O Raízes Ouro Verde desta semana recebe os associados Anders José Wohl e Dilceu Copetti para um bate papo sobre dois importantes municípios na história da cooperativa: Itanhanga e Ipiranga do Norte. Os convidados relembraram os efeito da chegada da Sicredi Ouro Verde na regiã e como, até hoje, o empreendedorismo impacta no desenvolvimento dessas cidades.
Anders e Dilceu ainda destacaram as mudanças nos processos da cooperativa, as melhorias na gestão com as evoluções tecnológicas e, claro, boas histórias de quem foi testemunha do crescimento da Sicredi Ouro Verde e do fortalecimento desses dois municípios.
TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 8
Camila:
Olá, está começando mais uma edição do nosso Raízes Ouro Verde, esse podcast onde a gente conta histórias de transformação e do futuro que nos espera a partir do cooperativismo. Isso mesmo, por aqui nós já contamos, né Camila, muitas histórias aí de pessoas que, por meio do cooperativismo, transformaram as suas histórias e também a história das regiões onde vivem, dos municípios onde vivem e também, é claro, a realidade dos municípios, de todos os municípios da área de atuação da Sicredi Ouro Verde. E quando a gente está falando da área de atuação da Sicredi Ouro Verde, a gente está falando então de 15 municípios que vão de Cuiabá até Itanhangá, né Bruno? É uma grande região de Mato Grosso, uma região muito próspera.
Bruno:
Isso mesmo, e hoje nós vamos falar sobre dois desses municípios que são muito importantes para a Sicredi Ouro Verde, um deles Itanhangá e o outro Ipiranga do Norte. Essas duas cidades, elas têm muitas semelhanças nas suas histórias e entre elas, é claro, a presença da Sicredi e do cooperativismo.
Camila:
É isso mesmo. E para a gente falar então sobre essas duas cidades, a gente recebe aqui hoje no nosso estúdio dois personagens importantes também da história de Itanhangá e de Ipiranga, e também muito presentes na história da cooperativa nesses dois municípios, que são o Anders José Wewell e o Dilceu Copetti. Eles são associados da Sicredi lá em Itanhangá e em Ipiranga e estão aqui com a gente hoje para a gente contar algumas dessas histórias, então sejam muito bem-vindos ao nosso Raízes Ouro Verde.
Andes:
Obrigado.
Dilceu:
Obrigado, estamos aí.
Bruno:
E já vamos começar com muitas histórias, porque a gente precisa também entender, né Camila, a história de vocês lá no início, como chegaram, de onde vieram, quem são os nossos personagens, os nossos entrevistados de hoje. Então, por favor, se apresentem para os nossos ouvintes, os nossos associados aqui do Raízes Ouro Verde.
Anders:
Bom, então, eu sou o Anders José Wohl, né, agricultor. E sou casado com a Silvana, que é professora, né, e a gente, quando jovem, né, isso há vinte e poucos anos atrás, optou, né, por vir morar nessa região, Itanhangá. Era um assentamento recém criado, quando chegamos já era município, né, o pessoal já tinha os pioneiros, né, então a gente não era pioneiro, mas hoje, vinte e poucos anos depois, fazemos parte da história, né, a gente.
Essa luta, né, pelo desenvolvimento, então, como foi difícil no começo e hoje a satisfação, né, de onde a gente está, por tanto acontecimento bom que já aconteceu, da evolução, né. Vieram de onde, Anders, só para, de qual região e, assim, o que motivou vir para um lugar, né, que tinha recém sido emancipado? É, viemos de Mafra, Santa Catarina, né. Eu sou nascido e criado em Santa Catarina, em Mafra, a Silvana já, também de Santa Catarina, mas da região oeste, e também, elas já vieram vizinhar com nós lá, e a gente foi crescendo, e se conhecemos e casamos. Aí, sempre aquela, vamos dizer, você tem a expectativa de desenvolvimento, né, a notícia era que, vamos dizer, tinha espaço, a região tem espaço, né, você, quando a gente veio, por uma ocasião de visitar uma tia da Silvana, que morava em Itapurá, e a gente conheceu a região, e isso estava expandindo o assentamento, aquela notícia que ia, que ia ser município, e a gente via nisso, tudo tão difícil, mas a gente via uma prosperidade ali, uma oportunidade, né, então, viemos ali, né, e a gente optou, tinha, ela era professora, recém-formada, então, tinha demanda, tinha serviço, né, vamos dizer, lavoura também, eu plantava lá no sul, área arrendada, a gente não tinha terra, aqui, os trocos que a gente tinha, conseguiu comprar um pedaço de terra, que eu não sou assentado parceleiro da, eu comprei uma propriedade rural, né, pequena, mas, e a cidade próxima era Itanhangá, aí a gente foi lá, né, viemos morar em Itanhangá.
