Sicredi Ouro Verde MT

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Raízes Ouro Verde | Ep. 01
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Raízes Ouro Verde | Ep. 01

ELIDIR PEDRO TECCHIO e GILBERTO CANEPELLE (BETO)

No primeiro episódio do podcast Raízes Ouro Verde, somos apresentados à história inspiradora da cooperativa Sicredi Ouro Verde MT. Este episódio conta com a participação especial de Eledir Techio, Presidente do Conselho de Administração, e Gilberto Caneppele, Vice-presidente do Conselho de Administração.

Durante a conversa, eles comentam o impacto positivo da cooperativa no desenvolvimento das cidades onde a Ouro Verde atua, e compartilham suas visões sobre o futuro da cooperativa nos próximos 35 anos.

Você já ouviu falar sobre a Sicredi Ouro Verde antes? Conheça mais sobre a história da cooperativa, através do podcast Raízes Ouro Verde.

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Raízes Ouro Verde | Ep. 01
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EPISÓDIO 1

ELIDIR PEDRO TECCHIO e GILBERTO CANEPELLE (BETO)

Camila Carpenedo: Olá, seja muito bem-vinda, muito bem-vindo ao nosso podcast Raízes Ouro Verde. Esse é o nosso podcast que comemora os 35 anos da cooperativa Sicredi Ouro Verde MT. Eu sou Camila Carpenedo Carpenedo, faço parte do time de comunicação, marketing e estratégia aqui da nossa cooperativa e vou estar com vocês ao longo dessa temporada. E estou acompanhada aqui do Bruno, que também vai estar com a gente neste podcast. Bruno?

Bruno Motta: É isso mesmo. Bem-vindos todos que estão nos acompanhando nesse dia especial, no nosso primeiro episódio. Eu sou o Bruno Motta, também faço parte do time de comunicação e marketing da cooperativa Sicredi Ouro Verde e, claro, muito feliz em estar com vocês nesse projeto. 

Camila Carpenedo: Esse ano de 2025 é um ano muito especial para nós na cooperativa, é o ano em que celebramos os 35 anos da Sicredi Ouro Verde MT. E por meio desse projeto do Raízes Ouro Verde, vamos celebrar não só esse momento tão importante para a história da cooperativa, mas também as pessoas que construíram essa história ao longo desses 35 anos, né Bruno?

Bruno Motta: Isso aí! Olha, começando hoje, nós temos 35 semanas, 35 histórias e 35 episódios nesse ano de 2025 para os nossos associados acompanharem histórias inspiradoras e depoimentos de pessoas que vivem o cooperativismo na prática. E claro, contando histórias, que é o melhor jeito de fazer isso.

Camila Carpenedo: Com certeza! O melhor jeito de contar a história da Sicredi Ouro Verde é receber pessoas que possam compartilhar boas histórias conosco. E hoje recebemos duas figuras muito importantes para a história da cooperativa, pessoas que estão conosco desde o dia 1 da fundação da Sicredi Ouro Verde MT. Quem são elas? 

Bruno Motta: Pois é, pessoas especiais e importantes para a nossa cooperativa. Estamos recebendo o presidente do conselho de administração da Sicredi Ouro Verde, Elidir Pedro Tecchio, e também o vice-presidente Gilberto Caneppelle. Ambos são associados fundadores da nossa cooperativa e vão trazer histórias desde os anos 1990: como tudo começou e como chegamos até hoje. 

Camila Carpenedo: Sejam muito bem-vindos, Beto (se me permite chamá-lo assim) e Elidir, ao nosso podcast Raízes Ouro Verde.

Elidir Pedro Tecchio: Olá Bruno, olá Camila Carpenedo! Olá Beto! Todos temos que chamá-lo assim porque Gilberto poucos conhecem (risos). Quero dizer da nossa alegria de estarmos aqui iniciando este primeiro podcast para falar um pouquinho da história da nossa cooperativa. É importante que as pessoas conheçam essa trajetória que trouxe a cooperativa até hoje. Obrigado por essa oportunidade.

Gilberto Caneppelle (Beto): Ok! Bruno e Camila Carpenedo… Gilberto, mais conhecido como Beto. Depois de tanto tempo, até o sobrenome muda! É um orgulho para nós isso. Estamos aqui hoje para compartilhar com vocês e com todos os que participaram dessa jornada até aqui e celebrar juntos esses 35 anos da nossa cooperativa.

Camila Carpenedo: Obrigada, Beto! Antes de ser o “Beto do Sicredi” e antes de ser o “Elidir do Sicredi”, quem era o Elidir que veio ao Mato Grosso muito antes da fundação dessas cooperativas? E o Beto que também chegou a Mato Grosso muitos anos antes de pensar em formar uma cooperativa. Conta um pouquinho pra gente e pra quem tá assistindo. 

Elidir Pedro Tecchio:  Bom, primeiramente, dizer que eu vim para o Mato Grosso em 1983, um jovem ainda, recém-saído da escola agrícola, terminado o técnico em agropecuária. Meu pai falou: “Ó, fui conhecer o Mato Grosso”, e ele voltou. Na época, ele disse o seguinte: ele não falou: “Ó, você quer ir para o Mato Grosso?”. Ele falou: “Nós vamos para o Mato Grosso”. Nós vamos para o Mato Grosso porque aí ele começou a contar a história de como era aqui no Mato Grosso, e as pessoas não acreditaram nisso. E aí eu vim conhecer aqui. Na época, eu vim conhecer no início de 1983 e, quando cheguei de volta… Cheguei para a minha esposa. Cheguei para a minha esposa, que eu namorava na época, e falei: “Ó, vamos casar porque nós vamos morar no Mato Grosso”. Foi uma surpresa, né? Naquela época, casar… isso naquela época era casar mesmo, né? Quando se decidia de última hora, porque tinham outras coisas envolvidas. Mas não era isso; era vir para o Mato Grosso mesmo. Nós, então, por influência do meu pai — que sempre tinha essa visão de empreendedor, de buscar coisas novas — decidimos vir. A gente morava lá no Rio Grande do Sul, no município de Liberato Salzano, um município pequeno. Sempre fomos pequenos produtores. Sempre agricultura familiar. O pai falou: “Ó, vamos embora; vamos buscar novas alternativas”.

Chegamos de volta. Então eu casei — para você ter uma noção — casei no dia 25 de junho. E no dia 19 de julho eu já estava no Mato Grosso com três malas: uma de roupas, uma com roupa de cama e outra com panelas. A gente chegou aqui no Mato Grosso e se instalou aqui. Eu morei praticamente um ano em Sorriso. E logo em seguida eu vim conhecer Lucas do Rio Verde por meio de conhecidos nossos de lá. Eu vim conhecer aqui; a gente já adquiriu uma área aqui em 1984. Eu já estava morando aqui em Lucas do Rio Verde.

E a minha primeira casa… na verdade, o meu primeiro barraco foi um barraco de lona. Em seguida eu construí uma casa e morei vários meses sem porta, sem janela e sem roupa de cama. E foi assim que nós construímos; foi assim que a gente veio para o Mato Grosso.

Não me arrependo dessa história que eu construí aqui. 

Carpenedo Carpenedo: Não foi diferente lá em Mutum, né, Beto?

Gilberto Caneppelle (Beto): É, com certeza. Eu, eu mesmo. Eu também sou técnico agrícola formado, mas eu tive… nós viemos para o Mato Grosso em 79, um pouco antes do Elidir aí. A BR aqui ainda era toda de chão. Não existia um… a Mutum era um projeto de cidade e Lucas do Rio Verde ainda não existia. Era só passagem, tinha um acampamento do 9º BEC, que era o batalhão que construiu a rodovia aqui, estrada de chão. Então a gente veio também, né? Por visão, graças a Deus, né? A visão do… sou de… eu sou natural de Santa Catarina, interior de Chapecó. Na minha identidade é Chapecó, mas a gente sempre… eu nasci no que depois emancipou uma cidade chamada Águas de Chapecó, a 40 quilômetros de Chapecó e tal.

