — criamos o município.

 

Camila:

Seu Celso, você trouxe algumas histórias lá desse início. Falou do plebiscito que criou, efetivamente, o município de Lucas do Rio Verde. O Joci também contou um pouquinho de antes ainda, quando tínhamos apenas uma vila. Em que cenário, então, se encontrava esse município? Quando foi criada a cooperativa, era um recém-criado município. Que cenário era esse que fomentou a criação de uma cooperativa?

Agora já falando lá da Credilucas.

 

 

Joci:

Olha, eu vejo que aqui era uma terra… Não vou exagerar dizendo que era uma terra sem lei, mas uma terra que foi colonizada pelo Exército e pelo INCRA. E se tinha restrições, porque, quando você faz uma cidade oriunda de assentamento, a credibilidade é muito pouca.

Primeiro que as terras eram sem documentos. O INCRA demorava um tempo para liberar e regularizar isso. Todo assentamento passa por um processo de implantação e depois de emancipação do projeto. Enquanto não emancipa o projeto, que são dez anos depois do decreto do assentamento, quem manda ali é o executor ou o INCRA. Depois desses dez anos é que o projeto passa a ser emancipado. Porque aí o projeto ganha as suas leis e regras.

Lucas do Rio Verde, eu acho, criou o município antes do INCRA concluir os dez anos. Então, Lucas foi criado em 1986. Em 1988 foi a emancipação política. Como foi em 1980 o início do assentamento, Lucas conseguiu a emancipação política antes da emancipação do projeto.

Então, Lucas do Rio Verde saiu desde o começo com um desenvolvimento diferente da média nacional, se você parar para olhar. E, com isso, nós não tínhamos aqui um banco. Não tinha nada. Eu me lembro bem que a gente ia para lá e você dava um cheque… Eu fui no hospital em 1988, em Sorriso, porque minha primeira filha nasceu. Cheguei no hospital para internar e os caras pediram o pagamento com cheque. E vou te falar: não era fácil. Não queriam aceitar. Tinha conhecido lá e tal, já tinha feito o pré-natal lá… Mas vou te falar: não era fácil, não.

Aí ficou essa história. E aí surge a Cooper Lucas, uma cooperativa que teve as suas histórias, mas foi muito importante no desenvolvimento de Lucas do Rio Verde.

Isso ninguém pode negar. Pode falar o que quiser, mas atrás da Cooper Lucas veio todo esse sucesso do desenvolvimento de um município com 240 mil hectares de lavoura — esse sucesso que tem hoje. Eu me lembro que era o único município onde eu via descarregar carretas e carretas de tratores novos para vender para os associados. O único município onde traziam 30 ou 40 mil toneladas de adubo para distribuir aos associados.

Deu estrutura, né? Deu estrutura como ninguém. O Banco do Brasil também foi muito apoiador; fez muita parte dessa história de Lucas do Rio Verde. A gente precisa ser muito justo nisso também.

E depois, pela nossa felicidade, surgiu a ideia numa reunião durante uma crise desgraçada… Foi em 1990?

 

Camila:

É… 1990 foi a fundação.

 

 

Joci:
Eu sei que a Cooper Lucas meio que organizou essa reunião junto. Fomos lá para o pavilhão da igreja. E como é que faz? Aí fomos falar sobre um banco, eles diziam, né? Depois que fomos nos educando, entendemos que era uma cooperativa. E essa tal de Crédito Lucas. Daí, no dia, decidimos: “Vamos fazer.” “Vamos.” Mas como é que faz? Ninguém tinha dinheiro nem para beijar santo, entendeu?

 

Aí foi lá. “Vamos fazer o quê? Soja verde.” Decidimos fazer as cotas em soja verde. Quem tinha mais coragem vendia mais; quem tinha menos vendia menos. E assim foi: vendia-se soja verde. Soja verde era uma prática em que, antigamente, você vendia um produto antes de plantar por um preço muito inferior ao valor real. Você vendia a soja verde para poder até fazer a lavoura às vezes. Era uma prática meio arriscada, como se fosse uma agiotagem documentada, uma promessa só. Dependia de plantar, do clima, da colheita… Era uma promessa bem arriscada também.

 

E com isso foi criada a Crédito Lucas. Eu participei não diretamente dentro, mas sempre estive muito envolvido ali. Trabalhei muito para trazer associados e participei bastante disso. Acho que minha matrícula era 003 — bem inicial mesmo.

 

Do Crédito Lucas. Então 003 eu sempre tive e foi onde nos amparou para o desenvolvimento. Arrumamos um parceiro que você precisava e, se fosse correto e certo, nunca tinha um “não”. Acho que criar essa cooperativa realmente era necessário. Não era só uma cooperativa; ela era como sócia. Porque você contava com ela e sempre contou — nunca falhou.

