No sétimo episódio do podcast Raízes Ouro Verde, recebemos Gilmar Pinto e Dirceu Dezehn, associados Sicredi, para uma conversa sobre como a cooperativa foi fundamental no crescimento econômico de Tapurah nos anos 80.
Eles relembram como o apoio do cooperativismo ajudou a atrair investidores, fortalecer os negócios locais e impulsionar a chegada de novas famílias, que vieram para construir um futuro próspero na região. Uma história de cooperação, oportunidades e desenvolvimento coletivo.
TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 7
Bruno:
Olá! Está começando mais um episódio do nosso podcast “Raízes Ouro Verde”. Agora, já no começo, a gente quer agradecer a cada um de vocês que está acompanhando, a cada associado ou não associado que tem acompanhado as nossas histórias aqui no nosso podcast. Esse é o nosso espaço onde nós falamos sobre transformação, contamos a história da nossa região e, claro, aproveitamos também para observar o futuro da nossa cooperativa. Já chegamos ao sexto episódio, né!
Eu quero fazer um convite para você que nos acompanha: se você está acompanhando pelo YouTube, vá lá e siga nosso canal no YouTube, ative as notificações para ser informado toda vez que lançamos um episódio novo, que é todas as segundas-feiras. Se você está nos acompanhando no Spotify, também pode ir lá seguir “Raízes Ouro Verde” e assim você vai ser notificado sempre que lançarmos um episódio novo. Além disso, você pode acompanhar pelo site que tem todas as informações dos 35 anos da cooperativa, que é o sicrediouroverde35anos.com.br. Agora, a gente tá aqui, né, para mais um episódio, o sexto episódio, como a gente disse, e já contamos muitas histórias de pessoas por aqui que trouxeram essas transformações para a nossa região.
Camila:
A gente tem duas pessoas, dois personagens muito especiais, né? Hoje, o nosso sexto episódio não será diferente, porque nós estamos contando histórias reais de pessoas que trabalharam, que acreditaram e que têm colhido bons frutos, né? Quando a gente fala do desenvolvimento comunitário, por esse motivo, estão aqui conosco os nossos convidados de hoje: Ermes Fumagalli e Valdir Giaretta, pioneiros empresários e os primeiros presidentes da Credilucas. Sejam muito bem-vindos aqui ao nosso “Raízes Ouro Verde”! É uma alegria receber vocês aqui. Obrigada, obrigado pelo convite, né? Esperamos contribuir com as nossas histórias. Com certeza, temos certeza disso.
Para gente começar, a gente costuma fazer uma pergunta para todos os nossos convidados que vêm aqui até o nosso estúdio. Como o tema do nosso podcast diz “Raízes Ouro Verde”, a gente costuma sempre começar perguntando: quais são as raízes de vocês? Quais são as suas raízes? Seu Ermes, quais são as raízes suas? Seu Giaretta?
Ermes:
Fazer a largada, eu sou de lá do Rio Grande, né? Nós gaúchos costumamos falar “Rio Grande”, nem “Rio Grande do Sul”, “Rio Grande” já se sabe, mas era Rio Grande do Sul. Lá de uma cidadezinha bem perto da Argentina, Crissiumal, a terra dos goleiros. Antigamente, não tinha o Tupi de Criciúma, lá eu nasci em ’49, nasci lá em Crissiumal. Aí fiquei lá até os 11 anos, depois eu voltei, né? Voltei, depois eu saí de lá. Nós viemos para o Paraná, e lá nós ficamos por um período. O pai e eu e a família, enfim, ficamos lá por um período bom, razoável. Primeiro em Marechal Rondon, 4 anos, depois em Palotina, mais de uma década. E daí viemos para o Mato Grosso em ’79. Veio o meu irmão Arnaldo, né? E depois, em ’80, eu já vim pela primeira vez aí em 15 de maio de ’80.
Valdir:
Valdir Giaretta é um sujeito que nasceu numa cidade chamada Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul. Criou-se em Carazinho, aí estudei por lá, fiz técnico agrícola em Cachoeirinha. Voltei para Carazinho, trabalhei em cooperativa na extensão rural de cooperativas. Depois parti para administrar fazendas. Administrei fazendas grandes, mesmo a fazenda do grupo Zamboni, por alguns anos. Depois eles compraram uma propriedade em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em ’80. Em ’75, eu tinha 23 anos. Aí juntei uma mala, três peões e ônibus, né? E vim para Campo Grande abrir a fazenda pros caras. Dali, meu sonho era um dia ter um pedacinho de terra, né? Eu sou filho de meu pai, colono daqueles de matraca, de plantar de matraca, de colher. Quantos outros a laço, né? Mas eu trouxe isso no meu sangue, né. E eu queria um pedacinho de terra de qualquer maneira. Tem umas coisas largas na minha vida, uma história que de mais ter.