Bruno:
Copete, você está em Ipiranga um pouquinho antes da chegada, né, do Anders lá em Itanhangá, e como foi? Conta um pouquinho, então, das suas raízes e de como você chegou em Ipiranga do Norte.
Dilceu:
Assim, a gente é natural de Toledo, no Paraná, e migramos para o Mato Grosso. Na verdade, quem veio primeiro foi meu pai, que comprou uma área no município de Lucas do Rio Verde em 1982. E aí ele foi abrindo essa área e tal, e eu vim residir aqui em 97, 1997. Por consequência, a gente foi se estabelecer no Ipiranga do Norte como comerciante em 1998, antes ainda da cidade ser emancipada. Isso mesmo, antes da cidade ser emancipada. E o que levou, então, vocês para Ipiranga, né, o que tinha lá que atraiu? Na verdade, assim, foi um acaso. A gente residia na agrovila Groslândia, município de Lucas do Rio Verde, e é onde surgiu a oportunidade de cuidar de um posto de combustível em Ipiranga do Norte. Esse posto de combustível, o proprietário era o seu Vilarim Tibiriçá.
E ele quis que a gente fosse lá tocar, trabalhar com ele nesse posto de combustível. Foi onde a gente trabalhou um ano com ele e acabou adquirindo esse posto, esse empreendimento, né, e acabou se estabelecendo naquela cidade ou naquela vila, naquele assentamento, melhor dizer.
Camila:
E agora, assim, os dois, né, naquele período, né, Bruno, ali do final dos anos 90, início dos anos 2000, né, qual era a realidade, então, daquelas duas cidades, se vocês puderem contar um pouquinho pra gente, né? Hoje são cidades já muito bem estruturadas, né? Qual era a realidade de Itanhangá e de Ipiranga do Norte, então?
Anders:
Bom, Itanhangá, quando a gente chegou, nem energia elétrica tinha, né? Então, daí que a gente percebeu que estava difícil, né?
Mas, assim, aquilo foi acontecendo, as pessoas, a comunidade unida, né, sempre conversando nas reuniões e o que que podia fazer pra melhorar, né? Estrada, energia, educação, saúde, né? Então, foi buscado, né? Através disso, os próprios parceleiros lá já eram, aqui não vamos falar do Sicredi, né? Chegamos em Itanhangá, não tinha nenhuma instituição financeira, dali a pouco já tinha o Sicredi ali, onde eu já vim me associar, né? Digo, fiquei contente porque era uma cooperativa, a gente já era associado de cooperativa e de crédito lá no sul. Então, isso facilitou bastante, né? Essa chegada, né? Então, assim, tudo foi acontecendo. Não de uma forma, assim, tão tranquila, mas chegou a energia, chegou o Sicredi, chegou o Correio, dali a pouco o comércio, as lojas de peças, e foi acontecendo, a Prefeitura foi melhorando o atendimento, né?
Isso foi tudo evoluído.
Dilceu:
Não foi diferente. Um pouquinho antes, então, um pouco mais difícil foi quando a gente chegou lá em 98, que se deparou com uma situação parecida, sem energia, sem telefone e começamos a trabalhar. Começamos a trabalhar, mas se deparamos com muitas dificuldades. Especialmente, por exemplo, o tratamento do movimento comercial. O teu movimento do teu comércio, você ia fazer o que com ele? Lucas do Rio Verde ficava 110 quilômetros, Sorriso 85 quilômetros. Então você, na verdade, acumulava o teu movimento uma semana, por exemplo, se você não saísse por alguma coisa que tinha que fazer, você ficava. E aí, toda semana tinha que sair e levar o movimento para alguma instituição financeira em Lucas ou Sorriso. Aí que existiu, as lideranças do assentamento tinham contato ou faziam negócios mais com Lucas do Rio Verde, Banco do Brasil e o próprio Sicred.
E aí começou-se uma interação. Com o seu líder, para levar o Sicred, abrir uma unidade do Sicred lá no Ipiranga. Em 1999, isso aconteceu. Mais ou menos março de 99, aconteceu a abertura de uma unidade, inclusive uma sala cedida por mim, lá no Alto Posto Copete, onde se abriu uma unidade do Sicred. Aí foi um marco. Naquele lugar era uma localidade, tipo assim, sem esperança de crescimento. Como a chegada do Sicred foi um marco que estava dizendo que tinha mais gente acreditando na localidade. Foi onde as coisas se abriram. Aí tudo fluiu, tudo começou a andar. Foi com a chegada do Sicred no Ipiranga.