 

Eu acho que Lucas do Rio Verde tem histórias de desenvolvimento norteadas em vários setores da economia, pilares da economia. Mas quero dizer que a Crédito Lucas tem um diferencial: ela nos ensinou a trabalhar sério também. Porque quando você trabalha com um agente financiador, você escreve uma história com ele.

 

E essa história — se você escrever direitinho, cumprir seus compromissos na hora certa — você cria um aliado para o resto da vida. Acho que ela nos ensinou a ser corretos, a pagar no dia certo e a cumprir os compromissos. A gente trazia isso na bagagem lá do Sul, né? Mas o Mato Grosso era meio selvagem no começo; depois conseguimos nos ajustar.

 

E eu acho que o Sicredi — hoje Sicredi — representa para nós o sonho de cada um. Eu sempre disse que além da mulher que tínhamos como sócia, associamos também o Sicredi. Não tínhamos outro sócio; então meu terceiro sócio foi eu, minha mulher e o Sicredi. Acho que essa história é importante para muita gente também.

 

Camila:

Celso, fala um pouco disso. Eu acho que é legal esse ponto também que o Joci trouxe, que eram relações baseadas na confiança mesmo, né? Seu Celso, e você lá no início, né? Fez parte também da primeira diretoria, né? Como foi começar um empreendimento em que o que se tinha era basicamente a confiança das pessoas que estavam ali acreditando, colocando o seu dinheiro que ainda nem existia, né? Era uma promessa.


Celso:

 

É verdade. Ele falou promessas. Então, o começo foi assim, bastante liberal, porque, diante da necessidade de se criar alguma coisa que viesse não salvar a vida, mas beneficiar o associado, digamos. Naquele momento se falava em associado, porque não dava para liberar para todo mundo, apesar de não ser muita gente também, né? Mas como não se tinha volume para nada, criou-se provisoriamente a primeira diretoria por aclamação.

 

Depois veio a diretoria eleita através do voto. Foi aí que eu entrei como vice-presidente junto com a Jeareta e começamos a vida, digamos, mexendo com valores, né? Porque até então era uma promessa: o que vai acontecer? Vai ajudar de que forma?

 

E o bom dessa história é que, como o Gil sempre fala, foi um aprendizado. E esse aprendizado foi necessário para que a Credilucas viesse a ser algo que trouxesse benefícios ao associado. Os empréstimos na época, apesar de não ter a informática que temos hoje, eram todos feitos manualmente. O Elidi foi o primeiro gerente da cooperativa e ele tem muita história para contar. Muita história boa.

 

A partir daí veio o crescimento da cooperativa junto com o município. Foi como um casal que cresceu junto. Porque, querendo ou não, o município dependia muito da cooperativa e vice-versa. A cooperativa foi se fortalecendo junto com o fortalecimento do município. Quando o município se tornou praticamente independente — porque nunca é independente enquanto está começando — os dois ainda eram dependentes um do outro.

 

Mas foi uma forma muito rápida de acontecer esse crescimento. Não foram nem dois anos e a então Credilucas passou a ser Crediverde… Não, Ouro Verde foi depois. Cred… Não lembro mais! Foi quando ela aderiu ao Sicredi. Depois teve Sicredi Verde e então Sicredi Ouro Verde. Isso aconteceu quando houve a fusão com Nova Mutum.

 

 

Camila:

Foram as várias uniões que aconteceram ao longo dos anos, né? E por isso que agora a gente está falando sobre as nossas origens, né? Essa cooperativa Credilucas foi uma dessas cooperativas que fez parte dessa grande cooperativa que é a Ouro Verde.

 

Mas eu acho que a gente podia voltar um pouquinho lá para aquele início, porque o Joci falou um pouquinho das dificuldades. Mas qual era a principal dificuldade que fez com que se entendesse que uma cooperativa financeira seria a solução? Era o acesso ao crédito para conseguir plantar, é isso?

 

 

Joci:

O acesso ao crédito, mas Lucas Ouro Verde a criação no primeiro, no primário dela sempre foi com um espírito muito de cooperativa.

 

Tem um espírito porque eu me lembro muito bem que lá nos anos 82, 84 que teve uma copa eu acho, né? Foi 83. Vocês estão mais longe de saber. Nós, pra poder assistir televisão aqui, nós compramos um motor e uma parabólica em sociedade, em mais de 10 famílias ali. E se colocou uma torre lá no Monareto e colocou-se um motor de tubata pra tocar um gerador embaixo pra dar sinal de televisão pra um sinal que transmitia pra cidade pegar aqui que tinha lá 20, 50, 100 casas, não sei. Então, eu acho que o princípio foi aí. Aí nós resolvemos colocar um motor aí do INCRA pra tinha ali embaixo no bairro Pioneiro a gente começou, bom, formando uma cidade. Como é que vai fazer? Tem uma luz de noite aqui.