E aí, de Campo Grande, eu fui para São Gabriel, que é um lugar novo, quase que nem aqui quando eu vim aqui, né? Eu me lembrei de São Gabriel. Fiquei 8 anos lá. Em ’86, vim para cá no projeto Proder. Projeto Prudense era um projeto financiado pelo governo japonês e brasileiro, em que 51% do aporte era brasileiro e 49% era japonês. E os japoneses estavam botando dinheiro no mundo para desenvolver a cultura de proteína vegetal, porque eles estavam na mão dos americanos para fechar a necessidade deles lá. Então, eles começaram a fazer aportes no mundo todo onde poderia ter o desenvolvimento de cultura vegetal que desse proteína vegetal.
Mas o Proder entrou e quem trouxe o Proder para Lucas foi a Coper Lucas, através do seu Anton Uber. Ele foi como precisava dinheiro, precisava implementar cooperativa, precisava fazer armazém e tal coisa, e ele não tinha. O Proder fazia isso, dava recurso para fazer isso. E aí, lá na Coper Lucas, já se dividiu o poder naquela época no seguinte: alguns tinham que ser do Proder, alguns tinham que ser do Incra, dos assentados, e alguns dos pessoal que já tavam aqui. Onde entrou o Matsubara nessa história, entrou ele lá da Coper Lucas e, por extensão, na hora da Sicredi, mesma coisa, praticamente a mesma coisa. Vamos juntar força em vez de não, todo mundo junto, tá? Nunca me esqueço que na época da cooperativa, da minha diretoria que eu participei, que era o seu Anton e depois seu Antoní entrou uma diretoria nova, pegou a força toda, inclusive o Werner Contrade foi o primeiro prefeito. Puxamos ele para dentro porque nós precisávamos também do poder do poder público, do legislativo, do executivo do município, né?
Camila:
A ideia do cooperativismo de crédito nasceu de um da origem ali do cooperativismo de produção que já existia, já estava fortalecido aqui no município. É isso, e vocês dois já faziam parte, né, desse movimento.
Ermes:
É na verdade, como o Valdir falou, eh, se ouviu e essa mentalidade se ouviu alguém falar que a possibilidade de se criar um banco cooperativo, uma cooperativa, daí a partir desse momento, eh, foi lançada a semente e ela germinou ali dentro. E realmente tivemos que vender soja verde lá na Coper Lucas para fazer o capital para poder, mas era complicado aqui.
Valdir:
É o seguinte: o pessoal do assentamento eram todos pessoas bastante humildes, mas não era humilde, era bastante humilde. Nós do produção já viemos numa faixa etária diferenciada, mas assim mesmo administrativamente você tinha algumas coisas e nem todo mundo andava dando dinheiro. Então, a verdade é o seguinte: a necessidade fazia se agruparem e quando nascia uma ideia de que podia ter dado um resultado positivo, todo mundo se juntava para fazer aquilo funcionar. Essa é a nossa realidade e até hoje aqui assim. Eu costumo dizer o seguinte: se alguém vier aqui, um cara de lado, qualquer lugar tem uma empresa, a empresa, o seguinte, se tu guspir para cima, tiver um vento a 20 por hora de norte a sul, vai te dar um saco a mais de sorte plantar o sol. Já tem alguém que vai experimentar para ver se é verdade. Não é a mente é aberta? Isso que eu quero dizer. Eu quero, né, eu tô é a mente é aberta, tá aberto acessível às novas informações para poder incrementar o que a tua atividade sim valeria verdade. E tem mais, né? A cooperativa ela de repente deu suporte para isso, aí, e nós precisávamos.
Também a filosofia corria na época, não sei se era do padre ali, ou daquele menino que eu acabei de falar, que poderia ser o Schmit, uhum, que falava: “Olha, vamos formar um banco cooperativo que o lucro que nós tivermos será nosso, porque o banco, se bem trabalhado, não vai dar prejuízo.” Eh, diferencial da lavoura é que a lavoura você planta no tempo e você não sabe se vai colher, mas se o banco for bem gerido e investir o dinheiro em fontes seguras, em fontes bem, e tiver recurso para isso, terá lucro e será vosso. Essa foi a mentalidade, e por isso que o pessoal aderiu bastante. Não vamos criar, então vamos criar essa entidade que vai ser nossa, e funcionou. Hoje é interessante observar da época, né? Ali nós temos hoje remanescentes da época que nós temos, é o Eledir e tem como é que é o nome da nossa querida colega de trabalho aposentada, já eu acho que aposentou, que trabalhava conosco, Valquíria.
