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Raízes Ouro Verde | Ep. 33
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Raízes Ouro Verde | Ep. 33

Marino Franz e Gustavo de Oliveira

Neste episódio do Raízes Ouro Verde, recebemos Marino Franz e Gustavo de Oliveira, ambos empresários e figuras importantes para o desenvolvimento de Mato Grosso. A conversa se aprofunda no futuro do estado, suas oportunidades e desafios, e o papel crucial do cooperativismo.

Marino e Gustavo compartilham suas histórias de vida e a chegada a Mato Grosso, destacando o espírito empreendedor e a busca por oportunidades que moldaram a região. Eles analisam os fatores que fizeram Mato Grosso se tornar o gigante que é hoje, como a combinação de natureza, tecnologia e o trabalho, além da influência da demanda chinesa por commodities.

Discutimos ainda o potencial da bioenergia, da agroindústria e da mineração, e como o estado se posiciona como um player global na produção de alimentos e energia. Foi uma grande reflexão sobre como o cooperativismo é um caminho importante, que foca no relacionamento, na comunidade e na distribuição de resultados, construindo um futuro colaborativo para Mato Grosso.

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Raízes Ouro Verde | Ep. 33
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BRUNO MOTTA: Oi, gente, bem-vindos a mais um episódio do podcast Raízes Ouro Verde. Muito bom ter a companhia de vocês em mais um episódio, em mais um conteúdo aqui nesse especial que comemora os 35 anos da cooperativa Sicredi Ouro Verde. Já contamos muitas histórias, já tivemos muitos convidados que passaram aqui por esse estúdio e por alguns outros em outras cidades onde o Raízes Ouro Verde também já contou histórias. E nós agradecemos sempre por cada um que tem acompanhado, que tem assistido, compartilhado o conteúdo, falado realmente sobre o nosso podcast e que ainda tem alguns episódios pela frente, mas todos os episódios que já foram disponibilizados, eles podem ser assistidos no nosso site sicrediouroverde35anos.com.br e também em todas as plataformas de podcast.

CAMILA CARPENEDO: E a gente já está chegando quase no finalzinho desse projeto para esse ano, né, Bruno? Nosso projeto que prevê 35 episódios, já estamos no finalzinho, mas ainda tem alguns conteúdos pela frente. E hoje a gente recebe dois convidados aqui porque a gente já começa a olhar muito para o futuro. A gente quer conversar com esses nossos dois convidados e vocês já vão conhecê-los um pouquinho sobre o que a gente pode esperar do futuro aqui da nossa região e também, claro, da nossa cooperativa Sicredi Ouro Verde.

BUNO MOTTA: Então vamos apresentá-los. Quem está com a gente aqui hoje no nosso estúdio, então, Marino Franz, empresário, pioneiro de Lucas do Rio Verde, também associado da Sicredi Ouro Verde, Gustavo de Oliveira, também empresário, hoje conselheiro de administração da Sicredi Ouro Verde e duas pessoas que gostam muito, conhecem muito da nossa região e gostam muito de imaginar esse futuro que está por vir aqui em Mato Grosso.

CAMILA CARPENEDO: Então sejam muito bem-vindos aos nossos Raízes Ouro Verde. É uma alegria receber vocês aqui hoje.

MARINO FRANZ: Obrigado, Camila. Obrigado, Bruno. É uma satisfação muito grande estar aqui com o Gustavo. E contar um pouco da história de Lucas do Rio Verde, que se mistura com a história também da Sicredi Ouro Verde. E também dar alguns palpites para o futuro, para onde o Mato Grosso vai, para onde o Mato Grosso está caminhando. Para sempre a gente ter um olhar no presente, mas também um olhar no futuro que faz a diferença se a gente sabe onde quer chegar.

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Com certeza. Olha, uma honra estar aqui, primeiro com vocês. Obrigado pelo convite. Uma honra especial estar ao lado do Marino, que é uma figura emblemática, acho que para o estado de Mato Grosso inteiro. Além de empresário de sucesso, também dedicou grande parte da sua vida à vida pública. E acho que é um pouco isso, né, Marino? A gente tem que fazer um pouco mais do que só aquele básico que esperam da gente. Eu também passei pelo setor público durante três anos, fui secretário de Estado. Mas sou empresário, meu DNA é de empresário. Fui presidente da Federação das Indústrias. E durante toda essa trajetória, se tem uma coisa que eu vi, foi o futuro acontecendo. E acontecendo em uma velocidade impressionante. E acontecendo por causa de empreendedores que acreditaram em Mato Grosso, que acreditaram que isso aqui poderia ser muito mais do que era. Lá, quando a Ouro Verde foi fundada, as coisas eram muito diferentes. Trinta e cinco anos atrás, né? Às vezes a gente até esquece, né? A evolução vai chegando e a gente esquece de como eram as coisas. Mas é importante esse registro e é importante a gente pensar o futuro. O Marino acerta um bocado o futuro. Tanto é que ele veio para cá, empreendeu, deu certo. Então, em termos de futuro, eu vou ouvir um pouco mais dele do que falar aqui hoje. Vamos registrar bem, então, o que vai ser dito hoje sobre o nosso futuro.

CAMILA CARPENEDO: Anota aí, anota aí. Dicas de milhões. Vocês trouxeram, Gustavo trouxe um pouquinho, né? A gente resumiu, né, Bruno, aqui o currículo de vocês como empresários. Mas, com certeza, vocês têm uma longa trajetória aqui em Mato Grosso. E é assim que a gente quer começar, então, a nossa conversa de hoje. A gente costuma pedir aos nossos entrevistados, né, Bruno? Sobre as suas raízes. Então, Marino, por favor, Gustavo, conte um pouquinho das raízes de vocês, o que trouxe vocês até Mato Grosso e até esse momento que a gente está hoje.