Pequenos produtores rurais. Então a gente veio para cá pela visão do meu pai, de expandir. Famílias grandes. Eu era o mais novo de casa também. Já junto com mais familiares meus, a gente veio para a região de Nova Mutum aí. Meu pai sempre tinha essa visão e a gente veio, né? Então depois eu tive também a oportunidade, ao longo do tempo, de fazer agronomia em Cuiabá também, na faculdade. Então foi melhor assim para a necessidade. Mas a gente não tinha uma visão do que seria o Mato Grosso. Não tinha a tecnologia que tem hoje. Já vamos lá… nós viemos. Não tinha ainda no nosso radar em 79; não tinha soja ainda, né? Não se tinha essa cultura que tanta riqueza trouxe para o Estado aqui.

Mas nós não tínhamos. Não tínhamos ainda a certeza de que poderíamos produzir aqui, né? Então foi esse o caminho também, né? De praticamente… eu acho que todos os pioneiros daquela época mais ou menos tiveram um motivo semelhante a isso.

Bruno Motta: Foram histórias, Beto, essa decisão de mudança, tanto do seu Elidir quanto do senhor, de vir ao Mato Grosso, conhecer o Mato Grosso, conhecer a região, ajudar no desenvolvimento, que fez tudo acontecer. Só que, para a gente chegar nesse “tudo acontecer”, vamos fazer uma viagem no tempo e voltar lá para fevereiro de 1990. Quando foi fundada, né? Quando foram fundadas, melhor dizendo, as cooperativas Acred Lucas, aqui em Lucas do Rio Verde, e Acred Mutum, lá no município de Nova Mutum. Como que foi?

O que vocês, o que os outros também fundadores estavam imaginando? O que tinham como expectativa e como perspectiva naquela época com a fundação dessas duas cooperativas? O que vocês esperavam que iria acontecer?  

Elidir Pedro Tecchio:  Bom, primeiramente dizer que a situação aqui, só para você ter uma noção: Lucas do Rio Verde, para se ter uma instituição financeira, nós tínhamos que ir até Diamantino. Já no caso de Nova Mutum, era Rosário Oeste, né, Beto? Então, nesse processo todo, quando surgiu a ideia de criar uma cooperativa de crédito, foi um idealizador chamado Rock Schmidt, que veio na época e começou a falar sobre esse modelo de cooperativismo. Ele ia nas comunidades, fazia reuniões e falava dos benefícios de ter uma cooperativa de crédito. E foi aí que ele começou a divulgar esse modelo de cooperativismo.

No caso aqui em Lucas do Rio Verde, os pioneiros do município, mais vinculados à diretoria da época da Cooperlucas, reuniram um grupo de produtores e fizeram uma reunião. Convidaram as pessoas para tentar criar a cooperativa de crédito. Na época, falava-se principalmente assim: “Ah, qual o benefício de criar uma cooperativa de crédito? Ah, nós vamos movimentar o nosso próprio recurso; vamos emprestar o nosso próprio recurso; mas também podemos pegar repasses de outras instituições e fazer.” Isso não existia aqui na época. Na verdade, era uma necessidade. E foi dessa ideia que nasceu a semente.

Logo em seguida chegou a hora de criar a cooperativa. Mas como criar uma cooperativa se não tínhamos recursos? Naquela época — para quem lembra um pouco da história — 1988 e 1989 foram anos marcados por grandes crises na região. Essa crise se prolongou para nós. Aqui era uma fronteira agrícola com todas as dificuldades possíveis. E criar uma cooperativa de crédito… O primeiro produto de uma cooperativa de crédito é o financeiro: é o recurso. Como se cria uma cooperativa de crédito se você tinha que, na verdade, colocar capital social na cooperativa?

Foi aí que surgiu a ideia na época — sempre tem criatividade — de vender produtos futuros: vender soja futura, que chamávamos na época de “soja verde”. E assim foi feito através da própria Cooperlucas, que mobilizou esse processo como um todo. Na época, vendemos soja verde. Mas cada um tinha pouca condição; as pessoas prometiam integralizar 10 sacas, 20 sacas de soja — o que era um valor insignificante.

E aí iniciamos esse processo. Mas antes disso, quando foi tomada a decisão de criar a cooperativa de crédito, precisávamos dos sócios fundadores para ter essa iniciativa. Esses sócios fundadores colocavam um valor simbólico — algo hoje aproximado entre R$100 e R$200 — porque era o valor mínimo necessário para ir ao Banco Central.

Isso foi lá em fevereiro de 1990. Eu participei da comissão desse grupo de 28 fundadores. Quando integralizamos o capital e mandamos para o Banco Central, veio o Plano Collor na época — o Brasil Novo — e nesse processo o BNCC (Banco Nacional de Crédito Cooperativo) foi extinto. Entrou então o Banco do Brasil no lugar. Isso gerou um período em que o governo demorou para autorizar a abertura das portas das cooperativas.

Nós só conseguimos abrir as portas das cooperativas em outubro de 1990. De fevereiro até outubro ficou tudo parado porque não sabíamos com quem seriam feitas as compensações bancárias. Foi então que iniciamos o processo das reuniões e retomamos os trabalhos. Para iniciar o processo efetivamente, vendemos soja verde com uma defasagem de 50% do preço para poder dar o pontapé inicial — no caso da Cooperlucas.

E aí o Beto pode falar um pouquinho melhor sobre como aconteceu lá em Nova Mutum.

Gilberto Caneppelle: Então, como toda cooperativa, ela sempre surge, como o Elidir mesmo falou, de uma necessidade, principalmente cooperativas de crédito, de uma necessidade financeira. Nós passávamos — os produtores rurais da região passavam — por crises, né? Dificuldades, distância do banco.

O Banco do Brasil, não que ele não quisesse nos atender à altura, mas ele também não podia, porque era um banco estatal e tinha suas limitações. Nós, produtores aqui… nós morávamos no Centro-Oeste. E o Centro-Oeste tinha uma particularidade na época: ele era longe de tudo, né? Então, para qualquer lado que você fosse levar seu produto, ficava longe. O produto não tinha alto valor e o frete era caro. Então, a rentabilidade e a viabilidade econômica de produzir aqui dificultavam um pouco. Mas aí veio a ideia da cooperativa de crédito.

Eu, particularmente — e acredito que praticamente todos os envolvidos lá em Nova Mutum — não tínhamos muito conhecimento sobre o que era uma cooperativa de crédito. Talvez a exceção fosse o Alcindo Geri, que foi o presidente. Ele já tinha um conhecimento sobre cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul, onde esse processo já estava bem adiantado. Mas nós não tínhamos essa noção. Foi então que nos disseram: “Olha, tem uma cooperativa em Juscimeira”.

Daí fomos eu, o seu Alcindo e o Menoli — que fazíamos parte da primeira diretoria — até lá para ver como funcionava essa cooperativa em Juscimeira. E vimos que poderia funcionar aqui também. A história foi mais ou menos assim: aportar recursos. Como o Elidir já falou, alguns tinham recurso; outros não tinham. Alguns pecuaristas colocavam dinheiro da venda de gado; vendiam um animal por menos para ajudar. Mas o que mais impulsionou na época — e eu sempre lembro disso quando penso no que nos trouxe até aqui hoje — foi a fibra de estarmos lá e a esperança de que sairíamos daquela situação.

Então, a cooperativa… eu acho assim: ela não veio para resolver todos os problemas; ela foi alguém que deu um ânimo para a gente poder dizer: “Não, vamos ficar com ela”. E também não foi da noite para o dia que ela começou a resolver nossos problemas. Mas ela estava ali e todo mundo ficava em volta dela: os produtores rurais.

Ali também surgiram outras iniciativas. Por exemplo, no início era a Cred Mutum. Eu lembro que por ter a Cred Mutum, ela fomentou uniões de produtores rurais para outras iniciativas ao longo desses primeiros anos dos anos 90. 