 

Tem energia, né? Aí nós fomos comprar uns postes pra colocar demorei uns 5 anos pra pagar. Nesse dia eu me achei com o dono da empresa em Coiabá e eu falei, ô, vocês daquela vez me pagaram, mas demoraram. Pagando, pagando. Então, eu acho que Lucas Verde o espírito, sabe, dos pioneiros aqui sempre foi de cooperativa. Porque ela veio lá colocar os postes. Se você tinha que fazer qualquer coisa na cidade, arrumar uma rua, eu me lembro que eu com o trator de esteira fui abrir as ruas de Lucas do Rio Verde como operador. Porque era isso que o Sr. Celso falou, né? A prefeitura, mesmo depois de ter a prefeitura, isso antes ainda, né? A subprefeitura. O primeiro subprefeito aqui foi o Anton Huber. O segundo subprefeito aqui foi o Jorge Lucino.

 

Eu me lembro que eu conto que eu fui lá em Diamantino uma vez pedir para o prefeito de Diamantino, o Sr. João Batista, que era o pai da Manuela do cartório, prefeito. E eu cheguei numa sala grande assim para, eu sou de Lucas do Rio Verde, aí, mas tinha, eu quero só contar bem rapidinho, era Lucas, Tapurá, Nova Mutum, Sapezal, Trivelato, Campo Novo, acho que só Tangará que não era, já era município. Todos eram distrito de Diamantino. Cheguei lá numa sala grande assim e eu vi que encheu aquela sala de gente, tudo sentado em roda e o prefeito sentou lá e falou bem assim o que é que você quer? O que é que você quer? E o cara falou eu quero, eu quero. Ele não respondia se ia fazer ou não ia.

 

Quando chegou na minha vez foi eu não quero nada. Não tinha o que fazer, o cara não dizia nada. Então, aqui, quando era distrito a gente penou muito porque tinha o INCRA mandado. Então, a prefeitura limpou fora disso aqui, entendeu? Tudo que se criou aqui, eu me lembro aí, associação de criador de peixe, associação de plantador de uva. Então, nós temos, olha, associação aí da Coagril para criar suíno, entendeu? Eu acho que nós temos na essência, no sangue, nós temos aí, Fundação de Saúde, eu acho que nós temos no sangue esse negócio de cooperativismo aí e eu acho que eu sempre tenho dito, mas eu acho que é por causa do bom exemplo que nós tivemos com a Fred Lucas. Porque a gente tem, entendeu? Uma coisa tão grande que deu tão certo, entendeu?

 

E eu acho que a gente meio foi norteando por aí para nós criar muita coisa que Lucas Louverde tem e até hoje eu acho que a gente norteia muito por aí e por isso que a gente tem esse respeito todo aí pela quem fez isso aí e pelas pessoas. Eu me lembro do Elidir no começo que ele tinha uns dedos dessa grossura e aquelas calculadoras de somar ele ia apertar, ele apertava com o dedo, pegava em dois, aí nunca dava certo a soma. Você chegava lá e dizia mas não deu certo também, Elidir? Mas não outras, os dedão e assim, eu chamava de mão grande. E daí você falava, Elidir, eu quero um dinheiro emprestado. Eu pegava um caderno e olhava a fila assim quando ele me falava assim, Josi, tem 20 na sua frente.

 

Eu falei, não vai dar certo, vou quebrar antes desses 20. Chegava o meu dia também fazia o negócio ali e olha, eu aprendi muito, a gente aprendeu muito porque ninguém constrói nada se você não depender de crédito e de confiança. Crédito e confiança são duas coisas que a gente não compra.

 

Celso:

Você viu que esse aprendizado surgiu justamente pela necessidade de cada um. A dificuldade de cada um é que fez com que se aprendesse a transformar. Foi transformado isso aí de pó para asfalto. Veja bem, o primeiro prefeito que teve conseguiu fazer um pedaço de asfalto na cidade. Mostrou que era possível.

 

Camila:

Você estava falando, né, seu Celso, que você acompanhou o crescimento e você achou que foi tudo muito rápido, né?

 

Celso:

Não só eu que achei, o próprio Joci pode dizer. Em lugar nenhum se houve uma rapidez tão volumosa e crescente como foi aqui.

 

Joci:

Nos últimos 22 anos temos um comparativo com Nova Motum, Sorriso e Sinop. Sinop cresceu 160%. Sorriso cresceu 230%. Mutum acho que cresceu 290%. Lucas cresceu 332% nos últimos 22 anos dado do IBGE.

 

Camila:
É muita coisa, né?

 

Joci:

Então, por isso que a gente, às vezes, não acompanha nós mesmos. O dia que eu cheguei em Lucas não tinha nenhuma casa. No primeiro dia que passei aqui, não tinha nenhuma casa. Estavam construindo umas casas do INCRA e uns barracos aqui e ali. E daí começou com a rodoviária do Machado e com o sacolão de madeira ali.