MARINO FRANZ: Bom, eu vim para Lucas em agosto de 1980. Lucas não existia ainda. Desembarquei lá em Sinop, né, depois voltei para a Fazenda Progresso, que era a única fazenda que tinha aqui, a Fazenda Matsubara, Fazenda Progresso, Sumuni Matsubara, que já faleceu. Eu sou técnico agrícola de formação, né, técnico agrícola. E começamos a fazer pesquisa de arroz na época, logo mais adiante foi pesquisa de soja. E quando foi feito o PA, o Projeto Especial de Assentamento de Lucas do Rio Verde, em 1982, eu me mudei para Lucas do Rio Verde, né, que foi criado o Projeto Lucas do Rio Verde, junto com o pessoal do INCRA, para desenvolver essa parte ligada à pesquisa. Então, a história de Lucas do Rio Verde, a gente conhece muito bem, né, vim para cá jovenzinho, né, com 17 anos de idade, já era formado, e estamos aí desde aquele tempo lutando e trabalhando em prol da nossa cidade, em prol da nossa comunidade, do Estado do Mato Grosso, né, sempre tentando fazer melhor, arriscando muito, muitas vezes acertando, outras vezes não, mas só acerta quem arrisca, né, e quem empreende. Então, nossa vida é feita de altos e baixos, né, quando montei a primeira empresa FIAGRI, 23 de novembro de 1987, nós pertencíamos ainda ao município de Diamantino, né, Lucas não era nem município que pertencia a Diamantino. Então, a história aí dos agricultores, do assentamento, da parte agrícola, quem foi quem, está muito viva na minha memória.

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Eu cheguei um pouco depois, cheguei em 1986, era criança. Por que eu vim para cá? Meu avô era engenheiro rodoviário, construía rodovias, e em 1948 ele recebeu um desafio do chefe dele, lá no Rio de Janeiro, disse, olha, tem um fim de mundo lá chamado Mato Grosso, não tem uma estrada lá, você vai para lá e ajuda a implementar a estrada entre duas cidades importantes. O Estado era um só naquela época, Marino. E ele veio para implantar a estrada de Campo Grande até Cuiabá. Ele contava para mim que ele demorou sete dias para sair de Campo Grande e chegar em Cuiabá. Atolava, não tinha como vencer, você tinha que parar à noite. Ele veio com raiz, casou com a minha avó, que era cuiabana, e fez a família. A família ficou metade no Rio e metade aqui. Eu vinha passar férias em Cuiabá, ali na guia, onde a gente tem um empreendimento, que é uma pedreira no setor mineral, e adorava tudo aquilo. Desde pequeno eu sonhava em ser industrial. Quando a gente já cresce com um destino meio traçado. Então, em 1985, meus pais resolveram vir para Mato Grosso, morar aqui, e me pegaram. Eu já estava aqui de férias. Eu vim para passar férias e fiquei. Fiquei de vez. E construí uma vida profissional. Saí para fazer faculdade, fiz engenharia civil lá no Rio de Janeiro, peguei meu diploma, e logo voltei para cá, por acreditar muito em Mato Grosso, por achar que aqui as coisas sempre são diferentes. E acho que eu via isso desde pequeno. Eu lembro que a minha maior motivação para voltar foi essa. Aqui, Rio, São Paulo, as coisas são difíceis. É uma coisa que parece que patina e não sai do lugar. E lá é difícil também, mas tudo parece que vai para frente. E eu lembro que o meu pensamento foi esse. Vou para lá. Lá as coisas são diferentes.

CAMILA CARPENEDO: O que você pensou quando veio para cá, Marino? Você lembra?

MARINO FRANZ: Na verdade, eu vim em busca de oportunidades. Tinha só o dinheiro da passagem, da vinda, da volta, não tinha mais. Tinha que dar certo, então. Era dar certo ou dar certo. Não tinha segunda opção. Mas, graças a Deus, deu tudo certo. Nunca tivemos preguiça para trabalhar, não escolhemos serviços também. Eu comecei de operador de máquinas até gerente de fazenda. Então, dentro de uma propriedade rural, eu sei onde se começa, onde se termina. Na parte comercial, também aprendi bastante. Todos esses anos de luta e vida. Também tive a oportunidade de ser gestor público, que me ajudou muito. Durante 12 anos da minha vida, fiquei na prefeitura. Quatro anos como secretário, vice-prefeito e depois como prefeito. E os desafios foram imensos. Pensar grande é necessário no Mato Grosso. Pensar grande porque o Estado é grande. Um Estado que está apenas começando. É um gigante adormecido ainda, está apenas começando. E nós temos que vislumbrar essas oportunidades e tentar preparar o solo para as futuras gerações poderem receber um município, um Estado mais preparado com essa visão macroeconômica. O Mato Grosso é inserido como grande player no mercado mundial.

CAMILA CARPENEDO: A gente costuma falar, Bruno, a gente ouve muito, e a gente ouviu muitos relatos aqui, de pioneiros, de pessoas que enxergam essa visão empreendedora de quem veio construir essas cidades e esse Mato Grosso. Então eu queria fazer essa pergunta para vocês. Na visão de vocês, além, claro, dessa visão empreendedora, que a gente já começou a falar aqui, o que fez Mato Grosso ser o que ele é hoje? Esse Estado grandioso que nos orgulha?