Camila:
Então quer dizer que você, além de ter ajudado nessa mobilização, você emprestou um espaço lá para poder instalar a primeira unidade do Sicred? Conta melhor para a gente como que foi isso.
Dilceu:
Para começar, alguém precisava dispor de alguma coisa para isso acontecer. Como a diretoria, o seu líder como presidente, se disponibilizaram de levar até lá, nós nos disponibilizamos a arrumar um lugar para aquilo ser instalado. E aí eu cedi a sala onde estava o escritório do Alto Posto, mudei para uma salinha menor do lado e foi aberto, foi colocado lá uma mesa, um balcão, onde o gerente começou a trabalhar. O gerente fazia parte da gerência de caixa. Fazia tudo. Tinha um funcionário só. Só um colaborador. Mas não levou muito tempo, muitos dias ali, já precisou, teve a necessidade de mais um, que o serviço aumentou.
E aí, um ano após, já existiu a necessidade de construir uma unidade, construir uma sala um pouco maior, onde aí começou a caminhar e se direcionar as coisas para os lugares certos.
Bruno:
Acho que cabe a gente voltar um pouquinho, porque tem um ponto que o Copete falou, que foi em 1999 que a cooperativa se instalou lá. Mas Ipiranga do Norte não era nem município ainda emancipado. O município emancipou em 2000, é isso? Então, antes mesmo de ser município, o Sicredi já estava presente lá. E acho que é legal a gente falar também um pouquinho da história dessas duas cidades. As duas têm uma origem bem parecida de assentamento de reforma agrária. Como que vocês acompanharam isso? Até que ponto vocês sabem?
Sabem de como que isso também impactou a formação dessas duas cidades, né?
Dilceu:
Na verdade, quando eu cheguei no Ipiranga, muitas pessoas vieram oriundas do Rio Grande do Sul naquela mesma época, buscando prosperidade, aumentar os seus negócios. Tinha pessoas, eu vivi isso, e eu acho que isso nunca mais vai existir, de pessoas chegarem com o caminhão, a mudança em cima do caminhão, e não ter onde descarregar essa mudança. Não tinha casa? Não tinha uma casa construída, não tinha onde alugar uma casa, e aí descarregava a mudança num local e construía a casa do lado para colocar a mudança dentro. Um barracão, o quê? Qualquer coisa. Uma lona. Uma lona. Para proteger. Para proteger a mudança. Para proteger a mudança até que ficava a casa pronta. Era uma realidade realmente de construção de tudo, né?
Que tinha para se fazer. De desenvolvimento de tudo. Sem energia, sem telefone. Então, essas coisas, só quem viveu lá naquela época acredita nisso, ou conviveu com isso, para saber de uma realidade de como é que aconteceu. E aí as coisas foram andando, surgiu a possibilidade de a gente emancipar, em 1999, aí o trâmite da documentação aconteceu, foi indo até que março de 2000, 29 de março de 2000, o governador sancionou a lei de emancipação. E aí Ipiranga do Norte e Itanhangá, que foi no mesmo período, se tornaram então municípios independentes. Mas também não significou muita coisa naquele momento, pelo que vocês estavam contando antes, né? Foi no mesmo dia, mas teve mais tempo, né, para começar as atividades.
Andes:
É, como o Copete falou, houve a emancipação, e como era o pleito municipal, não dava tempo, acho que, de organizar as eleições, e daí ficamos dependentes do município-mãe. Eu, quando cheguei, já era município de Itanhangá implantado, e a história que o Copete conta da questão das mudanças, de dificuldade de casa para alugar, isso é verdade. Eu precisei fazer umas três mudanças em Itanhangá, até eu conseguir construir, porque, às vezes, eu locava para 30 dias, se punha ali por 30 dias, depois a pessoa ia ocupar, e esse dia que se mudava para outra, aí o cara dizia, não, derrubou para mais uns dois meses aí e ali, até construir, achar uma casa que desse para um ano de aluguel, porque também era difícil, né?
Bruno:
Você trouxe um registro aí, Anders, de o que você encontrou lá naquele início? Isso, mostra para a gente essa foto aí.