 

Entendeu? A lenda começou essa construção. A Cipal começou. Então, a Conab estava ali também. O nosso primeiro supermercado aqui foi dentro de um furgão numa carreta. Era o Alfeu, que até hoje dá cobalto. Você vendia… Nunca comi tanta bolacha Mabel e sardinha. Não posso nem ver. Para mim, parece que foi ontem, entendeu?

 

Então eu acho que nós temos muita história para contar, e tudo história bonita, né? Entendeu? Eu olho para trás, às vezes, e vejo assim… Eu sinto muito, sabe? Muitos companheiros que ficaram para trás, né? Que trabalharam, que se dedicaram, deram a sua vida pela nossa cidade e tombaram. A vida é assim, né?

 

Mas eu tenho certeza de que tem muita gente aí que merecia escrever um livro. Porque os caras que dividiram esse município de Diamantino… A disputa da divisa com Tapurah, a disputa da divisa com Mutum… Sabe? Não foi nada fácil. Tudo foi difícil. Tudo foi conquistado no limite do que podíamos fazer. Todo mundo tinha interesse; ninguém estava dormindo na praia.

 

Eu me lembro que era uma cidade sempre se destacando por uma coisa ou por outra, sabe? Muito disputada. Muita vontade de fazer acontecer, né? Muita vontade mesmo. Depois vieram os nossos políticos… E fomos agraciados, sabe? Porque você pega aí uma leva de todos os que passaram por aqui: todos com espírito público, todos querendo fazer acontecer, todos dando exemplo para o Brasil e para o Estado.

 

Isso é o que vale, entendeu? Ter orgulho de dizer que escrevemos história e estamos dando exemplo para muitas cidades por aí. Isso não tem preço. Eu participo de várias cidades aqui da região e sempre digo: Lucas não é o maior, não é o mais rico… Mas é o melhor.

 

 

Bruno:

E nós… Eu queria voltar só naquela parte do livro que o senhor comentou. O senhor Elidi até trouxe esse livro aqui no episódio da semana passada. Esse livro de registros. E eu queria entender como que era. O senhor deu o exemplo de: “Ah, tem 20 pessoas na minha frente, então até lá o que eu vou fazer, né?” Mas como era a captação desses associados?

 

Como é que eles chegavam? Como é que vocês iam até lá, conversavam com eles? A gente teve o exemplo também de uma reunião em uma árvore ali no Pioneiro, onde as pessoas se encontravam para falar sobre a cooperativa. Como foi aumentando de um em um para a gente chegar onde estamos hoje?

 

 

Joci:

Eu acho que isso aí é o seguinte: foi um trabalho sério, sabe? As pessoas que foram escolhidas eram as pessoas certas, no lugar certo, na hora certa. É credibilidade, assim, que eu sempre digo, sabe? Pessoas sérias e acreditando. A gente vivia junto, mas cada um buscava o seu espaço. Quando se criou a Credilucas, nós vimos que podíamos juntos fazer algo que beneficiasse mais pessoas.

 

E foi aí que aconteceu, onde não tinha discriminação de cor, de raça, de dinheiro, de nada, de poder. Ali todo mundo tinha o seu direito.

Mas a pergunta que ele fez foi como surgiu, como se tinha o dinheiro para deliberar. Ah, é verdade, acho que isso é uma boa resposta. Como é que tinha? Por exemplo, os comércios… As pessoas depositavam para gastar durante o mês inteiro. Durante aqueles 30 dias, um pagava, outro depositava. Eu acho que era uma rotatividade.

 

A rotatividade foi importante porque a Credilucas demorou para conseguir pegar dinheiro de outras agências ou bancos para fazer uma transição financeira e movimentar. Acho que foi isso. Toda cidade tem um economista, né? Porque economiza… E tem o gastista também! Até conseguir esse crédito aí demorou um pouco.

 

Celso:

Mas o que impulsionou mesmo foi quando o Celso ia lá pedir mil reais emprestados e tinha que ter um valor X em cotas-partes. Não era suficiente; tinha que integralizar. Então a gente sempre foi integralizando e aumentando o capital da cooperativa, fortalecendo a cooperativa. Foi assim que surgiram os primeiros valores para serem emprestados.

 

O Joci:

O Celso lembra bem: era 10 vezes 5. Tinha que ter…


Celso:

Se você desse mil, você tinha direito a 10? Não. Se você integralizasse era cinco vezes: cinco vezes o capital social, cinco vezes o saldo médio e mais cinco vezes alguma outra coisa que dava na conta. A somatória seria 15 vezes. Mas não era 15 vezes liberado; era que você tinha direito nessas 15 vezes. Algumas delas você não estava conseguindo cumprir.