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Olha, primeiro, eu penso que é uma combinação muito feliz de fatores. Gente disposta a transformar a realidade. Isso é uma característica do Mato Grosso, esse empreendedor, que é visto em poucos lugares do mundo. Acho que as pessoas falam muito. Vale do Silício, na Califórnia, a China, com tanta tecnologia. E a tecnologia que foi desenvolvida aqui desde os anos 70 e 80 para fazer desse cerrado essa maravilha produtiva. A gente foi abençoado. Um clima muito bom, previsível até certo ponto. Riquezas naturais maravilhosas. E aí eu penso que o que faltava para tudo isso engrenar de vez era a gente ter essas raízes, como vocês falam aqui. Gente que veio para cá porque não queria ir para outro lugar, porque não tinha como ir. O Marino falou que não tinha passagem de volta. Eu abandonei proposta de emprego, tudo, vim para cá e disse que não tinha outra coisa. Quando tudo isso se encontra, isso destrava um potencial absurdo. Acho que com todas as dificuldades, com tudo o que o Brasil… O Brasil é um país muito difícil para empreender e para levar as coisas à frente. No setor privado já é muito difícil. No setor público, nós que já vivemos isso, é muito difícil. Essa mistura de potencial com gente que quer despertar esse potencial para mim, que é o que faz a diferença e que vai fazer a diferença por muitas décadas ainda pela frente.

MARINO FRANZ: Eu acredito muito no tripé, a natureza, a tecnologia e o homem. O Mato Grosso é um estado privilegiado, um estado que tem praticamente 90 milhões de hectares, é dez vezes o tamanho do estado de Santa Catarina. Tem uma estação de chuva bem definida. Tempo da seca, tempo da chuva, são terras plenas, terras de baixa fertilidade, mas que, por graça de Deus, tem o calcário para fazer a correção do solo, que era um problema. E a tecnologia veio vindo da pesquisa e o homem, o brasileiro, por natureza, é empreendedor. Gente jovem, gente empreendedora, disposta a trabalhar, disposta a fazer diferença. Então, vejo, nesse sentido aí, o Mato Grosso cresceu muito, vai crescer muito, porque o que nós estamos trabalhando, hoje são nós como hortas agrícolas, elas vão continuando a ter liquidez a médio e a longo prazo. Uma coisa você está inserida no processo produtivo que pode, daqui a três, quatro anos, pode ir para o seu final. E nós não, nós estamos no processo produtivo de commodities, onde o Brasil pode liderar essa demanda mundial, pode liderar com inteligência, que é a questão de comida e biocombustíveis, essa dobradinha aí. Proteína animal, porque a proteína animal tem um mercado muito grande, verticalizando. Nós temos que observar um pouco que, assim como o mundo já foi europeu, já foi americano, e agora está sendo asiático, mas, para o futuro, para o ano 2100, se projeta mais um mundo africano. Então, nós estamos falando dessas cidades hoje, que são as cidades grandes, elas vão desaparecer no livro da história, vai ser como o caderno do Lidir. A maior cidade no ano 2100 é para ser a cidade de Lagos, na Nigéria, com 88 milhões de habitantes. E a segunda cidade mais populosa do mundo vai ser Kinshasa, no Congo Central, com 77 milhões de habitantes. Então, essas cidades que nós conhecemos hoje, Tóquio, Nova Iorque, Paris, São Paulo, todas têm a tendência de ficar para trás, até a própria China. Então, o nosso negócio está muito bem alinhado, muito bem balizado com o futuro, porque a África toda, aumentando de população, e ela tem uma característica ímpar, que a África é muito tribal, é muito difícil você implantar um sistema produtivo num país que vive guerreando, ou hoje, um país de altos e baixos, onde não tem uma estabilidade econômica, mas são países de maioria muçulmanos, que vão… A tendência é, grande parte desses 2 bilhões de pessoas, de 8 para 10, até o ano 2050, vão vir da África. Então, essa parceria que o Brasil pode fazer com a África é muito oportuno, e o Mato Grosso, porque nós vamos estar montados em cima de mercadorias com liquidez. Para quem é comerciante, você sabe o que é ter liquidez, se você precisar dinheiro daqui a 4, 5 dias, e você tem uma mercadoria que o mercado compra, que tem liquidez, que vale algo, que vale um, dois, mas que possa ser vendido ou comercializado. Então, veja o Mato Grosso com muitas oportunidades ainda. Nós apenas estamos no começo do desenvolvimento. Ainda é um gigante adormecido o Brasil e o Mato Grosso.

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Deixa eu falar uma coisa. O Marino disse uma coisa que é importante. Energia, energia limpa, biocombustível, energia elétrica, o que quiser. O Mato Grosso está começando. Tem um futuro espetacular nisso. Eu vi hoje, Marino, acho que no Brasil inteiro tem mais de 12 bilhões de reais em projetos só de usinas de etanol de milho. Calcula todo o resto, biodiesel, energias eólicas, fotovoltaicas. O Mato Grosso tem potencial gigantesco para isso. Então, a bioenergia é uma coisa que vai crescer no mundo. O Mato Grosso está lá, bem posicionado e começando a trajetória. Alimento. Cada vez mais as pessoas vão precisar de alimento e elas querem alimentos naturais. Elas não querem alimentos artificiais. Eu já viajei pelo mundo, Marino. Vi, por exemplo, carne sintética sendo feita em laboratório. É lindo de ver. Tecnologicamente é um absurdo. Mas o gosto é péssimo. E as pessoas rejeitam isso porque elas querem carne natural. Quem consome uma vez proteína, seja suína, bovina ou de ave, não volta atrás. Não quer uma comida de segunda qualidade. E está lá o Mato Grosso, de novo, no centro das oportunidades. Eu penso que o futuro ainda reserva muito mais para a gente. Vai depender muito da nossa competência de aproveitar essas oportunidades que vão aparecer. E pensar nesse futuro para acertar o alvo antes. Marino, porque eu tenho um amigo que diz que tem muita gente que acerta o alvo que faz assim, vê para onde a seta foi e aí pinta o alvo lá depois. Para dizer acertou. Não, o nosso negócio é saber onde está o alvo e mirar certo a flecha.