Dilceu:
Eu tenho uma foto aqui, que é uma foto aérea, né? Isso aqui já é a cidade de Itanhangá andando, né? Já tem muitas construções. Muitas construções aí. Aí já era no ano 2000, né? 2002, porque realmente o assentamento ali começou em 97 também, o pessoal, os primeiros pioneiros, né? Os assentados do INCRA chegaram ali, e então eles que mobilizaram, e a gente, quando chegou no ano 2000 e em diante, a gente se integrou também.
E daí a história do Sicredi, né? Nós chegamos num lugar, não tinham como pagar uma conta de um boleto, que tinha que pagar alguma coisa, tinha que sair para fora. Você ia em Itapurá, ou Lucas, né? Que era o acesso. Então, assim, isso aí é o que aconteceu, né?
Bruno:
A gente vê essa foto e imagina, assim, como que eram estabelecidas as prioridades, né? A gente falou de abertura de estradas, energia elétrica que não tinha, a questão da água mesmo, imagino eu. Como que vocês estabeleciam essas prioridades do que precisamos fazer agora e quem eram essas pessoas? Porque a gente está falando ali da comunidade que se criou, que se formou, e que todo mundo tinha um papel, imagino eu, né? Cada um fazia alguma coisa? Como é que era?
Anders:
Bruno, na época, ninguém podia ficar esperando nada de ninguém. Não existia um poder público ou uma prefeitura onde você ia solicitar alguma coisa. Ah, não tenho água. Não, você ia atrás da tua água. Uhum.
Se você queria uma energia, você ia atrás da tua energia. Colocava um motor lá, um gerador e fazia ele funcionar a teu custo. Então, assim, cada um correu atrás de cada dificuldade que ia aparecendo, cada um foi dar jeito de vencer ela. Não tinha que ficar sentado esperando alguma coisa que alguém viesse fazer para você. Então, assim que as coisas, as dificuldades foram vencidas, foram superadas.
Camila:
E aí tinha muito espírito coletivo, então, né? Para que as coisas funcionassem. A gente vê isso muito presente nessas duas comunidades, né? Vocês enxergam isso? Sim. A questão das associações comunitárias.
Anders:
Então, o pessoal como o Copete citou ali, se organizava via associações, que tinham uma demanda, e na questão de água, foi feito, ia pedir ajuda para os municípios vizinhos e governo do estado, e tudo. E particularmente, arrecadava, o pessoal arrecadava através da associação, fazia o poço e ia enterrando as mangueiras. E logo já veio a energia em Itanhangá, não sei se Ipiranga também pagaram. Nós financiamos a rede e pagamos por 10 anos a rede de energia. Dali que veio mais a necessidade de ter o Sicredi, porque tinha que pagar a cada 30 dias a conta, né? Então, assim, cada demanda, né? O pessoal se unia e os municípios vizinhos tiveram uma importância também grande, porque sempre foram os prefeitos, né? Na época, Lucas era o Otaviano, Tapurá era o Tirlone, lá o Reinaldo, né? Então, vamos dizer, sempre ia buscar ajuda. Talvez não era de acordo, mas sempre atendendo e melhorando, né? E tinha também um perfil, assim, de muitas pessoas como você, né, Copete?
Que tinha um vínculo aqui com o Lucas e acabou indo para Ipiranga, né? Tinha pessoas, assim, com esse comportamento de migrar aqui de Lucas para ir desenvolver lá, né? Ipiranga e Itanhangá, né? A maioria das pessoas, aquelas que não foram assentadas, oriundas do Rio Grande, que estavam em Nobres esperando um assentamento e foram trazidas para o Ipiranga, são oriundas já com o pé aqui na nossa cidade. Então, teve-se essa ajuda mútua de outras pessoas que estavam já constituídas na região aonde tinham mais estrutura, né? E aí foi uma estrutura beneficiando a outra, né? Falou de energia. A energia que chegou no Ipiranga e no Itanhangá foi de um projeto luz para o campo. Do governo federal. Inclusive, esse projeto não podia beneficiar uma localidade, uma cidade, mas foi desmificada ela.
E aí atendeu a gente. Ele era só para propriedade rural. Mas aí a coisa foi mudada um pouquinho e atendeu essas duas localidades que senão iam ficar sem energia também. Por isso que tinha o pagamento dos 10 anos dessa rede que a gente pagava com gosto, a gente pagava feliz que tinha energia, né? Porque a energia também muda tudo, né? Para que o desenvolvimento aconteça, assim como as estradas que vocês estavam contando para a gente antes, né? As dificuldades quando não se tinha estrada para poder acessar também a região, né? A energia, na verdade, é aquilo que o Petinho falou ali. Ia de atrás, tinha o gerador, o motor, mas isso tinha um custo, tinha uma manutenção, isso não, né?