Camila Carpenedo: Voltando um pouquinho, então, né, nessa história, você, Beto, chegou aí em 79. O Elidir, em 83. Pouco tempo depois — 10 anos, ou um pouco menos — foram criadas essas cooperativas. Mas o que eram essas cidades, né? Se o Beto falou que quando passou por aqui Lucas do Rio Verde ainda nem existia, né? O que eram essas cidades em 1990, quando essa cooperativa foi fundada? Quando essas cooperativas foram fundadas? Eram cidades em formação, né? 

Elidir Pedro Tecchio: É, exatamente. Na verdade, aqui, a gente chamava de cidade, mas era uma vila, né? Em 1990, Lucas do Rio Verde era recente, tinha sido emancipada em 1989, 90, né? Então, era uma cidade muito pequena. Nós tínhamos aqui em torno de 3 mil a 4 mil habitantes, no máximo, né? Então, as dificuldades eram grandes, principalmente comerciais. Tudo aqui precisava ser feito, tudo precisava ser construído. E aí eu lembro muito que a gente começou iniciando os processos, por exemplo, da energia elétrica e dos processos coletivos. A gente tinha um motor, tinha associação comercial que ajudava. Nós criamos a associação comercial. 

Tinha também a questão da união pelos telefones, porque não tinha; só havia um posto telefônico. Então eram cidades pequenas ainda nesse processo inicial.

Então, nesse processo como um todo, quando surge a cooperativa de crédito, surge também uma esperança. De algo novo… E por quê? Primeiro para começar, dar o pontapé inicial nos processos de ajudar um ao outro. Porque, de novo: não havia crédito. E uma comunidade sem crédito não se desenvolve. Foi aí que surgiram as iniciativas. Logo nesse processo também — mais ou menos nessa época — abriu uma agência aqui do BEMAT e depois veio um postinho do Banco do Brasil. Isso tudo foi ajudando nesse processo. E aí deu-se o pontapé inicial da criação da cooperativa.

Nesse processo em que as pessoas enxergavam e ouviam uma esperança, foi aí que começaram a se unir. Afinal de contas, nossa região toda é muito parecida: nos momentos de maior dificuldade é quando as pessoas mais se unem. E foi aí que todas as iniciativas — seja na igreja, no esporte ou na comunidade — uniram as pessoas para juntas construírem essa sociedade.

E foi assim que demos o pontapé inicial para construir a cidade que temos hoje aqui. 

Gilberto Caneppelle: Então, seguindo o que o Elidir falou, além disso, Camila Carpenedo e Bruno, tinha também o seguinte: como eu falei que não existia cidade, essas cidades foram se colonizando e não eram da mesma comunidade, por exemplo, do Sul. Nós tivemos aqui bastante sulistas, né? A gente fala gaúcho, mas pega aí o sudoeste do Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Era um povo que veio em maioria. Mas também veio muito paulista, mineiro e pessoas de outras regiões. E, juntamente com as pessoas que já moravam aqui — os mato-grossenses — essas cidades foram formadas também em um curto prazo de tempo, com vários costumes e várias coisas assim para se formar uma identidade.

Então, como elas foram emancipadas — para ser exato mesmo — no dia 4 de julho de 1988, adquiriram três distritos de Diamantino: Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Itapurá. Essas cidades são trigêmeas, como se diz, né? Só que Mutum tinha uma particularidade: ela tinha pouca população ainda. Então foi necessário desmembrar um pedaço do município de Nobres para poder dar o número suficiente de pessoas. Esse pedaço fazia parte de umas comunidades próximas de Mutum, mas pertencia ao município de Nobres.

Em 1988 começaram as prefeituras. Elas iniciaram sem nem ter lugar para funcionar. Não tinha nem uma mesa ou estrutura básica. Os primeiros prefeitos tiveram que trabalhar junto com a comunidade. A comunidade era uma coisa só, né? E daí logo depois veio a necessidade de dar o próximo passo. Um dos próximos passos foi a criação das cooperativas de crédito. Tanto a de Mutum quanto a de Lucas foram criadas praticamente no mesmo ano, no mesmo dia, na mesma semana e abertas ao público no mesmo período. 

Elidir Pedro Tecchio: É, só para complementar, eu acho que, assim, é importante, de novo, né, que a região aqui passava por isso. Então, as cooperativas foram criadas em Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, né? Toda a região da BR-163. As cooperativas foram criadas mesmo na mesma época. Até Sinop também teve cooperativas de crédito criadas ali. Foi em Alta Floresta, Colíder, né? Toda essa região: Guarantã do Norte. Nós chegamos a ter 20 e poucas cooperativas de crédito aqui no Mato Grosso que foram criadas aproximadamente nessa década — final de 89, início de 90.

Então, esse processo todo de como nasceram essas iniciativas… as cooperativas foram filhas dessas cidades, mas, na verdade, acabaram sendo propulsoras do desenvolvimento dessas cidades. A gente tem inúmeras histórias que podemos relatar. Eu acho que é importante trazer também São José do Rio Claro, que foi criado logo em seguida, em 93 ou 94. A cooperativa lá também teve um processo interessante para ser criada. Eles não tinham muitos recursos e precisaram vender vacas magras para conseguir criar a cooperativa de crédito.

Esse processo como um todo acabou se transformando no que hoje é a Sicredi Ouro Verde. 

Bruno Motta: Nós vamos, aos poucos, detalhando essas histórias, mas eu queria voltar também, seu Elidir, em um ponto que o senhor comentou, que foi o seu começo na cooperativa, lá em 1990, como técnico agrícola recém-formado. Como é que foi essa transição dessa área de atuação para um gerente de cooperativa que estava começando? 

Elidir Pedro Tecchio: Bom, na época, na verdade, eu nem esperava. Quando eu era sócio-fundador, fui sócio-fundador da cooperativa, né? Primeiro, por que eu fui sócio-fundador da cooperativa? Porque meu pai foi um líder, na verdade, muito parecido com o coordenador de núcleo da nossa cooperativa hoje. Lá no Rio Grande do Sul, que era em Sarandi, meu pai sempre foi um líder cooperativista. E eu, criança, cresci ouvindo meu pai falar da cooperativa de Sarandi, da Cotrizal. E eu ainda me lembro que o pai também foi sócio-fundador da cooperativa de crédito lá de Sarandi. Ele dizia: “Olha, ajudei a criar um banquinho lá”. Lá era nessas condições.

E aí, nesse processo, quando a gente veio para o Mato Grosso, trouxemos isso no pensamento. Quando foi criada a cooperativa, eu era sócio da cooperativa de produção. E quando ouvi falar sobre a criação da cooperativa de crédito, fui na reunião. Fui lá e disseram: “Vamos criar a cooperativa”. Eu falei: “Não, eu sou o primeiro. Estamos juntos”. Embora o poder aquisitivo fosse muito baixo na época, nós falamos: “Vamos estar juntos”. E aí nasceu a cooperativa.

Quando foi para abrir a cooperativa, o pessoal estava procurando pessoas para trabalhar. Eu estava lá como técnico agrícola e fui me inscrever. Mas não para ser gerente; fui para trabalhar na cooperativa. Aí o pessoal começou a olhar e, quando fui ser entrevistado, contei essa história do meu pai. As pessoas disseram: “Olha, vamos acreditar; pode ser que saia alguma coisa boa desse rapaz aqui”. Pelo menos alguns valores ele tem; vamos dar uma oportunidade.

Quando abrimos a cooperativa e iniciei como gerente, nós praticamente não tínhamos nada. Não tínhamos instrumentos e foi aí que começamos o processo. Tinha uma grande oportunidade e também uma grande dificuldade: entender os números da cooperativa. Mas gradativamente fomos aprendendo nesse caminhar.

Camila Carpenedo: Beto, lá não deve ter sido diferente, mas você disse que é diferente do Eledir porque não tinha nenhum contanto com cooperativa de crédito, né, até então.