BRUNO MOTTA: Muito bem. Vamos falar um pouco dos marcos. Muitos momentos, certamente, foram registrados e que vocês vivenciaram ou acompanharam de alguma forma. Gostaríamos, então, que vocês comentassem quais são ou melhor, que descrevessem os principais marcos de transformação que trouxeram o Estado até a realidade que ele é hoje.

MARINO FRANZ: Olha, eu sempre falo, o Mato Grosso foi arrastado pela China. Nós temos que lembrar disso aí. Então, o Mato Grosso era soja. Arroz é um mercado restrito, um mercado pequeno. E o soja, a China, vindo para o mercado mundial, com o crescimento populacional dela e com a demanda que ela precisava de proteína para transformar, para vocês terem uma ideia, só de carne suína, a China transforma 60 milhões de toneladas de soja em carne suína. O Brasil, apenas três. E ela consome 60 milhões. Então, esse gigante foi vindo, foi dando uma demanda, foi dando viabilidade para todo o processo de soja, que é a pesquisa, liquidez no mercado, abertura de áreas, tudo isso aí está atrelado ao desenvolvimento da China, da Ásia também, mas mais em função da China. Então, a China proporcionou esse desenvolvimento, junto com o nosso empreendedorismo, com a nossa natureza e com a nossa tecnologia. Então, isso foi um marco. O milho, situou outro marco para o milho. Em 2006, o Mato Grosso produziu 3,5 milhões de toneladas de milho safrinha. Com esse número, em 2006, nós estávamos quebrados aqui. Nós tínhamos o grito do Ipiranga, eu falei, é impossível porque você não tira o bando da cadeira da Faria Lima e não vem olhar o que está acontecendo. E eles vieram aqui, fizeram o maior projeto agroindustrial do Brasil aqui em Lucas do Rio Verde. Em 2013, começamos a estudar a parte de etanol de milho. Fomos para os Estados Unidos pesquisar, buscar recurso. Não conseguimos, mas conseguimos fazer uma parceria que viabilizou a primeira indústria de milho no Mato Grosso. E o milho e safrinha, eu vendi para eles 50 milhões de toneladas em 2012 para o ano 2025. Parecia impossível. Nós colhemos 55 milhões de toneladas de milho, safrinha. E agora, para o ano 2032, eu sou um pouquinho mais otimista que o Imea. O Imea está julgando 90 milhões de toneladas. Eu estou botando 100 milhões de toneladas sem abrir um hectare de terra a mais, derrubar, só incorporando áreas degradadas ou áreas que dá para aumentar muito a questão da produtividade do milho. O Mato Grosso colhe hoje 7 mil quilos por hectare. Os americanos colhem 18 toneladas por hectare de milho. Então, existe um espaço da produtividade que vai dar um ganho muito grande. Então, esse é o Mato Grosso que nós temos que pensar. Mato Grosso que vai dobrar em menos de 10 anos, vai dobrar a produção de alimentos. Vai ter que verticalizar as cadeias produtoras. A questão da logística já está toda defasada, porque hoje, se você vai tomar espaço da Ferrogrão, de Rondonópolis ao Porto de Santos, já não existe mais espaço. O governador tinha prometido para nós que, com 4 bilhões de litros de etanol, iria construir o duto, o etanol duto. E hoje, nós já estamos com 8 bilhões de litros, e não se fala mais em etanol duto. Só que, hoje, o Mato Grosso exporta já 8 bilhões de litros de etanol que vem para fora do Estado, e importa de óleo diesel de retorno, apenas 4 bilhões e 500 milhões de litros. Então, o caminhão desce carregado e volta vazio. Se inverteu essa realidade. Então, são esses ajustes de logística, de planejamento que tem que ser feito no Estado dentro daquilo que é a verdadeira vocação do Estado. O Mato Grosso nasceu para ser um gigante. Nasceu para ser um gigante.

CAMILA CARPENEDO: A gente está com essa pauta da logística e infraestrutura, a gente quer conversar sobre isso, mas antes eu queria perguntar para vocês, eu entendo muito desses pontos aqui que o Marino trouxe, já do desenvolvimento da agroindústria, bioenergia. Que cadeias produtivas vocês enxergam aqui no curto, médio, longo prazo, enfim, que mais vão se desenvolver então? Que a gente já pode enxergar como viáveis e potenciais para Mato Grosso?