É, a questão da gente, falando de motor, né, de energia, aquele motor é a diesel, então dava problema a manutenção, o custo do diesel era altíssimo, né? O acesso e o custo também na época, então a energia elétrica, por mais que nós estávamos pagando aquela parcela, você fazia o cálculo, não, ainda fica mais em conta. E daí é 24 horas por dia, né? Então, assim, foi tudo, melhora para tudo, né? Você tem os equipamentos eletrônicos, na época, né, os computadores, você conseguia já conectar e fazer rodar, né? Então, ajudou muito, né, essa energia. Não tinha valor, mas pagava mesmo, pagava com gosto, né?
Camila:
E eu queria que vocês falassem um pouquinho também, né? Acho que vocês começaram a falar um pouquinho da história do Sicredi, né, de como que a cooperativa chegou lá, mas a gente também tem, teve e ainda tem outras mobilizações de cooperativas muito presentes, né? Cooperativas agrícolas, enfim, presentes ali nesses dois municípios. O que representa isso, né, no desenvolvimento dos municípios, na visão de vocês, né, essa organização por meio das cooperativas? Eu acho que o Anders pode começar falando, né, já, como presidente de uma dessas cooperativas. É, assim, o Sicredi teve participação fundamental no desenvolvimento de Itanhangá, porque, vamos dizer, uma instituição financeira, como foi citado, você precisa de onde vai pagar um boleto, depositar um valor ou fazer um pagamento, tudo é um movimento financeiro, né?
Anders:
Então, teve fundamental importância, a gente conheceu através das assembleias e das reuniões de núcleo, o seu Elidir, que é o presidente, e também sempre levantando nas reuniões do Sicredi a necessidade, né, porque nós temos dificuldade, né, as cidades menores na comercialização dos produtos, da produção agrícola, né, no geral. Então, a gente levantou sempre aquela questão do cooperativismo, né, da cooperativa agropecuária, e de forma que fomos incentivados, e a gente teve até várias reuniões com o próprio Elidir, falando e trocando ideias, e criamos a cooperativa agropecuária dos produtores rurais de Itanhangá, ao qual eu sou o presidente até hoje, né, e estamos lá, fazendo negócios, né, com os produtores, e a importância, né, desse cooperativismo, né, porque você levanta as demandas, né, que você tem dos vários setores, né, porque a gente fala, às vezes, olhando o cooperativismo, no nosso caso, a nossa cooperativa atende a cinco atividades, né, do agro, né, que vai dos produtores de soja e milho, a pecuária de leite, a pecuária de corte, a agricultura familiar.
Né, as microagroindústrias rurais, né, que o desafio é a questão de legislação, né, para você conseguir entrar no mercado, mas, vamos dizer, através da cooperativa estamos lutando e estamos desenvolvendo, né, estamos atendendo essa demanda. Então, eu digo assim, se você for ver lá, desde o início, esse crédito teve fundamental importância, né, assim, na participação, nesse nosso desenvolvimento e é onde nós estamos até hoje, né. E incentivou essas outras iniciativas. E no Ipiranga não foi diferente. Existiram aberturas de áreas, existiu a produção e aonde ia colocar essa produção? Tinha que trazer em Lucas do Rio Verde de caminhão. E aí a distância dava 167 quilômetros de Lucas do Rio Verde até o Ipiranga. E aí carregava um caminhão de caminhão.
Então, os agricultores lá no Ipiranga levavam uma semana para vir aqui em Lucas e voltar, porque tinha toleiro, estrada ruim, o caminhão quebrava. E aí os produtores, os assentados com essa dificuldade, se reuniram e fundaram uma cooperativa de grãos, aonde foram buscar recursos para construir um armazém para poder depositar essa produção deles.
Camila:
Imagino que deve ter mudado muito a realidade, né, porque você pode ter um período de colheita, mas não é o mesmo. Tem mais agilidade para conseguir colocar a produção protegida. Então, essa mobilização econômica em torno do cooperativismo, vocês entendem que isso também é importante para a história daquela comunidade? Fez a diferença na forma como as pessoas se organizaram?