Gilberto Caneppelle: Isso, e sem, não foi frisado aqui que, além de ter pouca gente nessas cidades, tanto Nova Mutum quanto Lucas, quando foram criadas as cooperativas, elas eram segmentadas. Elas só podiam associar agricultores, né? Pessoas do agro ou pecuaristas, gente que tinha propriedade rural. Então, veja bem a dificuldade que era, justamente numa crise do agro aqui da região.

Tinha pessoas do comércio, talvez já em um patamar melhor, com mais visão e tudo, mas que não podiam ser associados. Então ali já começava a cooperativa a ter uma pequena dificuldade dentro das comunidades. 

E aí a gente formou também — porque tinha que fazer essas reuniões — uma comissão provisória de constituição.  E aí, depois, quando teve que, ah, criar a cooperativa, que vinha uma autorização, você mandava um pedido pro Banco Central. 22, 23, acho que 24 associados ali. Não eram fundadores todos, mas tinha mais, mas era pra não ter a necessidade de mandar muito, porque o Banco Central fazia um estudo lá das pessoas que estavam envolvidas, né, uma pesquisa, assim, pra ver a viabilidade econômica. Não sei o que que eles analisavam, porque tinha pouco pra ver, né, praticamente todo mundo. E aí depois vinha a carta de autorização pra funcionamento.

Então, quando veio essa carta de funcionamento: “Bom, agora vamos ter que partir pra fazer.” Daí tinha a diretoria pra constituir e tal. Então, na época, eu já fui… Eu era um… Na época, eu era um jovem ainda e tal, não tinha muita experiência e tal, mas fui incluído junto pra fazer parte da diretoria.

Então, a gente foi junto aí. Na época, eu era vice-presidente do Seu Alcindo, e formamos ali e demos o início. Então, naquela época, em 91, então, 90, 91, que foi o início pra seguir aí na coisa.

Camila Carpenedo: E olhando, assim, pra toda essa simplicidade, né, e essa falta de experiência de vocês pra criar uma cooperativa e fazer funcionar esse negócio, como que vocês avaliam que isso, né, essa humildade de vocês, essa vontade de aprender, ajudou a impulsionar o crescimento? Né, dessas duas instituições, que hoje são a Sicredi Ouro Verde?

Elidir Pedro Tecchio: Eu acho que nós, na verdade, a gente era um pouco inconsequente, né, Beto? Na verdade, nós não tínhamos noção do que era essa responsabilidade.

Nós fomos fazendo porque era o que tinha. Na verdade, é o seguinte: você está numa situação em que o que vier, você encara. Na época, a gente pegava o que vinha pela frente porque, de novo, vocês vão ouvir muito falar de esperança, né? Nós tínhamos esperança e confiança de que isso fosse melhorar. Nós nunca imaginávamos, né? Nunca imaginávamos que poderíamos crescer e nos desenvolver do jeito que crescemos.

Eu vejo que, e aí eu trago a forma como a gente fazia, né? E aqui eu vou trazer também, mostrando um pouquinho… Olha aqui como é que nós fazíamos na época. Esse era o nosso computador na época, né? Olha aqui, ó.

Camila Carpenedo: Vamos mostrar isso. 

Elidir Pedro Tecchio: É, esse aqui era o computador, um exemplo do que eu fazia. Esse aqui é o meu primeiro caderno como gerente, onde eu anotava as demandas de crédito. Aqui eu anotava quem aplicava na cooperativa, os resgates e também as operações de crédito dos associados, com prazos de vencimento e tudo mais. Tudo era anotadinho no caderno pra controle. É claro que, por trás disso, a gente ainda tinha uma nota promissória, que chamávamos de ANP, e era isso que calçava esse negócio. A confiança era tanta que os associados deixavam a nota promissória assinada em branco para nós, e isso ficava guardado no cofre. No dia do vencimento, a gente preenchia com o valor da operação mais os juros e o associado pagava.

Era assim que funcionava. Então, a gente viu na época as dificuldades e, de novo, contando um pouquinho de como aconteceu essa questão de conquistar confiança. Na época, nós não podíamos devolver cheque dos associados porque isso fazia a gente perder a confiança de quem recebia. Nós tínhamos que conquistar essa confiança porque os nossos cheques mais pareciam um xerox, um documento, e eram feitos à mão mesmo, lá dentro da própria cooperativa. A gente entregava para os associados, eles iam saindo daqui, pagando contas, indo para Cuiabá, e, aos poucos, fomos conquistando a confiança a ponto de as pessoas preferirem receber cheques das cooperativas de crédito — que chamavam de “banquinho dos produtores” — do que das instituições tradicionais, porque as tradicionais devolviam.

E no nosso caso, por causa da crise, nós bancávamos esse cheque para os associados. Então, veja bem, nós captávamos de quem tinha dinheiro e emprestávamos para aquele que menos tinha. E, no final das contas, nós tínhamos que fechar o balanço. Só para registrar aqui na história, a cooperativa sempre fechou esses balanços, quase sempre com resultado positivo. Porque nós pegávamos esses recursos e, aquilo que não emprestávamos, aplicávamos no mercado financeiro. Olha, já começávamos a nos tornar, no linguajar popular, quase que banqueiros, administrando esses recursos. E foi assim que fomos crescendo gradativamente.

Mas, de novo, houve muita dificuldade na época para conquistar a confiança da comunidade, das empresas, de quem recebia o cheque e dos próprios associados. E também de quem fazia negócio com a gente.

E assim a gente começou. Passamos por 1990, depois veio 91, 92, e fomos crescendo. Aí veio 94, mais uma crise. Mais uma crise. Então, já vínhamos de uma crise e, em 94, veio outra, que foi a crise causada pela chuva na época da colheita, além da questão dos preços. Essas histórias são boas de relembrar porque a cooperativa de crédito, e hoje eu acredito nisso, cresce mais nas crises e nas dificuldades. Porque é nessas horas que as pessoas se juntam para alavancar o negócio. Confiança, dedicação, união — essas palavras estão sempre em voga dentro do cooperativismo. Por isso, é importante trazer um pouco dessa história para as pessoas conhecerem que o que a cooperativa é hoje não foi assim desde o início.

Ela começou muito pequena, com muita humildade, e fomos gradativamente conquistando a confiança das pessoas, da comunidade, e contribuindo para o desenvolvimento local. Porque a cooperativa, sempre que havia um evento na comunidade, estava presente. E eu acho que, nesse processo, tanto aqui quanto em Nova Mutum, né, Beto? Acho que todos nós… E eu lembro, já fazem 34, vai fazer 35 anos, e não me lembro de não ter participado, desde o início, de uma festa ou de um evento. Estando no caixa, na copa, servindo… Sempre estava lá. Mas quem estava lá? Não era o Elidir, era o representante da cooperativa, né? Todos os nossos colaboradores têm esse princípio do voluntariado. Por quê? Porque um dia nós plantamos essa semente também.

Eu acho muito importante resgatar um pouco de tudo aquilo que a cooperativa fez e daquilo que foi implementado como cultura na comunidade, na vida da sociedade.

Gilberto Caneppelle: Então, além disso, para o início da cooperativa, ainda ela, por normativa, por ser uma cooperativa de crédito rural, no caso, tinha um monte de “não-podes”, que a gente fala hoje. Então, a gente não podia fazer muitas operações. Era uma instituição financeira muito diferente do que é hoje, porque hoje a nossa cooperativa, em qualquer lugar, praticamente todas as operações financeiras existentes, a nossa cooperativa está apta a fazer. Na época, não. Desde aplicação, às vezes, de dinheiro, para quem lembra, na época, a inflação era extremamente alta. Tinha um overnight, que era uma aplicação noturna. Nós não poderíamos fazer.

Aí, depois, a gente foi… algumas coisas, a gente ia até o limite da lei e tal, fazendo para poder sobreviver também. E aí, logo foi, a gente teve também… Ele disse, sabe, a gente sem saber que o Banco Central, na época, nos ajudava muito. Ele sabia dessas coisas e era um objetivo deles também de fazer. Eu acho que muitas das coisas que a gente fez, muitas das coisas que… as orientações que depois começaram a vir, então, vinha muito para… às vezes, a gente pensava que era para nos prejudicar, punir, não, mas era mais para proteger e fortalecer nós. Então, acho que isso aí também foi um momento assim. E essas participações nas festas, isso, desde aquele papel de mesa que a gente conseguia fazer, aquilo já dava um impacto enorme.