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Olha, Camila, sem dúvida, o agro é o motor da nossa economia. E aí as pessoas, às vezes, muita gente na cidade, principalmente, não entende esse efeito irradiado que o agro tem. Olha tanta coisa que o Marino falou aqui. Ele disse que o solo era difícil, mas o calcário foi lá e viabilizou. Bom, a empresa onde eu trabalho da família vende brita para a construção, que faz as estradas e calcário corretivo de solo para ajudar na agricultura. Por que faz estrada? Porque tem alguma coisa para transportar. Senão não tinha investimento em infraestrutura. Quem está gerando tudo isso? É o agro que produz, como ele disse, para a China e para outros clientes do mundo inteiro. A agroindústria é uma realidade em Mato Grosso porque muitos investidores do mundo inteiro começaram a perceber que era melhor processar a matéria-prima aqui do que atravessar o mundo em navio com matéria-prima para processar lá do outro lado do mundo, transportar com menor valor agregado, um volume muito grande. Isso vai gerando um gargalo, vai virando um caos. Então, eu diria a você que todos os setores da economia, que de alguma forma estão nesse encadeamento do agronegócio, e olha, antes do agro, como produção de fertilizantes, adubos e tecnologia para o agro, como depois do agro, industrialização, o aproveitamento de tudo que é feito aqui, tudo isso tem um potencial gigantesco, com uma camada adicional que é recente, mas que vai fazer muita diferença. Novas tecnologias. A gente está vivendo a época da inteligência artificial, a época onde a tecnologia aplicada está disponível para todo mundo. A gente falava antes de ter que fazer a cobertura do Estado com sinal de telefonia celular. Hoje, uma antena Starlink te coloca conectado em qualquer ponto do planeta. Você vê nos carros as pessoas andando com essa antena porque a conectividade não depende mais da torre chegar, da fibra ótica chegar, e isso está fazendo com que a gente destrave potencial. Em colheitadeiras, por exemplo, que são indústrias sobre rodas, elas andam com toda aquela tecnologia processando material e tudo isso. E aí, para fechar, não é só a grande indústria, o grande agro que se beneficia. Toda a sociedade. Porque desde os pequenos prestadores de serviço, aquele cara que vende a marmita para o caminhoneiro, o borracheiro, a pessoa que está, de alguma forma, trabalhando nesse ecossistema, ela está se beneficiando desse grande motor do agro, que tem um combustível importante, disse o Marino, a China comprando os nossos produtos, não é, Marino?

MARINO FRANZ: É, eu vejo também, Camila e Bruno e Gustavo, nós vamos ser sempre agro. Então, nós temos que ter isso aí em mente. Porque o Mato Grosso tem 3,2 milhões de habitantes, ainda é um pequeno mercado consumidor, nós temos problemas ainda básicos para resolver com a logística, mas a cadeia de suínos vai desenvolver muito, é mais suíno. A cadeia de aves vai desenvolver muito, mais aves. A cadeia de gado, vocês estão vendo que o Cebolhá e o Lucas de Ouro Verde não tinham gado confinado depois da vinda dos DDGs, os DDGs da indústria de etanol. O gado confinado cresceu muito, agregou muito valor e ganhou escala comercial. Eu vejo a cadeia do algodão ainda, que dá para verticalizar ela muito, fazer fiação, partir para outras cadeias do algodão, não faz parada de exportar algodão em pluma. O caroço de algodão também tem um mercado muito grande, inclusive na fabricação de celulose de lintner, para fazer dinamite, que estamos sendo procurados para fazer. Nesse mundo de guerras, o caroço de algodão passou a ser um produto muito procurado por causa da fibra do lintner de algodão. Então, vejo essas grandes oportunidades ligadas ao agronegócio, porque, no outro cenário, eu vejo o Mato Grosso desenvolver a indústria metal-mecânica, quando a ferrovia, a FICO, estiver pronta, chegando até Água Boa, depois para Lucas do Rio Verde, que ela vai interligar com a ferrovia Norte-Sul, e pode trazer minério de ferro para cá, de retorno, para nós fazer pequenas hidrologias, para nós daí pensarmos em fabricar trator, fabricar equipamento agrícola. Mas hoje não faz sentido ainda. Então, nós temos que ter essa visão, ou que faz sentido. Não adianta nós sonhar com carro elétrico, ou que nós não temos os minerais que precisa aqui, não temos a tecnologia. Mas nós temos por obrigação e missão de ser líder no agronegócio, um agronegócio feito com alta tecnologia e com sustentabilidade.

GUSTAVO DE OLIVEIRA: E tem muita gente, Marino, dizendo que a mineração pode ser o novo agro em Mato Grosso. Realmente, a gente tem reservas minerais fantásticas aqui, fosfato, potássio, diversos minérios, e nem se sabe direito a riqueza mineral que tem no Estado. Então, calcula. A gente tem o agro na superfície, e a gente pode ter uma outra economia do tamanho do agro embaixo do solo. Olha o potencial.

BRUNO MOTTA: Falando em logística, a gente começou antes, agora podemos aprofundar. Como que a infraestrutura e a logística evoluiu nos últimos anos? Como que vocês percebem isso? E, ainda falando em logística, ainda existem limitações relacionadas a isso? Quais seriam as soluções possíveis para o momento?

MARINO FRANZ: Bom, eu acho que nós andamos muito devagar. Se olharmos ontem à noite, quem assistiu o jornal Fantástico ontem à noite, quando o Brasil tinha um milhão de carros, a China tinha um carro. Então, só para você ter uma… Eu, quando cheguei aqui, em 1980, a 163 já estava pronta. Nós estamos aí, com toda essa produção, duplicando a BR-163. A ferrovia, ela anda, mas ela anda em passos lentos. Ela não anda em passos largos. Na minha ótica, na minha visão, ela vai chegar na BR-070, entre Campo Verde e Primavera do Leste, no final de 2026. Daí para Lucas do Rio Verde vai ser uma outra pernada, que vamos falar de sete para oito anos aí. A logística para o Norte, Itaituba, a logística do Arco Norte, ficou pronta em 2020. Se vocês forem lá hoje, eu tenho um terminal portuário lá, a Seamport. É um… É um fervo de caminhão. É um negócio surreal, quase, para quem vai lá assistir aquilo lá. Então, nós temos tudo o que fazer em logística ainda. Temos que duplicar essas rodovias, fazer as ferrovias, fazer com que o país avance mais rapidamente. Eu vejo que muitas obras começam, e elas, por falha de projeto, ou questões ambientais, ou questão de prioridades para o país, são travadas. Hoje, nós temos o problema do juro muito alto. O juro muito alto inibe o investimento da iniciativa privada, deixa no player, no mercado, só como investidor potencial, o governo ou o BNDES. Isso não é saudável para o país a longo prazo. Então, eu vejo que, em logística, nós temos quase tudo para fazer ainda. Nós temos que fazer a Ferrogrão, nós temos que fazer a Rumo, trazer a Rumo até aqui, e fazer a FICO e duplicar muitas BRs e terminar essa estrada duplicada até Itaituba, no estado do Pará. Então, nós andamos muito pouco, muito pouco mesmo.