 

Nem sempre se conseguia ter acesso a todas as vezes. Um direito de empréstimo talvez fosse até 10 vezes ou até cinco vezes. Mas era a maneira que se emprestava o dinheiro na época. E, como ele falou, o Celso tomava o empréstimo para 30 dias, nos 30 dias ele pagava e já ia para outro. Mas daí já não era mais aqueles mil reais, era mil e cem, mil e vinte, mil e cinquenta que tinha disponível. E assim foi crescendo.

 

 

Joci:

E a vantagem de todos que estavam na lista era que, dentro do seu direito, levavam. Porque acreditavam naquele negócio coletivo. Não tinha política, sabe? Era confiança e tal. Acho que foi isso que sustentou tudo. Porque, olha, aquelas crises… A gente falava em crise e tal, mas dentro da nossa capacidade, da nossa condição e do crédito da Credilucas, todo mundo tinha direito.

 

Celso:

O primeiro computador era o Ney. Conseguia trabalhar no computador, mas pra que foi? Só pra jogar lá pra dentro os associados, o número de associados e alguma coisa que acontecia. Mas nada operacional, nada. Tudo manual.

 

Camila:

Onde era esse primeiro espaço?

 

Joci:

Foi ali na frente do pavilhão da igreja, onde foi fundada a cooperativa dentro da igreja. Só virou na rua ali, era ali. Era ali. Ali o cara já ia na pista e depois saia pegadinho encostado.

 

Celso:

Depois daí subiu lá pra avenida Mato Grosso. Avenida, isso. E ali na avenida começou o crescimento. Que foi ali que eu saí da diretoria própria da cooperativa pra dar espaço pro César trabalhar.

 

Camila:

O senhor transmitiu esse legado, né, seu Celso, pro seu filho?

 

Celso:

Eu, como alguém da diretoria, não podia ter um filho com um trabalho de confiança, né? E o Elidir queria dar um trabalho de confiança para ele. Ele certamente confiava nele, né? Daí ele me falou: “Celso, o que tu acha melhor? Você continuar na diretoria ou dar espaço para o César?” Eu disse: “Não, dá espaço para o César. A minha vida está feita, eu não dependo desse trabalho. Ele vai depender disso aí.”

 

Então eu saí da diretoria, mas não saí da cooperativa. Aí, como eu saí da executiva, fui para a suplência e continuei. Depois, dando lugar para outros, fiquei na coordenação de núcleos e até hoje. A gente se pontifica, né? Mas foi assim.

 

Foi ali que começou o desenvolvimento mais rápido porque daí entrou a internet. E aí sim, equipou a cooperativa com aquele arsenal de máquinas, com muita gente trabalhando. E aquele valor de cota capital cresceu muito rápido para a cooperativa.

 

Camila:

E, ao longo dos anos, também teve a livre admissão, que daí começou a ampliar pra mais pessoas. Pra empresas, né?

 

Celso:

Na distribuição de rendas, a gente sempre tomava o processo de, ao invés de eu usar o dinheiro da distribuição, de levar embora, reinvestir. Deixava ali dentro, né? Então, foi fortalecendo. Até que a cooperativa teve condições de ser aceita pelo Banco Central. Como isso tem mais dinheiro, mais força, mas até ali foi penoso.

 

Camila:

E quando vocês olham, né? O que se tornou o município que vocês viram nascer, né? E a cooperativa que vocês ajudaram a fundar. Conseguiu imaginar que chegariam ao que é hoje, ao que vocês veem hoje, esse tamanho, essa potência que é essa cooperativa na nossa região?

 

Joci:

Eu, como vim do Paraná com 23 anos, sabe? A gente passou muito pouco tempo lá olhando o desenvolvimento das regiões. Mas, se nós olharmos lá, quando eu tinha 23 anos, o município de onde a gente veio estava totalmente igual ao que era quando foi criado, né? O crescimento era de zero, alguma coisa, 1% ao ano.

 

Aí você vem para cá, traz aquela bagagem, mas imaginar que isso ia ser o que é hoje… Podem dizer o que quiserem aí, mas naquela época nós estávamos lutando para sobreviver e para ser mais um. Então não adianta. Ninguém sonhava. Podem dizer o que quiserem, sabe? Ninguém sonhava.

 

Eu vim de Sapezal. A primeira vez que plantei arroz foi em Sapezal, que hoje é a capital dos ricos lá e tal, né? E vou te falar: Lucas era o patinho feio da região. Porque Sorriso… Quem tinha dinheiro foi morar em Sorriso; foi comprar terra documentada. Quem vinha para Lucas era porque queria um negócio mais barato, um negócio que resolveríamos depois.

 

Mas aqui… Eu confesso que não imaginava esse tamanho que Lucas tem hoje com essa qualidade toda. Porque conheço Tangará, conheço Diamantino — uma cidade de onde a gente veio — e os órgãos competentes do estado eram… Eu me lembro que Rosário e Diamantino eram as duas referências no norte, mais do que Sinop.