Eu lembro que a gente ficava nas festas, as pessoas se orgulhavam de ver ali o nome da cooperativa em cima da mesa, na hora daquela confraternização. O almoço, então, tudo isso aí… eu olhava por mim e pelos demais da comunidade. Então, a gente tinha até, na época, perguntas: “Como é que eu faço para me associar?” Eu queria me associar, mas a pessoa não tinha, por exemplo, uma propriedade rural. Então, depois a gente fazia algumas coisas assim, um contrato de arrendamento e tal, legalizava a pessoa e ela podia trabalhar também. Então, fortalecia a cooperativa. 

Elidir Pedro Tecchio: Acho que, complementando essa questão que o Beto traz, foi a livre admissão. Em 2006, nós tivemos a autorização para a cooperativa de livre admissão, a abertura. Então, até lá, nós não podíamos. Na verdade, é aquilo que o Beto fala aqui. Então, por que veio a livre admissão? Porque as cooperativas de crédito foram se estruturando, foram se organizando, nós, sistemicamente, no sistema Sicredi. Primeiro, nós éramos apenas crédito. Daí, em 1998, passamos a ser Sicredi, através do processo de união entre cooperativas. Nós passamos a pertencer ao sistema Sicredi, assim como outros sistemas que existem hoje, mas aderimos ao modelo e adotamos a marca Sicredi. Todas as cooperativas tinham a marca Sicredi, acompanhada do nome da localidade. Então, Cred Mutum tornou-se Sicredi Mutum. Sicredi Lucas virou Sicredi Verde, que depois passou a ser Sicredi Ouro Verde, e assim sucessivamente.

Mas o mais importante nisso tudo: por que o Banco Central autorizou a criação das cooperativas de livre admissão? Porque ele percebeu que as cooperativas segmentadas teriam dificuldades para crescer e se sustentar no longo prazo. Além disso, havia uma questão de justiça para a comunidade, já que o recurso gerado deveria circular dentro dela. Quando os empresários não podiam se associar à cooperativa, isso limitava o desenvolvimento local.

Outro ponto era a sazonalidade. Quando o produtor rural vendia sua safra, a cooperativa tinha bastante dinheiro disponível. Mas, na hora em que ele precisava de crédito, a demanda vinha de todos ao mesmo tempo, e os recursos eram os mesmos. Com a abertura para empresários, profissionais liberais, empresas e o comércio local, conseguimos dar maior estabilidade financeira à cooperativa. E foi esse movimento que impulsionou o crescimento do modelo cooperativo e das nossas cooperativas na região.

Camila Carpenedo: Eu queria fazer uma pergunta nessa linha: em que momento vocês perceberam que as cooperativas começaram a se fortalecer e a se expandir na região? Porque as duas cooperativas que estamos mencionando aqui desde o início, a Cred Lucas e a Cred Mutum, passaram por esse movimento de chegar a novas localidades, assim como outras cooperativas em Mato Grosso.

Elidir Pedro Tecchio: Eu acho que o Beto pode trazer a opinião dele também, mas vejo que o ponto fundamental para o crescimento das cooperativas foi a nossa adesão à marca Sicredi. Antes disso, éramos uma cooperativa isolada, ainda que vinculados à central, mas sem uma integração sistêmica real – apenas uma filiação.

A partir do momento em que passamos a utilizar a marca Sicredi, ganhamos maior credibilidade no mercado. Além disso, os regramentos internos se tornaram mais rígidos, o que contribuiu para o crescimento sustentável das cooperativas e para a conquista da confiança da comunidade. O modelo cooperativo enfrentou muitos desafios ao longo do tempo, e essa mudança foi um divisor de águas.

Para mim, há alguns marcos fundamentais nessa trajetória. O primeiro foi a criação das cooperativas. O segundo, a entrada no sistema, que trouxe não apenas identidade, mas também orientação, fiscalização e um direcionamento estratégico. Essa estrutura nos permitiu crescer com mais segurança e velocidade. 

Gilberto Caneppelle: Sem contar que, além de estar nessas centrais que a gente teve, o segundo passo também importante foi a criação do banco. Quando criou o Banco Sicredi. Então, ele também trouxe as centrais para o banco, né? Então, a gente, no início, o sonho era sermos um banco. Depois, a gente viu que nós teríamos que ter um banco e continuar sendo cooperativa. Isso foi uma jogada que teve no meio que a gente percebeu, né? Porque a cooperativa tinha uma condição melhor de atender os associados, o banco tinha uma legislação diferente, mas nós precisávamos ter um banco. Então, daí se tornou, né? O início, entre 99 e 97, foi quando criaram o banco, né? Daí o banco também começou essa estruturação para buscar nas centrais e ele também.

Então, ele que tinha mais uma conversa de banco, de negociar com o Banco Central, e a orientação nos repassava como cooperativa, né? Então, esse caminho também ajudou muito na busca para que a gente pudesse ter a livre admissão. Nós também tínhamos que comprovar que estávamos já consolidados, com experiência e com números que permitissem isso, porque o Banco Central também, ele tem, como se diz, né? Ele é o guardião do tesouro, né? Então, ele também não queria que as cooperativas causassem, muitas vezes, desestruturação ou prejuízo à sociedade, né? Então, para estarmos, as cooperativas normalmente foram bem orientadas nesse modelo para podermos dar esse passo, né? Eu acho que a gente fez aquele caminho inicial para podermos aparecer, para depois podermos ter ou adquirir esses conhecimentos.

Camila Carpenedo: Ledir, você falou de dois grandes marcos, né? Que você coloca como importantes nesses 35 anos da cooperativa, mas que outros marcos você entende que foram cruciais para o desenvolvimento da instituição?

Elidir Pedro Tecchio: É, eu vejo que, por exemplo, além dos que eu já citei, eu vejo que um dos grandes marcos foi a livre admissão, né? Mas antes da livre admissão, nós também, nós começamos, né? Como SIcredi, nós também já tínhamos as nossas áreas de ação indefinidas. Por exemplo, a cooperativa aqui de Lucas, Tapurá, Ipiranga, Itanhangá, né? Tinha essa microrregião aqui. Já Nova Mutum, tinha Nova Mutum, Santa Rita do Trivelato, daí foi aberta a possibilidade de Nobres, Rosário, né? Essa Jangada, essa região toda, embora ainda não tivesse agência.

E aí depois, em seguida, Nova Mutum, através da livre admissão, nós tivemos a possibilidade de fazer as uniões, que foi onde nós fizemos a união com São José do Rio Claro, a Ouro Verde, SIcredi aqui de Lucas do Rio Verde, que o nome era Verde, fez a união com São José do Rio Claro, que o nome era Ouro Verde. Aí nós já fomos para outra área de expansão. A cooperativa de Nova Mutum já, né, Beto? Foi para Cuiabá, inclusive, na área onde fez uma fusão com mais algumas cooperativas lá, né? Então, esse é o terceiro marco. O quarto marco, que eu vejo também, que foi aí, então, onde nós fizemos a união das duas cooperativas, né? E aí, o porquê da união das duas cooperativas?

A gente viu a região 2010, 2012, o crescimento, a expansão, e nós começamos a olhar para tudo aquilo que precisava fazer na região. O que que a gente entendeu? Nós estamos com duas cooperativas razoavelmente bem, as duas cooperativas, eu sempre falo que foi uma união pelo amor e não pela dor, e as duas cooperativas poderiam ter, né, continuado, mas se nós não tivéssemos nos unido, não sei se a gente continuaria, né, atendendo a grande, aquela quantidade, o crescimento e a necessidade dos nossos associados. Então, foi assim que nós sentamos, né, os dois conselhos e a gente decidiu olhar para o futuro. Qual que é a cooperativa que nós queremos daqui a cinco, dez, quinze, vinte anos, né? E foi aí que a gente acabou fazendo a união, né?