GUSTAVO DE OLIVEIRA: E, olha, sem números, eu presidi até o ano passado o movimento Mato Grosso Competitivo, que é uma entidade sem fins lucrativos, apoiada pelo setor produtivo, que faz contas para ver como o Mato Grosso pode ser um estado mais competitivo. Nós fizemos algumas contas, e isso que o Marino disse aqui, está exposto em números. Por ano, gente, o estado de Mato Grosso joga fora, em logística ineficiente, mais de 5 bilhões de reais. Como? Estradas que não existem, então o produtor tem que perder tempo, contratar frete mais caro, se virar para escoar sua produção, falta de armazenagem, que é outro problema crônico do estado de Mato Grosso associado à infraestrutura, e também estradas em péssimas condições. Embora se tenha feito muito trabalho nos últimos anos recuperando rodovias, é um fato que ainda temos muitos trechos onde ou a estrada está em péssimas condições, ou ela é insuficiente para escoar a produção daquela região. E essa conta feita mostra esse número que é alarmante. Veja, 5 bilhões de reais todos os anos. A gente falou da BR-163, né, Marino? Calcule se a gente pudesse pegar esse desperdício e ao invés de desperdiçar, transformar em investimento nas nossas estradas, a gente teria estradas fantásticas, ferrovias e outras alternativas, como hidrovias, para ajudar a escoar essa produção. O Brasil precisa fazer conta, e fazer conta no sentido de onde é melhor a gente colocar o recurso para resolver o gargalo produtivo, e eu acredito que é possível. Mato Grosso já foi um estado que importava energia elétrica, olha o absurdo, com tanto de usinas hidrelétricas que a gente tem, com esse potencial fotovoltaico, isso há muito tempo mudou e essa energia disponível fez a indústria se desenvolver no Estado. Tenho certeza que a hora que a gente tiver melhor infraestrutura, agricultura, mineração, vão dar outro salto de qualidade aqui no Estado de Mato Grosso.

MARINO FRANZ: É, eu concordo com o Gustavo. A infraestrutura é o gargalo. Não basta ter dinheiro, mas também tem o tempo. Hoje nós queremos tirar os anos atrasados, que praticamente o Mato Grosso não investiu, não teve condições de investir. Hoje a arrecadação do Estado está sendo boa, só no fator do setor nosso, que é o setor de etanol, e está agregando ao Estado 2 bilhões e 500 milhões de ICMS. Então, dinheiro que o Estado não tinha, o Estado, em tese, tem condições de fazer 2 mil quilômetros de estrada por ano só com dinheiro do ICMS do etanol. O Estado hoje tem um caixa forte, que tem que ser autor e promotor dessas mudanças que têm que acontecer, mas não podemos fechar as portas para a iniciativa privada, que também vai ajudar a fazer esses investimentos. O que o país realmente precisa, a curto, médio e longo prazo, é abaixar urgentemente, na minha visão, as taxas de juros, que permitam que o investimento volte e que não vire sucata o que sobrou. Porque quando você para de investir em estrada, para de fazer manutenção em qualquer infraestrutura, sucateia rapidamente e depois fica o dobro do preço. Então, nós temos que ter esse olho também em como fazer a manutenção e como fazer os investimentos necessários para que o Mato Grosso possa ser competitivo no futuro, porque cada vez mais as margens vão apertando e quem não tiver feito o dever de casa, com essa nova reforma tributária, a tendência é que apanhe mais que os outros.

CAMILA CARPENEDO: Vocês imaginam novos modos de fazer essa logística, que essa infraestrutura funcionar, assim como a gente tem visto alguns modelos diferentes, sem esperar tanto do poder público, enfim, como a gente viu em alguns projetos nos últimos anos. Vocês imaginam que a gente vai conseguir resolver por outros caminhos?

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Camila, os projetos aqui são tão bons, o gargalo na infraestrutura é tão grande que não tem dificuldade de atrair investidores privados para completar o que o Marino falou. O Estado hoje tem condições de investir o governo do Estado de Mato Grosso, mas todo esse volume de recursos, mais de 10 bilhões de reais no caixa, é insuficiente para o tamanho dos desafios. Esse desperdício é tão grande que a hora que a gente põe a conta no papel, chama o investidor e fala, olha, vamos investir, ajuda aqui, põe dinheiro privado para ajudar a fazer ferrovia, a fazer novos portos, a reduzir esses gargalos, a gente tem certeza que vai chover investidor do mundo inteiro querendo ajudar a resolver esse problema. E olha, todo mundo vai ganhar, porque quem usa vai acabar gastando menos, quem investe vai ter o seu dinheiro retornado em um tempo recorde e, principalmente, o desperdício vai virar lucro no bolso de muita gente.