 

Sim, porque Sinop ainda estava em construção, né? Estava em construção. Depois saiu agroquímica lá; depois inauguraram. Foi depois que passou a BR-163. Então aí começou a se destacar bastante porque teve os três ciclos: o ciclo da madeira; depois o ciclo da pecuária; Alta Floresta teve o ciclo da madeira; depois o garimpo; depois a pecuária; depois foi para a agricultura.

 

Esses três ciclos demoraram… E Lucas não. Lucas entrou em um ciclo só porque não teve pecuária; foi direto para lavoura. Então aí está uma diferença, sabe? E eu acho que nós atropelamos e fizemos mais rápido que os outros porque não fomos tirar madeira — não tinha madeira — nem fomos para pecuária porque não tinha terra para pecuária; era um solo muito pobre e tinha que colocar para tirar.

 

Então eu acho que aí é uma conta que às vezes as pessoas não fazem, sabe? Por que fomos tão rápidos? Por que implementamos a tecnologia tão rápido aqui? Nós não tínhamos outro caminho.

 

Eu desconfio disso. Quando você volta atrás e começa a olhar: por quê? Como? E como foi? Porque Sinop, Alta Floresta — todas cidades muito maiores — nós alcançamos.

 

Camila:

E se a gente pensar assim, o papel também da Credilucas e, depois, do Sicredi… Como foi esse processo? Tem uma história que, inclusive, o seu Elidir comentou no nosso último episódio, que foi quando teve o processo de agroindustrialização de Lucas do Rio Verde. A cooperativa também teve um papel determinante para aquilo acontecer.

 

Ao longo dos anos, que exemplos vocês enxergam de que, olha, a cooperativa estava ali junto para esse desenvolvimento todo acontecer?

 

Joci:

Eu achei que nós não íamos entrar nesse assunto. Sério mesmo. Porque vai ter outro, dos 35 episódios aí, entendeu? Se nós entrarmos nesse assunto agora, ficamos dois dias aqui. Porque eu sempre digo: no desenvolvimento de Lucas do Rio Verde não tem nada que o Sicredi e a Credilucas não participaram e não foram quem alavancaram tudo isso.

 

Vamos voltar no hospital de Lucas. Não vamos falar nas empresas. Vamos falar nos colégios. Vamos falar na primeira escola que teve. Vamos falar nas igrejas que foram construídas. Eu conheço, porque participei de todos esses processos. Nada aqui foi feito sem a mão do Sicredi. Nada foi feito.

Podem me dizer o que quiserem. Podem falar, discutir… Duvido! E tem ajudado muito essas empresas. Não estou falando das empresas; vamos ficar quietos. Estou falando de todo mundo. Estou falando das instituições, das coisas que organizam e fazem a cidade, entendeu? Isso que eu quero falar.

 

Agora, em comércio, não se fala. Nós temos hoje mais de 13 mil empresas aqui no município — 13 mil! Não sei se vocês sabem disso… 13 mil empresas! É muita empresa. Se eu for nominar aqui, 90%, 80%, não sei… Mas o Sicredi tem participação nesse crescimento acelerado.

 

Por quê? Porque não foi um Sicredi fechado; não tem dono. Foi um Sicredi que acolheu a todos — ou tem muitos donos, né? Tem assim… Monopólio? Não existe! Porque você pode ver: os outros bancos — não quero falar mal aqui — mas existem monopólios, existem preferências.

 

Aqui não tem preferência. Aqui é direito. É capacidade de cada um.

 

Camila:

Eu queria que vocês resgatassem na memória uma dessas histórias que marcou vocês, que vocês viram que foi um momento de união ali, que a cooperativa estava junto e que fez a diferença.

 

Joci

Eu tenho registrado, sabe, momentos assim, porque a gente participou muito da vida social de Lucas do Rio Verde. Mas eu acho que me lembro quando estávamos no hospital com dívidas de médico, com dívidas de folha de pagamento, entendeu? Na Fundação Rio Verde, folha de pagamento atrasada, sem dinheiro para comprar remédio.

 

Chegamos lá no Sicredi e ele só pediu: “Quem é que vai avalizar?” Não foi preciso. Isso não tem preço, isso não tem valor, sabe? E depois, chegar na hora de pagar… A instituição segura, reforma, dá um pouco. Isso é o que vale, entendeu?

 

Alguém que tinha a finalidade de ganhar dinheiro mudou a finalidade. A finalidade era contribuir, resolver o problema, ajudar. Entendeu? Isso que veio. É o retorno que dá.

 

Você pega aí… Não acontece nada na cidade onde o Sicredi não esteja envolvido. Pode ser festa, pode ser organização, palestra… O que você fizer! Olha na Fundação, olha em qualquer lugar aí. Eu sou o legítimo pedidor da cidade. Mas você chega lá, discute e, pelo bem da cidade, pelo bem da sociedade, você conquista, você consegue.