Eu vou deixar um pouco para o Beto falar um pouquinho desse, da resposta do sucesso dessa nossa união. Então, Beto, contigo um pouco aí.

Gilberto Caneppelle: Sim, porque a gente também, dentro da cooperativa, a gente olhava como estavam os nossos associados, né? Então, o estado aqui também, se tu for olhar, o agro ou as regiões, aquelas cidades que eram pequenas lá na década de noventa, né, na vinda do ano 2000 para cá, elas começaram a crescer, a se encorpar, dá uma olhada hoje para o que é Mutum, o que é Lucas do Rio Verde, então, cresceram. Então, a cooperativa também crescia, mas a gente percebeu que o crescimento nosso não ia, naquela toada que a gente vinha crescendo, nós não íamos acompanhar o crescimento da cidade. Então, né?

E aí a gente achou um caminho que fez com que fortalecesse as duas cooperativas. E elas já estavam já bem maduras, né? Elas já estavam aí com mais de vinte anos de existência, cada uma, para poder ter, né? Porque as cooperativas a gente teve também, a gente respeita, eu também. A gente tinha esse sentimento, né? De cooperativa, agora vai unir com outras cidades, vamos perder a nossa cooperativa e tal. Esse sentimento associado porque a gente, aquele associado fundador que lutou muito para tê-la, né? Mas aí a gente teve, né? Foi bom também ter esses questionamentos, porque eles nos inspiraram a sermos muito mais responsáveis ainda com essa união e poder trazer para eles depois, ao longo do tempo, que aquilo que nós fizemos lá fosse uma coisa que seria muito bom para todos, né?

E também foi mais um desafio, quase do tamanho de quando criamos a cooperativa, né? Porque mudava desde o número de contas de associados e também, conselho, você ia para uma região que você conhecia, mas não conhecia muito bem, eram novas pessoas e tal. Mas o que era isso? Se as pessoas, a gente sempre tinha uma coisa seguinte, as pessoas que estão nas cooperativas, normalmente elas têm um crivo já, elas têm uma idoneidade, né? A sociedade já acreditava. Então, fez com que, não importa, vamos trabalhar, o objetivo era o mesmo, né? Então, eu acho que essa jogada de 2013 aí, como o Elidir falou, ela não foi por necessidade nossa, ela foi uma, uma, uma, aquelas pessoas que estavam ali cederam parte do coisa para que as comunidades crescessem.

Ali foi um outro marco muito importante, muito, assim, que alavancou as cooperativas.

Bruno Motta: É interessante, porque a gente começa a reparar também, que as histórias das cooperativas e dos municípios, isso é muito dito por quem acompanhou de perto essa evolução, essa história, são histórias que se confundem. A história de evolução das cooperativas e dos municípios, Lucas do Rio Verde e também em Nova Mutum. Quais foram os momentos marcantes do desenvolvimento dessas cidades, falando de Lucas e de Nova Mutum, que vocês podem colocar como a cooperativa Ouro Verde tendo uma participação determinante para essa evolução, para essa contribuição desse desenvolvimento?

Elidir Pedro Tecchio: Eu acho que eu posso trazer um aqui, o Beto pode trazer de Nova Mutum, mas eu vejo que não é tão diferente, né? Nós estávamos num momento que precisávamos trazer para cá a Sadia na época, né?

E a Sadia só vinha se também tivesse o desenvolvimento, principalmente no interior, na questão da energia. E como levar a energia para o interior se não tinha condições financeiras? Foi aí que, no caso da cooperativa na época, acabamos tomando a decisão de financiar a rede elétrica. E foi aí que desenvolveram muitos projetos hoje que têm no interior através do financiamento da energia que foi levada para o interior. Um dos exemplos, né? E outro, aqui a cooperativa sempre fomentou a suinocultura, depois fomentou a iniciativa da avicultura, a safra do milho, que foram iniciativas que a cooperativa sempre financiou. O importante é dizer, né? Que quando começamos, bem no início, retornando um pouquinho, não tínhamos condições de financiar grandes produtores, grandes atividades.

O que fazíamos? Começamos a financiar um pouco do óleo diesel que o pessoal precisava. Nós financiávamos, até brinco, falo que as cooperativas salvaram muitos casamentos aqui no Mato Grosso. Porque financiávamos o óleo diesel e daí depois garantíamos para as pessoas que aquele financiamento de final de ano, que era aquele recurso que ele precisava para ir para o Sul, até apelidamos uma linha de crédito ProSul, né? Por que ProSul? Para ir para o Sul. Mas parece que é pouco, mas garantíamos, falávamos, fica tranquilo que vamos arrumar o recurso e ele pagava. Os seus funcionários compravam os presentes para o final de ano, deixavam a fazenda estruturada com os defensivos, tudo prontinho.

E ainda financiávamos os recursos para ele ir passear para o Sul, levar a esposa, conhecer a mãe, quer dizer, visitar a mãe, visitar os parentes, né? Que por acaso, se não tivesse o financiamento para levar, provavelmente elas não iam nem aguentar, né? Aguentando os caras aí por muito tempo. Então, assim, é um tom de brincadeira, mas isso é verdade. A cooperativa contribuiu muito com esse desenvolvimento e garantiu muito dessa Sadia e desse desenvolvimento aqui no Mato Grosso. Através dessas pequenas iniciativas que fazíamos, né? Por exemplo, uma loja, financiávamos, às vezes não tínhamos recurso para financiar uma loja completa, mas financiávamos a reforma da fachada, financiávamos o estoque, né, que estava dentro. O produtor, não tínhamos recurso para financiar o adubo, o assentamento, financiávamos um pouco dos defensivos, um pouco do óleo diesel.

Então, essas iniciativas são pequenas iniciativas que hoje estão marcadas. E hoje, tudo o que tem, posso garantir para vocês, tudo o que tem em Lucas e Nova Mutum, a cooperativa de crédito participou efetivamente do desenvolvimento. E aí, se você entrevistar outras pessoas, vão passar por aqui, elas vão dizer que todas as iniciativas que tiveram, sempre a cooperativa de crédito estava junto apoiando, seja financeiramente ou com apoio moral, para não desanimar até as novas iniciativas, sempre estava a cooperativa de crédito. Tanto a Cred Mutum quanto a Credd Lucas, depois que nos unimos, né, todo esse processo, contribuímos para o desenvolvimento de todas as comunidades aqui da região. Tenho muito claro na mente que as pessoas reconhecem hoje isso.

Camila Carpenedo: Esse exemplo que você trouxe, né, senhor Ledir, do financiamento da energia elétrica, foi realmente um exemplo determinante, assim, para mudar a economia de Lucas do Rio Verde, né. E em Mutum nós também tivemos exemplos assim, porque as cooperativas também que transformaram a economia da região foram criadas praticamente junto, né, como a Cred Mutum. 

Gilberto Caneppelle: É, eu ia dizer isso, nós temos lá a Credi Mutum, que é dos suínos lá, depois foi também, ficou parceiro aqui com outros, criaram um frigorífico e tal, né. E isso foi um desenvolvimento para essas regiões todas aqui inigualável. E eu sei que também eles tinham questionamento. Eu lembro que nós já tínhamos três anos de Credi Mutum, três para quatro anos ali, e eles começaram a cooperativa.

Também eram exemplos assim, pô, se deu certo a Credi, as Credi estão dando certo, a outra cooperativa também vai dar. As pessoas, às vezes, eram as mesmas ou somadas, não as mesmas diretorias, mas as pessoas, todas envolvidas as mesmas, sabendo já, né, então, sabiam que então esse, o simples fato de as nossas Credi aí na época trazer a esperança e ter permanecido ativas aí fez com que outras coisas em volta, as pessoas se espelhavam. Assim, olha, se lá deu certo, vamos fazer também e tal. E por isso que foi, então o desenvolvimento foi coletivo, com várias ações de outras, pelo exemplo das Credi da época.