MARINO FRANZ: Camila e Bruno, a Rumo, que está subindo de Rondonópolis para Campo Novo, para Campo Verde, para Lucas, ela é 100% capital privado, mas ela depende de financiamento. Ela depende de financiamento. Como é que você vai captar dinheiro hoje no BNDES e qualquer banco fazer um investimento privado com essas taxas de juros? Então, se você poderia fazer 100 quilômetros de ferrovia ao ano, se não faltar dinheiro, com o máximo de tecnologia, gente, do dia 1º ao dia 31, eu tenho um número aí na cabeça que eles podem fazer até 100 quilômetros, mas com essa taxa aí vai fazer 100 quilômetros como ao ano. Vai fazer 50. A FICO, que vem de Mararosa para Água Boa, depois para Lucas, ela é da Vale do Rio Doce. Também é capital privado, não tem nada de dinheiro público, mas que depende de financiamento. Então, se vai captar dinheiro, é longe. A ferrovia do Grão, que está sendo projetada pelo Quintela, que está aqui de Sinop, depois vindo para cá para fazer até Porto de Itaituba, ela é viável, ela é rentável, o problema são as taxas de juros. Então, são uma série de equações que o país tem que fechar para que os investimentos possam acontecer na velocidade que a demanda necessita. A demanda por logística é muito grande, mas não tem condições. Colocou muito bem o Gustavo, falta armazém. Como é que você vai fazer armazém com essa taxa de juros? Então, como é que o Mato Grosso vai continuar produzindo, expandindo? Tem que ter esse investimento subsidiado para que efetivamente, porque nós entendemos que o agro é vital para o país, é vital para o mundo, não é um luxo, é uma necessidade. Então, ele tem que ser tratado com olhares diferentes. Nós temos que vender melhor o nosso agro para que ele possa atrair investimentos do mundo inteiro, principalmente capital nacional, que possa remunerar isso de forma diferente, que seja bom para o ocupador, mas para o investidor que possa fazer a diferença no final do seu investimento a ser feito.

CAMILA CARPENEDO: O Marino trouxe agora esse ponto de vender melhor a imagem do agro e citou antes o Lucas do Rio Verde Legal como um projeto que foi pioneiro em mudar um pouquinho esse olhar também sobre o agro mais sustentável. E a gente gostaria de perguntar também para vocês sobre isso. Então, como vocês imaginam que Mato Grosso pode se posicionar cada vez mais como esse estado de uma produção sustentável?

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Olha, eu vejo que o Mato Grosso está vendendo muito bem essa imagem. É um estado que tem uma produção sustentável, que tem uma produção de alimentos, que tem uma produção de energia. É um estado que tem um potencial gigantesco para o futuro. E a gente tem que continuar trabalhando para que isso seja cada vez mais forte. E a gente tem que mostrar para o mundo que o Mato Grosso é um estado que produz com responsabilidade, que produz com sustentabilidade, que produz com tecnologia. E que a gente tem um futuro brilhante pela frente.

CAMILA CARPENEDO: Vamos trazer a nossa conversa agora para o cooperativismo. Como que tudo isso está alinhado aos princípios do cooperativismo e como que vocês visualizam, enxergam, enfim, como que o cooperativismo contribui para o desenvolvimento da nossa região?

MARINO FRANZ: Olha, eu vejo que as cooperativas, desde a criação da Sicredi, elas têm um foco, um nicho de mercado de trabalho muito bem definido. Eu vejo que a turma da Faria Lima voltou mais para os bancos, ela desconsiderou o potencial do relacionamento. O relacionamento, o cara que vai em um banco, quer ser atendido por um gerente da conta dele, da área dele, é um banco que participa da comunidade, que se faz presente no dia a dia, e esses bancos são muito frios. Se você vai em qualquer banco hoje de Lucas do Rio Verde, que não for uma cooperativa, você tem dificuldade de ser atendido. Você tem, realmente, uma dificuldade muito grande. E onde você é mal atendido, você não volta mais. Então, o grande mérito das cooperativas foi, está sendo para mim, esse foco no cliente. Estão presentes nas comunidades, estão presentes no cliente, na vida do dia a dia, e conseguem fidelizar esse parceiro. E um cliente fidelizado, ele é uma oportunidade para fazer muitos bons negócios. E as cooperativas estão aí com o faturamento alto, dando rentabilidade, com valor patrimonial líquido grande, mas é graças ao trabalho deles, é o mérito do sistema cooperativista, que é muito bem focado e muito bem segmentado. Nesse nicho de mercado, para alguém que está fidelizado em uma cooperativa, dificilmente há espaço para um outro banco vir de fora e dar uma garfada ou pegar um pedacinho. Então, é o foco que faz a diferença.

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Agora eu vou falar com um pouco de orgulho, como conselheiro da Ouro Verde. Tem que falar. Com certeza. Primeiro, é muito importante isso, gente. Realmente, o resultado não é lucro, aqui é resultado. Ele é reinvestido na própria comunidade, seja através da distribuição desses resultados para os associados, seja através de ações. Quantas ações sociais o Sicredi Ouro Verde faz? Tem o programa Crescer, tem uma lista de mais de 30 programas. Eu não vou falar um ou outro, porque a gente acaba esquecendo numa lista tão ampla. Semana passada eu estava vendo o Cine Raízes, levando cinema para comunidades, mais de 2 mil pessoas assistindo ao cinema, muita gente pela primeira vez, gente que nunca iria a uma sessão de cinema, nunca teve dinheiro para comprar o ingresso de cinema para a família sentada lá vendo. Tudo isso é devolvido para a sociedade. E também, quando a gente pratica taxas de juros mais competitivas do que outras instituições financeiras, isso também ajuda muito o empreendedor. Quando a nossa maquininha de cartão de crédito está lá com uma taxa bem menor do que a dos concorrentes, é mais dinheiro no bolso do comerciante. Quando a gente faz uma operação de crédito com uma taxa de juros um pouco abaixo desses juros absurdos que se cobram no Brasil, esse pouco a mais pode fazer toda a diferença entre o empresário sobreviver ou sucumbir. Acho que essa função social da cooperativa, não só das cooperativas financeiras, mas em todas as áreas, é o que faz a diferença. E manter as raízes. De novo, o podcast é muito bom porque fala disso, de raízes, da gente ficar aqui na terra e não mandando dinheiro para a Faria Lima ou para outro país do mundo, mas distribuindo resultados na comunidade. Acho que essa é a grande diferença.