 

Bruno:

Nós temos, seu Celso, vou começar com o senhor agora, pra gente falar dessa importância. A gente fala tanto sobre essas histórias, tantas histórias… Como o senhor mesmo disse, talvez a gente precisasse até de dois dias aqui pra falar de tudo isso, se fosse pra falar.

 

Mas o ideal agora, também, nesse momento, é pensar no nosso futuro enquanto cooperativa, enquanto Sicredi. Eu acho que nós temos 35 anos de história e temos 70 anos pela frente. Nós gostaríamos muito de ver a perspectiva que vocês têm sobre isso. O que mais nós podemos contribuir ainda? Até onde nós podemos chegar?

 

Celso:

Olha, isso aí depende muito das pessoas que conduzem a cooperativa. Porque você, como associado, pede e cobra.

 

Agora, quem está à frente conduzindo é quem norteia o teu pedido, a tua cobrança. Se essa pessoa acha que você está certo, colabora contigo e o que você está pedindo é algo que possa ser pelo bem do futuro, a coisa anda, cresce. Agora, se eu, que estou aqui na retaguarda comandando isso, não aceito a tua ideia, o teu pedido, a tua crítica, isso para.

 

Então eu vejo que até hoje nós, falando em administração, só tivemos administrações boas — tanto dentro da cooperativa quanto no município. E o município é uma referência. O município trocou vários comandantes, enquanto a cooperativa teve sempre um primeiro até agora. Foi muito bem e não tenho o que reclamar.

 

Mas o município não. Foram várias pessoas e todas elas fizeram com que o município viesse crescendo. Assim deve ser na cooperativa. A pessoa que vai assumir a ponta… Se ela se propõe a trabalhar usando a experiência que já aconteceu, o futuro é grandioso. Não tenho o que reclamar; não tenho o que desconfiar.

 

Eu creio que tem tudo para acompanhar a evolução do município e da região. Porque hoje nós temos a cooperativa como a segunda entidade que ajuda a agricultura. É o maior empréstimo que tem no município; o Sicredi é o segundo maior em volume de empréstimos. Veja bem o tamanho disso e a responsabilidade de quem está conduzindo. É muito dinheiro envolvido.

 

Então, se você vai analisar nesse ponto, deve ter um crescimento fabuloso daqui para frente. Porque cada ano que passa se torna maior — o volume se torna maior; o crédito ou descrédito se torna maior.

 

E eu vejo que o futuro é bem promissor.

 

Joci:

Olha, eu vejo que nós temos novidades todos os dias. De inovação, de tecnologia. Mas a gente tem que voltar um pouquinho para trás. Nós queremos que a nossa cooperativa continue sendo e tendo aquele conceito de olho no olho, de confiança, de respeito. E que esse legado que as pessoas construíram até aqui seja deixado para as próximas gerações. Respeito. Respeito com a entidade. Respeito com os associados, entendeu?

 

Porque a tecnologia, eu acho que nós não temos como medir até onde ela vai. Ela vai avançar. Esses dias já tem inteligência artificial. Então, acho que isso é automático. Mas nós não podemos perder a essência de como foi criado esse crédito, para as pessoas que foram criadas e para as pessoas que criaram essa grande obra aí.

 

Eu acho que isso tem que ficar, esse legado, sabe? As pessoas que estão crescendo hoje… A gente já não está mais operando, entendeu? Profissionalizou tudo, virou tudo empresa. Então eu acho que esse legado seria bom que se mantivesse sempre. As pessoas aí que apanharam, passaram de pai para filho. E fica aí.

 

Eu acho que o desenvolvimento de Lucas passa bastante pelo Sicredi. Eu vou discordar um pouco quando tu fala que é o segundo; eu falo que é o primeiro. Porque pode financiar os que mais precisam e os que fazem acontecer aqui no município. O governo financia no Sicredi.

 

Pode ser que os maiorais, como dizia um padre, financiem em outro lugar. Mas aí já é questão do que não fica na cidade. As pessoas que moram e ficam aqui… Eu acredito que elas têm uma participação de 90% no nosso Sicredi.

 

Então, a minha mensagem é: nós precisamos manter esse olho no olho, esse legado.

 

Celso:

Exatamente isso aí que faz com que a cooperativa cresça mais rápido. Porque não fechou as portas quando houve a Covid. A cooperativa só teve uns dias em que o governo obrigou, mas sempre atendeu. Enquanto os bancos, até hoje, têm restrições para entrar. O Banco do Brasil, por exemplo, para você entrar lá, tem que pedir licença; senão, não entra.

O Sicredi, você entra a qualquer momento, desde que seja horário — inclusive até fora de horário, se tiver uma necessidade. Então, esse olho no olho que ele fala é fundamental. Porque nada melhor do que a gente conversar para resolver um problema.

 

Só que, às vezes, falta alguma coisa. É mais fácil falar “não”, não é? Bem mais fácil. E também dizer “sim”. Bem mais fácil.