Dilceu:
É a história, né? Vamos dizer assim, essa mobilização é o que faz acontecer né? Você é nós. Nós, os atores do negócio, né? Nesse conjunto, né? Então, quando você reúne todo esse movimento, todas as atividades, ela faz esse fluxo, né? E é onde a gente vem conseguindo atender e vencendo os obstáculos. Nós temos muito, e Itanhangá tem tudo para desenvolver, eu digo, né? Porque hoje, vamos dizer assim, estamos lá, instalados, cidade, né? Mas produzimos bastante. Bastante matéria-prima, que é o caso até de Ipiranga, mas nós precisamos transformar isso, né? Então, eu digo assim, através da cooperativa agroindustrial, eu digo, poderia também desenvolver essa atividade. Entrar nessa nova fase econômica. Entrar nessa fase, porque nós temos, hoje nós evoluímos, estamos, vamos dizer, onde nós chegamos. Conseguimos estrada, acesso, né? Energia, cidade instalada, mas nós precisamos, a vida não para, né?
Todo ano, nós temos uma safra para transformar e as demandas, né? Que vão surgindo. Então, eu digo que através da cooperativa, uma cooperativa agropecuária, também poderia entrar a parte da agroindustrialização, né? Transformar esse produto.
Camila:
Agora, para a gente detalhar um pouco mais sobre a fundação da cooperativa da Ouro Verde, né? Nos dois municípios. A chegada, né?
Bruno:
A chegada, realmente. Como foi isso? Até interessante. Porque outras pessoas que já passaram por aqui, né, Camila? Falaram de como foi trazer os associados, contar, né? Explicar do que se tratava a cooperativa. Como foi, na cidade de vocês, esse processo de convencer os moradores locais para se unirem? Imagino que, assim, nessa época já se conheciam histórias, porque Lucas do Rio Verde, por exemplo, a cooperativa já estava instalada, funcionando muito bem, assim como Itapurá, que eram dois municípios próximos de vocês, né?
Vocês já tinham contato com uma história de sucesso, digamos assim, né, da cooperativa. Foi mais fácil para levar? Atrair, né? Atrair a cooperativa para lá?
Dilceu:
Na verdade, assim, era uma necessidade grande de se ter uma instituição financeira. Então, e aí o Ipiranga, como tinha muita ligação com o Lucas do Rio Verde, e tinha muitas pessoas daqui que tinham já propriedades lá, já eram associadas do Sicredi, e isso não foi muito difícil de atrair associados. A dificuldade de atrair foi mais depois, né? Hoje, por exemplo, que tem que se buscar associados. Mas, na época, como foi a única instituição financeira da localidade, e ficou sendo a única de 99 até 2008, quando se instalou o Banco do Brasil, então, buscar associados foi uma parte bem mais fácil, não era tão difícil.
Camila:
Era uma necessidade das pessoas.
Dilceu:
Exato.
Camila:
A instalação do Sicredi no Ipiranga foi, assim, a pilastra que precisava para a região se desenvolver. Foi a segurança. O Sicredi deu a segurança para a localidade ser desenvolvida. E você falou que levou, levou quase 10 anos, então, para ter outra instituição. Foi muito tempo que as pessoas, né, que o Sicredi estava ali, determinando mesmo aquele desenvolvimento. E Itanhangá também foi parecido, né? Foram muitos anos sendo a única instituição financeira ali, né?
Anders:
É, Itanhangá, eu não participei da instituição do Sicredi, assim, porque eu cheguei no mesmo ano, né? Então, 2002, e quando eu precisei, vamos dizer assim, opa, agora estou aqui em Itanhangá, preciso ver um banco aí, uma instituição financeira, tinha o Sicredi. Opa, facilitou, então.
Mas eu sei que o pessoal lá se organizou e da mesma forma ali. Tinha um conhecimento aqui de Lucas, né? E mobilizaram o pessoal lá e se organizaram da mesma forma para arrumar um espaço e associados suficientes também para ter o movimento. E daí isso foi beneficiando toda a comunidade, porque daí estando, é o meu caso, eu cheguei, opa, tem o Sicredi, vou me associar aí, ó, na hora, né? E isso foi desenvolvendo, né? Aí, ó, vamos fazer uma custódia de um cheque, que era na época, né? Receber um valor maior, fazer um, sempre precisa da instituição financeira, e daí tudo é o Sicredi, né? E se torna até hoje, praticamente, o Sicredi é uma das principais instituições instaladas em Itanhangá, né? Temos lá, se não me engano, tem o posto da Caixa e o posto do Bradesco, né?
Mas é uma instituição financeira, vamos dizer, patenteada. Entender que a demanda maior é o Sicredi.
Bruno:
Eu queria que vocês, né, buscassem na memória alguma história marcante, alguma curiosidade, algo que pudessem compartilhar com as pessoas, que mostrasse, assim, sabe, o papel da cooperativa nesse movimento, né, de desenvolvimento da comunidade. Conseguem lembrar alguma coisa, assim, que, olha, realmente, se não tivesse o Sicredi ali, não teria cooperativa. Não teria acontecido, ou teria sido muito diferente.