CAMILA CARPENEDO: E a gente fala muito sobre esse olhar para o coletivo que as cooperativas promovem. A gente ouviu muitos relatos, Bruno, desde que a gente começou o Raízes Ouro Verde. Tantos relatos de associados fundadores, pioneiros, que trouxeram a importância desse fazer juntos, desse olhar para a coletividade que fez a diferença em momentos difíceis, em desafios. E aí a minha pergunta, para a gente já se encaminhar para o fechamento, é como vocês enxergam, então, o que a gente ainda pode construir juntos? Um olhar otimista aqui, uma mensagem final para quem está nos assistindo. O que a gente ainda vai construir juntos para esse futuro de Mato Grosso?

GUSTAVO DE OLIVEIRA: Eu penso que o futuro, cada vez mais, é colaborativo. São pessoas, empresas, trabalhando em rede, se ajudando, se conectando e fazendo a sociedade prosperar. Aquela ideia de que não pode ser bom para a abelha se não for para comer inteira, cada vez mais vai valer no mundo. E essa cultura associativa, ela vale nos negócios, vale na sociedade e é o DNA cooperativo. Então, não sei como é que o Marino enxerga, mas eu imagino que quem chegou aqui antes da cidade ser fundada também tem muito desse espírito. Se um não apoiar o outro e todo mundo ir junto, não tem como ir para frente. O mundo caminha para isso. Eu vejo o olhar social da cooperativa, que é muito importante, mas eu citaria como item número um relacionamento. A palavra relacionamento entre associado, cooperativa e comunidade vai ser o fator determinante. Porque, como eu falei antes, onde você não é bem atendido, você não volta mais. Então, o relacionamento cada vez vai ter que ser mais cultivado nas comunidades, nos municípios, nos estados, nos países. Nós estamos vendo agora com a tarifaça do Trump. Então, a questão do relacionamento vai ser determinante entre o sucesso e o fracasso.

BRUNO MOTTA: Muito bem, Gustavo, Marino, nossos agradecimentos pela disponibilidade. Já acabou? Olha só, 50 minutos que passa rápido, quando a conversa é boa. Quando o papo é bom, passa rápido. Conversamos bastante, mas ainda temos um espaço para um fechamento. Claro, a gente deixa as considerações finais de vocês. E os nossos agradecimentos, desde já pela participação, por terem trazido um conteúdo tão bacana para um episódio tão legal como esse. Um episódio que vai ficar gravado, Bruno, para a gente olhar para esse futuro que a gente espera ir para Mato Grosso.

MARINO FRANZ: Nós vamos ter que voltar daqui a um tempo, Marino. Para a gente ver se tudo se concretizou, que a gente sonhou aqui. Eu quero agradecer ao Gustavo, foi um prazer conhecê-lo. Conhecia ele já, mas nunca tínhamos a oportunidade de falar de perto. Camila e o Bruno, por terem sido convidados para colocar nossos pontos de vista. E nós estamos aqui, lutando para Lucas do Rio Verde, e lutando para as empresas daqui, lutando pelo Mato Grosso. E, portanto, que dê certo, continue dando certo, para que todo mundo possa usufruir dos benefícios do desenvolvimento. Agradecer demais o convite. É uma honra estar aqui. O Marino é uma referência, não só no mundo empresarial, mas no setor público. Acho que não só o Marino, mas diversas pessoas. A gente precisa dizer, acho que o Lucas do Rio Verde tinha que abrir uma escola de prefeitos, Marino. E ensinar esse povo, Brasil afora, como é que se desenvolve uma cidade. Mas agradecer principalmente ao Sicredi, por todo o trabalho que tem feito, gente espetacular, por Mato Grosso, pelo Brasil e, principalmente, pelas pessoas. Acho que isso que o Marino disse de relacionamento, não só no relacionamento com a instituição financeira, mas no relacionamento com a sociedade, é uma das coisas mais importantes. E o valor, os resultados que são entregues para a sociedade, são fantásticos. Por isso que a gente vem aqui com tanto prazer, conversar, bater papo e tentar adivinhar o futuro. Daqui a uns 20 anos a gente volta e aí presta conta do que a gente acertou. Não é isso, Marino? 20 anos eu espero estar presente. Ah, você vai estar. A tecnologia está aí para ajudar a gente nisso. Nós dois vamos estar aqui. Vem de bengala, vamos contar aqui. Vamos deixar marcado esse encontro já, né, Bruno? Combinado já, né? A gente agradece demais. Foi muito legal a conversa. E para você que nos acompanha, então, grave esse episódio, né? Grave esse episódio. E a gente espera também vocês nos próximos episódios que ainda estão por aí, por vir, né? Para a gente encerrar o nosso Raízes Ouro Verde, esse projeto tão especial, que celebra os 35 anos da cooperativa. Uma mensagem que ficou marcada aqui hoje é que a gente sabe, né, Bruno? Que esse futuro que a gente tem por vir aí é colaborativo e a gente vai construir junto com vocês. Isso mesmo. Na próxima semana tem mais. Os episódios que já foram disponibilizados, só para a gente reforçar, estão disponíveis no nosso Instagram, Facebook, YouTube. Dá para assistir quando e onde quiser, né, Camila? Até a próxima semana. Até lá.

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