Elidir Pedro Tecchio: É, eu acho, né, Beto, trazendo aqui, eu acho que é um exemplo claro, você trouxe a Credi Mutum, a Coagril, tanto a Cooper Mutum quanto a Coagril, são duas cooperativas que nasceram da suinocultura, assim como nasceu lá a cooperativa lá em Itapurá, como nasceu a cooperativa lá em Sorriso.

Nesse processo, as cooperativas de crédito ajudavam a financiar, talvez não porque não tinham condição de financiar a infraestrutura, mas financiavam os custeios, que talvez seja a parte mais importante do milho, da ração, para dar continuidade. Depois foi criada a Intercop, que saiu o frigorífico Nova Mutum. De novo, a cooperativa de crédito, me lembro, tanto antes de nós fazermos a união, nós financiávamos separado as iniciativas, e esse processo alavancou uma série de iniciativas, talvez hoje, com a vinda das indústrias, tanto em Nova Mutum quanto em Lucas Ouro Verde, teve um papel fundamental das cooperativas de crédito, para não deixar morrer aquelas iniciativas, né, pequenas iniciativas que depois se transformaram em grandes indústrias.

Camila Carpenedo: Eu acho que são muitos exemplos de união, né, mas eu queria falar agora de um pouco mais de vocês dois, Eledir e Beto, e dessa relação de confiança que vocês foram também estabelecendo ao longo desses anos, tantos anos já que estão juntos à frente da nossa cooperativa.

Queria que você, seu Eledir, falasse um pouco de como que é o Beto, parceiro cooperativista, parceiro de trabalho, e Beto, como que é o Eledir, cooperativista, parceiro de trabalho, à frente dessa instituição.

Gilberto Caneppelle: O mais velho primeiro. (risos)

Elidir Pedro Tecchio: É, bom, eu vejo que assim, hoje, na verdade, né, a cooperativa tem um conselho de administração, né, e tanto com a diretoria quanto o conselho, eu tenho um princípio que a base de qualquer relacionamento é a confiança. Então, assim, eu sempre falo com o Beto, né, eu acho que assim, o Beto é uma pessoa que, um parceiro de qualquer hora, né, então, precisou o Beto estar junto, né, mas a gente tem uma confiança recíproca entre nós, que aquilo que um precisa fazer, ele faz, depois a gente conversa sobre isso, ou a gente alinha antes.

Nunca teve uma palavra, né, Beto, entre nós, de desconfiança ou de questionamento entre nós. Eu acho que isso é muito importante, que o presidente e o vice têm que estar muito alinhados, né, com o processo de tudo, porque você administrar hoje uma cooperativa do tamanho que está, né, do tamanho que é a nossa cooperativa, né, a gente precisa, principalmente, eu vejo que a questão de confiança, mas a questão de também, praticamente, nós temos quase que é o seguinte, o pensamento de um, acho que o outro já está lendo, né, nós somos muito alinhados, porque os princípios, os valores são muito parecidos. Então, o Beto é um companheiro de toda hora, e acho que a gente continua dando bem, a cooperativa está indo bem também por isso, né, Beto?

Gilberto Caneppelle: Não, com certeza.

A gente não trabalhava junto lá nos primeiros tempos, né, mas convivia, graças à Central, então, lá com a Secrena, então a gente podia, compartilhava muitas vezes, a gente tinha um hábito de vir, às vezes, nas assembleias, né, que durava um sábado de manhã inteiro, então vinha a cooperativa vizinha visitar, a gente vinha para aprender algumas coisas e olhar o que eles estão fazendo, o que nós podemos fazer lá ou assim, né, então foi muito bom esse período aí. E também dizer hoje que nós também passamos um período, né, ele diz que a gente, além de ser, você também foi, além de ser diretor da cooperativa, liberava crédito, fazia essas coisas. Esse também foi um processo de evolução que a cooperativa teve, hoje a gente tem uma diretoria executiva que faz isso muito bem, então, coube a nós, facilitou para a gente poder acompanhar mais o quadro social e a visão futura da cooperativa.

Então, essas partes que, logicamente, que a gente sempre acompanha junto e troca ideia e faz tudo junto, mas as funções foram separadas, né, então, o que facilitou muito para o crescimento da cooperativa e a consistência dela.

Bruno Motta: Olha, quando a gente fala, e quando convidamos vocês para participarem aqui com a gente do Raízes, é justamente para a gente resgatar essas histórias, esses momentos. Seu Eledir trouxe aqui esse livro que, de fato, é um dos marcos mais importantes que a gente tem e que a gente pôde mostrar hoje para os nossos associados, para quem está nos acompanhando nesse primeiro episódio, mas a gente gostaria de saber mais um ponto para o senhor, seu Eledir, para o senhor Beto, o que é uma raiz para vocês?

Elidir Pedro Tecchio: É, tem que pensar muito, né, pensar muito o que é a raiz, né, eu penso que a raiz é a base, é o fundamento, né, e, para mim, a raiz, ela está desde os princípios, os valores, o caráter está aqui e eu acho que a gente, nós, enquanto cooperativa, a gente sempre tem que lembrar que nós temos que manter aquilo que os precursores iniciaram e tiveram como ideia. Eu acho que nós podemos crescer a cooperativa, mas manter as nossas raízes no chão. É quase que dizer assim, vamos crescer com os pés no chão, né, o que nós podemos dizer? Vamos crescer com as raízes no chão. E se a gente manter as raízes, o pensamento, as ideias dos idealizadores, dos fundadores das cooperativas, eu tenho certeza que nós podemos crescer do tamanho que quiser.

Mas por que nós criamos as cooperativas, né? Por que nós criamos as cooperativas na época? Porque primeiro nós estávamos em dificuldade, criamos as cooperativas para poder atender a comunidade, criamos as cooperativas para atender as necessidades das pessoas, criamos as cooperativas para ajudar a desenvolver a comunidade, mas nós não criamos uma cooperativa para ela morrer quando nós morrermos. Nós criamos uma cooperativa para ela se perenizar. Nossos filhos, nossos netos, nossos bisnetos, nossos tataranetos, e que isso se perenize por muitos e muitos anos e que nunca acabe. E sempre vai ter uma evolução. Eu acho que raiz é esse fundamento. Se você tiver as raízes profundas e os caules, as folhas, os frutos virão, com certeza.

Gilberto Caneppelle: É, acho que o Eledir falou tudo aí.

A gente, como agricultor, agora que estou falando, a gente sempre procura dar as condições para as lavouras terem no solo, crescerem mais e terem mais raízes. Para suportar possíveis veranicos ou possíveis adversidades lá na frente. Tanto lavouras anuais de milho e de soja, como quem planta árvores também. Então, sempre procura para poder ter a sustentabilidade para constituir. Então, raízes, eu vejo que isso é o seguinte, é uma coisa que você também tem que estar sempre olhando, nunca esquecendo delas. Por mais que, às vezes, ao longo do tempo elas não apareçam mais, mas são elas que trazem tudo aquilo, aquela história que está por vir. Então, eu acho que as folhas são, todos os dias, abastecidas pelas raízes de uma árvore e assim é a vida de cada um de nós.

Às vezes, a gente tem que ter raízes também familiares, que é muito importante para a perenidade de toda a sociedade. Então, eu acho que raízes é uma coisa assim que é um valor extremo que tem que ser vivido, compartilhado e preservado.

Camila Carpenedo: E agora, falando então desse momento da cooperativa, completando 35 anos, o que vocês imaginam que essa cooperativa ainda pode contribuir com essas comunidades onde ela está? Como que vocês imaginam esses próximos 35 anos da nossa Ouro Verde? 

Elidir Pedro Tecchio: Eu acho que a pergunta que nós fizemos lá atrás, um tempo atrás, em 2017, foi sobre o que a cooperativa queria comemorar em 2025, quando a cooperativa estaria completando 35 anos. Eu penso que já vimos o nosso planejamento e superamos muitas etapas. E eu penso também que, daqui para frente, a cooperativa está estruturada.