 

Joci:

Mas eu acho que os dois lados, as pessoas também têm esse respeito que o Sicredi tem com as pessoas. É fundamental. Isso tem que ser mão dupla, senão não vai funcionar.

 

E nós temos hoje muitas coisas que precisam ser mudadas, porque se criaram muitas leis. Aí sabe, você pensa que está exercendo o seu direito. Direitos e deveres. Será que o meu direito não vai prejudicar alguém? Então, a gente precisa olhar sobre o direito e o dever também.

 

Camila:

Vamos encerrando a nossa conversa, então. E aí o Joci começou a falar sobre o legado. Eu só queria, então, que a gente fechasse dessa forma.

 

Queria começar com o seu Celso, falando de qual é o principal legado que o senhor acha que deixa para essas gerações que vêm, sendo, então, uma pessoa que participou lá do início da construção dessa cooperativa. E depois, na sequência, a gente passa para o Joci também, falando de qual é o seu principal legado que você acredita que você deixa para as pessoas nessa construção desse empreendimento.

 

Celso:

O principal legado é, como você falou até agora, a confiança entre as pessoas, junto com o pé firme de quem administra. Eu acho que esse é o melhor legado que tem. Quando você consegue se espelhar em alguém e acreditar nesse alguém. Porque como é que você vai confiar em alguma coisa se não consegue acreditar? Como associado, também tem que acreditar em alguém. Não só alguém acreditar no associado.

 

Mas acho que o legado é esse aí. Quem esteve na direção até hoje deixou uma experiência bastante visível, mostrando que se pode trabalhar muito na confiança, apesar de ser tudo sacramentado. Mas a confiança é fundamental. Não adianta. Mesmo que você conheça todos na cooperativa, o associado é uma família dentro da cooperativa.

 

Eu posso não conhecer o Joci porque estamos fora, no caso. Mas o Josi com a cooperativa, o César com a cooperativa, o Pedro, o Paulo… É uma família. Quem está aqui dentro conhece cada um dos seus associados. Esse é o legado que eu vejo para os novos se espelharem. Não só os novos associados, mas também os novos comandantes, diretores — quem estiver à frente. Principalmente eles.

 

Porque eu não tenho visto falhas que desmereçam o trabalho desses que estão conduzindo hoje. Eu vejo assim. Posso até estar enganado, mas creio que não.

 

Camila:

Obrigada, seu Celso!

 

Joci:

Bom, eu acho que em legado e em lucro nós temos muitos exemplos. Acredito que quando você tem um legado como nós temos aqui — e conversamos até agora sobre administração pública e espírito público — a Sicredi não deixa de ser um espírito público. Não deixa de ser um legado de um espírito público, de alguém que faz pensando na comunidade e em todos.

 

E eu acho que essa é a maior força que tem. Ninguém é nada sozinho. O que nós construímos juntos… Tenho certeza de que esse legado de respeito com os outros, respeito com o dinheiro público e respeito com os associados é essencial.

 

Tenho certeza de que, se conseguirmos passar isso para as gerações futuras, estaremos bem encaminhados. E acredito também que o passado de Lucas — a história que Lucas escreveu — já é um legado para todos nós. Sabe?

 

A gente já está quase na descida da vida, mas tenho certeza de que está bem encaminhado aí. É um exemplo dado ao Brasil; é um exemplo dado para o estado e para muitas cidades.

 

Camila:

Com certeza vocês deixaram um legado importantíssimo para a história da nossa cooperativa! A gente agradece muito, seu Celso e Joci, por dedicarem esse tempo para contar algumas dessas histórias e inspirar as pessoas que estão nos assistindo e nos ouvindo.

 

E com essas histórias inspiradoras de espírito coletivo e de fazer juntos, encerramos o segundo episódio do nosso podcast Raízes Ouro Verde. Né, Bruno? Já estamos encerrando o segundo episódio, mas tem muita coisa pela frente! Muita história ainda!

 

Bruno:

A gente está percebendo que só no segundo episódio já conseguimos tantas histórias… Então imagina o que vem ainda pela frente! Vem muita coisa boa por aí.

 

Camila?

E como é que a gente acompanha esses episódios?

 

Bruno:
Bom, nós temos o nosso canal no YouTube, nosso Spotify e também o site oficial dos 35 anos da Sicredi Ouro Verde: www.sicrediouroverde35anos.com.br

 

Por lá estão todas as informações sobre esse ano de comemoração aqui em 2025 e todos os episódios disponíveis nas plataformas digitais para você associado — ou até mesmo quem ainda não é associado — poder ver e rever sempre onde quiser. E claro, compartilhar muitos vídeos sobre essa história da nossa cooperativa.

 

Camila:

Então esperamos vocês nos próximos episódios! Até lá!

 

Bruno:

Até a próxima semana!

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