Anders:
Na verdade, a gente não consegue imaginar como seriam essas duas localidades sem ter o Sicredi, sem ter instituído o Sicredi na época que ele chegou. Como é que estaríamos fazendo com o nosso movimento, com a produção que nós tínhamos, com financiamentos agrícolas, sem o Sicredi? Com o Sicredi até 2008. Não tem como imaginar isso.
Que o período ali, que eu cheguei, eu cheguei em 98, eu vendia 100 litros de combustível por dia. Aí, já em 2004, eu cheguei a vender 600 mil litros no mês. Então, assim, como é que vai dimensionar a dificuldade que nós teríamos se não tivesse o Sicredi lá? Nem consegue imaginar, né, Copete?
Dilceu:
Não tem como, não tem como. É, eu digo assim que todo o movimento do município, porque, vamos dizer, tudo depende dos recursos. Vamos falar da lavoura, da agricultura, né? Tudo você precisa financiar o adubo, a semente, e esperar aqueles quatro meses desse produto produzir, e você comercializar e pagar. Quem que adiantava esse dinheiro? Era o Sicredi. E o desafio maior de Itanhangá, não tem, por ser assentamento, o Incra não documentou.
Então, as pessoas estavam lá ocupando as parcelas, com um documento que o Incra fornecia, né, que é o cadastro lá, e o Sicredi estava prestando dinheiro, né, a cooperativa, né, atendendo pelo conhecimento, pelas pessoas. E se hoje temos o desenvolvimento que nós temos, o problema foi esse movimento, foi esse recurso que foi levado. Uma relação de confiança mesmo, né? Uma relação de confiança. Foi levado esse recurso e as pessoas foram plantando e colhendo, e um ano após o outro, né, o gado também financiado, o cara compra um lote de gado e engorda, no outro ano vende e paga. Então, todo esse desenvolvimento econômico que nós temos hoje, quem fez foi a cooperativa, né, que levou o recurso para o associado.
O associado atendeu, foi na propriedade, né, opa, você precisa plantar mais um pedaço, então vai mais um, aumentar a tua carteira ali, e isso, estamos onde estamos hoje, né. E esse desenvolvimento em várias outras áreas também dos municípios, né, às vezes ali para o pequeno empresário, para o pequeno comércio, que também pode contar e desenvolver, certo?
Anders:
Eu lembro que a cooperativa, no início, ela só financiava e atendia a parte do agro, né, do rural, né, e daí, a partir de um momento, ela começou também a atender o comércio, que eu digo assim, importante também, porque nós somos uma cidade, nossa cidade é rural, a nossa economia, eu sempre falo, gente, a nossa vocação aqui é produzir alimento, né, nós precisamos pensar nesse lado, né.
Então, eu não consigo lembrar a data, mas eu lembro que esse crédito, tanto lá no sul, associado de outras cooperativas lá, só atendia o agro, não atendia a outra linha de comércio, né. E, a partir desse momento, daí o Sicredi também a gente viu que cresceu muito mais, porque daí toda a comunidade participou, né, vem participar, e a comunidade é o todo, nós não podemos separar um do outro, né.
Dilceu:
Muito bem lembrado pelo Anders, na instituição, quando o Sicredi chegou lá, ele podia atender só o agro, e nós tínhamos o nosso comércio, nossas empresas, e como é que o Sicredi ia fazer para poder trabalhar com nós, sendo comércio, mas o Sicredi podia ter contas só do agronegócio. Aí, o Sicredi abriu uma conta na central, em Cuiabá, do comércio, administrada por ele por aqui.
Era a forma que foi encontrada, para ter, para nós termos contas no Sicredi do nosso comércio.
Camila:
Na época, era uma questão de legislação, né, de que a cooperativa era segmentada, né, apenas para um público, né. E aí, mesmo assim, abriu-se a possibilidade, então, de toda a comunidade poder trabalhar com a cooperativa, porque realmente era uma necessidade da comunidade, né. Não tinha outra forma, né. Então, o Sicredi buscou caminhos para resolver as dificuldades que existiam na nossa região. Vocês começaram a falar, né, da importância para o fomento econômico, mas acho que tem um outro fato importante, algo importante, que é o apoio no social, nos outros programas, na comunidade, na vida toda da comunidade. Vocês percebem isso em Itanhangá, em Ipiranga? A presença da cooperativa na comunidade?