A cooperativa hoje, que já passa de 180 mil associados, tem um patrimônio invejável, e seus ativos são os maiores do sistema. Mas eu penso que não basta só ser a maior, nós precisamos estar entre as cooperativas melhores para o associado e para a comunidade. E acho que a cooperativa não é mais só dos associados. A cooperativa hoje passou a ser uma cooperativa da comunidade. E precisamos estar muito focados. Olhar todos para essa questão da sustentabilidade, do desenvolvimento, olhar para a preservação, olhar para tudo o que a gente quer fazer. Mas nunca devemos esquecer que somos uma entidade de pessoas. E sempre estarão ao centro da cooperativa as pessoas. E aí, Sérgio Heller, colaboradores, dirigentes, conselhos, associados e a comunidade como um todo.

Se a gente manter e souber que são pessoas que estão ali, que podem ser qualquer um de nós, qualquer um dos nossos familiares, vamos cuidar com o maior zelo e continuar, sim, crescendo os números, porque cada vez mais a comunidade acredita na cooperativa. E cada vez mais a gente vê que o grande concorrente das cooperativas de crédito é o desconhecimento, e que, pouco a pouco, vamos diminuindo esse desconhecimento. E, no momento em que a comunidade entender os benefícios de uma cooperativa, tenho certeza de que grande parte da comunidade se tornará associada à cooperativa e terá os benefícios de uma cooperativa de crédito em sua comunidade.

Gilberto Caneppelle: Já imaginou se, por um motivo ou por outro, o Sicredi deixasse de existir nessa área de atuação nossa?

Não tem como hoje. Eu não vejo a necessidade, pois as pessoas, a comunidade, estão toda entrelaçada e vive disso. Talvez elas nem percebam, né? Mas a cooperativa está aí, tem outras N instituições financeiras que fazem o mesmo trabalho que nós, atendem também e tal, mas a gente sabe da responsabilidade que temos com o número de associados e as metas para o futuro, sempre visando o crescimento. Por quê? Porque estar nas comunidades é participar junto, e a própria sociedade não admite mais a nossa ausência. O associado hoje está bem representado, ele está bem atendido, então vejo que ele participa mais e tem menos desconhecimento. Cabe a nós oportunizar para todos os associados conhecerem melhor a nossa cooperativa. Quanto mais eles conhecem, mais se engajam conosco.

Bruno Motta: Todas essas histórias evidenciam que o cooperativismo é realmente uma escolha, uma escolha de vida, onde crescemos juntos, desenvolvemos juntos e hoje colhemos os resultados todos juntos. Isso é, de fato, um motivo de muito orgulho. Por isso, eu queria saber de vocês: qual é esse sentimento de orgulho? O que traz de orgulho depois de ver, presenciar e fazer parte dessa história, e ver onde chegamos e onde podemos chegar.

Gilberto Caneppelle: Bom, como já contamos sobre o início da cooperativa, se formos olhar o marco inicial e comparar com onde estamos hoje, é um orgulho imenso para a gente. Lógico, a gente que viveu tudo isso, passou por algumas dificuldades nesse caminho, não foram só facilidades, mas a perseverança e tudo o que conseguimos alcançar.

O nosso orgulho está em poder contar com tantas pessoas que participaram junto conosco, associados ou até pessoas que talvez nem conhecemos, mas que de longe nos monitoraram, criaram cooperativas e orientaram. Vivemos em cidades que começaram junto com a nossa atividade, no dia a dia, e chegamos até hoje com toda essa força, acompanhando e trazendo para nós esse orgulho. Ao longo do tempo, quantas influências tivemos em familiares de pessoas que estavam lá atrás, que tiveram ações que a cooperativa proporcionou, não nós, mas a cooperativa. Isso deu esperança a muitos que, talvez, passaram por momentos difíceis.

E hoje, além do orgulho, vejo também uma grande responsabilidade, porque a cooperativa já conta com quase 800 colaboradores, 180 mil associados e muito mais. Isso é uma enorme responsabilidade. Ela tem dentro de si um patrimônio inestimável, que são as pessoas que fazem parte dela — associados, colaboradores e agora toda a comunidade. Esse é um patrimônio que não se perde ao longo do tempo e não pode ser mensurado em valores.

Elidir Pedro Tecchio: Bom, primeiramente, quero começar agradecendo. Agradecer, em primeiro lugar, ao nosso conselho de administração e ao conselho fiscal, que sempre participam ativamente da vida da cooperativa. Agradecer também à nossa diretoria executiva e aos nossos colaboradores, que hoje somam quase 800 pessoas. Como o Beto falou, isso é uma grande responsabilidade.

Agradeço aos nossos associados, à comunidade de uma forma geral, e aqui faço um agradecimento especial aos municípios: Lucas do Rio Verde, Ipiranga do Norte, Itanhangá, Tapurá, Nova Maringá, São José do Rio Claro, Diamantino, Alto Paraguai, Nova Mutum, Trivelato, Nobres, Rosário, Itangada, Curizal e Cuiabá. Esses são os municípios onde estamos presentes.

Meu sentimento de orgulho nesse processo todo é que, ao longo dessa jornada, iniciamos um caminho sem saber exatamente onde ele nos levaria. Começamos quase que de forma irresponsável, amadora, sem o conhecimento necessário. Saímos de cima de um CBT que não sabíamos operar, e hoje, com o conhecimento adquirido ao longo desses 30 anos, temos a sensação de que cumprimos nossa missão enquanto colaboradores e dirigentes. Mas também sabemos que ainda temos muito, muito a fazer pela frente.

Quando falamos de instituições financeiras, 35 anos são muito pouco, e temos a certeza de que essa cooperativa ainda tem um grande futuro. Ela está fundamentada em princípios e valores que entendemos ser essenciais: responsabilidade, confiança, mas, principalmente, fazer a coisa certa. Esperamos seguir por esse caminho e, quando olharmos para o futuro, lembremos que todos nós precisamos deixar um legado. O legado que cada um de nós está deixando é aquele em que nos entregamos de corpo e alma, sempre buscando o melhor. Erramos, como todas as pessoas que se dispõem a fazer algo, mas nosso objetivo sempre foi acertar.

Se formos lembrados por um bom legado, e se essa cooperativa continuar contribuindo para o desenvolvimento da comunidade e da sociedade, mas, principalmente, trazendo felicidade e progresso para as pessoas, ficaremos contentes. Vejo que, nesse processo, quando estivermos comemorando os próximos 35 anos, que coincidirão com os 70 anos da cooperativa, gostaríamos de ser lembrados, todos nós que participamos dessa história, por termos semeado boas sementes em terra fértil. Esse é o grande orgulho que temos.

Camila Carpenedo: Muito obrigada, Eledir. Muito obrigada, Beto. É realmente um orgulho para nós ter vocês à frente da nossa cooperativa, mas, principalmente, receber vocês aqui, nesse nosso primeiro episódio do podcast Raízes Ouro Verde. E quem está nos acompanhando aí, assistindo a este primeiro episódio, espero que tenha gostado. Essa é só uma introdução de uma longa história que vamos contar ao longo de 35 episódios neste ano de 2025. Então, continue acompanhando com a gente a história da nossa cooperativa, que estará aqui para você assistir e compartilhar. Não é isso, Bruno?

Bruno Motta: É isso mesmo. Como a Camila Carpenedo falou, este é o primeiro episódio. Temos 35 encontros marcados para este ano de 2025. Contamos, é claro, com a participação e apoio de todos que estão nos assistindo. E lembrando que na próxima semana teremos um novo episódio desse especial dos 35 anos, mas você pode assistir, ver e rever quando quiser, nesses materiais do nosso especial, da nossa série de 35 anos. Para isso, basta acessar nosso canal no YouTube e também no Spotify. O conteúdo vai ficar disponível por lá. A gente se encontra na próxima semana. Até lá. Até!

 

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