Anders:
Sim, a questão, né, dessa preocupação, né, com a coisa social. Então, a gente vê muito investimento nas escolas, pastoral da criança, as partes religiosas também ajudam, né. Então, assim, isso olha onde tem aquela necessidade e como ajuda, né, esses recursos que vêm, essas organizações fazem acontecer, né, uma construção, uma pintura, uma, né, um, não sei se veículos já chegaram a financiar também, vamos dizer, com esses recursos, com esses prêmios, né. Então, isso tudo ajuda.
Bruno:
O Sicredi tem agido em todos os campos dentro da sociedade. Desde que se criou o Sicredi, ele tem trabalhado dentro da sociedade e tentado, de uma forma transparente, atender a todas as necessidades que existem. Como vocês veem, então, o papel da cooperativa daqui adiante, né? Como vocês veem o futuro dela nos municípios de vocês? O que elas ainda podem contribuir, considerando, né, que Itanhangá e Ipiranga do Norte ainda têm muito por se fazer, ainda têm toda uma transformação econômica que se espera, né, desses municípios? Como vocês imaginam que a cooperativa vai apoiar para que isso se realize?
Dilceu:
Eu digo assim, tem que ter essa preocupação, né, porque nós temos uma mudança, eu digo assim, de relação até por causa da facilidade que nós estamos tendo de comunicação e meios, né, de você, veja bem, não precisa mais desse trânsito de documento, né.
Então, hoje o digital, eu nem sei, assim, bem usar as palavras, né, mas eu acredito que vocês vão me entender, né, então, assim, você acaba facilitando, porque hoje não precisamos mais ir na fila do banco, nós conhecíamos o Sicredi como cooperativa de crédito e como um banco, né, mas igual nós íamos na fila lá para pagar o boleto e tal, e hoje é a facilidade que nós temos, então, assim, isso acelera, mas também em uma parte eu vejo, eu tenho uma preocupação, porque daí você tira o vínculo de você estar indo na agência, procurar o gerente, procurar os atendentes e se passa, às vezes, quatro, cinco meses que você nem um chazinho lá você não vai tomar, né.
Então, assim, tem que investir nesse olhar aí para nós não perder, eu digo, as atividades essenciais que nós precisamos ter, esse, né, o conversar, o trocar ideia, nós temos, tem uma facilidade, sim, que ela acaba afastando, porque daí você se acomoda, né, mas nós precisamos, né, manter, manter essa, essa, o contato, né, o conversar, até esse momento que é muito importante, né.
Camila:
Bruno, é muito bom a gente ouvir histórias de pioneiros, de pessoas que fizeram acontecer, de pessoas que mobilizaram outras pessoas para ver essas mudanças de realidade, essas transformações nas nossas comunidades.
Então, primeiro parabéns pelo trabalho de vocês e muito obrigada por compartilharem essas histórias conosco.
Dilceu:
Nós que agradecemos ao público pela oportunidade de poder compartilhar isso. Talvez a gente pudesse até falar um pouco mais.
Camila:
O microfone ainda está aberto. Se tem ainda alguma mensagem, o microfone está aberto.
Anders: A gente agradece por tudo isso. Agradeço mesmo a oportunidade, é uma satisfação muito grande estar aí. Saber que cada um está ajudando a manter a importância de cada pessoa. Levar isso ainda adiante.
Bruno:
E nós contamos com vocês também para esse caminho de futuro e de mais 35 anos adiante. E agradecendo também quem nos acompanhou até aqui em mais um episódio do Raízes Ouro Verde. Mais uma história muito bem contada. E temos mais, né, Camila?
Camila:
Ainda temos muito mais pela frente. Temos muitos outros episódios ainda pela frente. Espero que vocês estejam gostando e acompanhando tudo com a gente. Quem quer assistir episódios que já passaram ou acompanhar também outras informações de todo esse nosso projeto e de outros projetos que estão acontecendo nesses 35 anos da cooperativa, acessa sicrediouroverde35anos.com.br. Lá você vai acessar todos os episódios e tem muito conteúdo bacana sobre os nossos 35 anos, né, Bruno?
Bruno:
Isso aí. E na semana que vem tem mais. Já deixamos o convite aqui para você que nos acompanhou continuar acompanhando.
Até na próxima semana.
Camila:
Até lá.
Conte com a sorte hoje e com retorno amanhã. Participe e concorra: São 10 veículos Zero Km e + de 200 TVs de 65″. A cada R$25 depositados no Capital Social você ganha um número da sorte.
Dobre suas chances de ganhar fazendo depósitos programados.