Camila:
A Valquíria saiu há pouco tempo. Então, explicando aqui, né, para quem tá nos assistindo, Seu Ermes foi o primeiro presidente ainda dessa comissão que teve toda essa mobilização para fundar essa cooperativa. E aí, Seu Giaretta foi vice, o secretário, na verdade, né, do Seu Ermes.
Valdir:
Aí, depois o Luiz saiu, eu fui presidente. Aí fechou mesmo o mandato, teve eleição e tal coisa. E aí, por algumas situações pessoais, eu achei que era melhor abrir mão do cargo, dar espaço para outras pessoas. Eu e Eledir, aliás, fomos consenso para que ele fosse o presidente, e ele mesmo,
Ermes:
O Valdir teve essa mente aberta, né? Ali, de trazer a chance para que ele ficasse o tempo dele, então ele disse: “Agora, deixa eu dar oportunidade para outro líder e para que se criem outras ideias.” E ele tem isso, é muito aberto, né? Parabéns a ele. E foi, foi, foi interessante, foi muito interessante. Você criou novos pensamentos e nós trabalhamos muito em cima disso. Tivemos dificuldade em alguns momentos, mas, eh, foi superado graças a Deus. Eu quero só fazer um registro agora, hoje, porque a primeira vez que funcionou a nossa Cred Lucas era na casa do Paulo de Davi, que hoje parece que tá adoentado. Então, eu quero pedir e eu rezo por ele e peço que ele tenha saúde.
Camila:
E retomando um pouquinho, assim, eu pelo registro da história, nós temos 27 associados que foram os primeiros a assinar a ata. Então, pelo que vocês estavam falando, né? Pelo perfil desse povo da época, Seu Giaretta, um povo que queria experimentar o novo. Foi difícil chegar a esses primeiros 27 nomes. Qual é a lembrança de vocês sobre como foi mobilizar essas primeiras pessoas que fizeram parte e depois trazer os primeiros associados que foram os que efetivamente começaram a colocar capital?
Valdir:
Eu até, nós começamos a girar as coisas, eu nunca me esqueço. Saímos aqui na cidade para buscar alguém para fazer o logotipo da Cred Lucas, tá? Olha, e aí eu devo lembrar uma pessoa, né? A Denise, engenheira, foi quem nos deu o delineamento de como seria a capa do tal cheque, aquela do Rio Verde com a palmeira. Foi ela, e tá aí uma fotografia, e deu ali, aí saiu o tal do cheque Cred Lucas. E aí, meu filho, para alguém receber, porque aqui é o seguinte: era uma época que era muito difícil, a situação financeira da região era muito ruim. Eu nunca me esqueço, uma vez eu fui na Mutum comprar numa loja, fui eu e minha esposa, e chegamos lá, escolhemos as coisas, e deu um x quando eu abri o cheque. Lá o cara disse assim: “Não, cheque eu não sei.” Então, devolve as coisas que eu tenho, não, mas é da Cred Lucas, não, não, não quero saber, cheque. Olha, veio cheque de Diamantina, tô cheio de cheque de Diamantino, tô quebrado.
Aí, o grande problema na época, além de ser uma instituição nova, era a credibilidade do financeiro da região, que era muito difícil. Então, quando eu ia para Cuiabá, eu fazia questão de repente passar num botequinho, ir lá, pagar com cheque, dizer assim: “Ó, o senhor pode receber, porque isso aqui é porque tem a cota capital e o banco tá garantindo para poder começar a fazer o nome das coisas, né?” E não gerar essa relação de credibilidade, exatamente fazer a credibilidade do documento que tu tem na mão, né? Tá para as pessoas ajeitarem, porque naquela época, assim, dinheiro muito pouco se tinha na mão, todo mundo era lá no cheque. O tal cheque era o bicho-papão, como se chama. Só que a pessoa tinha que receber cheque, esse cheque tu vai pagar, um cheque não recebe, e tinha o direito de não receber, ninguém tem nada.
Ermes:
Só antes que me foge a mente, eh, falasse muito bem do logotipo, tá? Cachoeira lá, o rio, que é uma coisa bonita, né? E daí, eu numa reunião que nós tivemos da diretoria, né, era preciso que também se colocasse uma frase lá. E aí, eu questionei com os meus companheiros que estavam do lado: “Eu tenho uma frase aqui, agora ela é questionável. É se tiver outra melhor, que seja ‘a união faz a força’.” Eu não sei quanto tempo permaneceu no nosso talonário, mas bastante tempo, né? Mas aquela lá foi, eh, uma das coisas que o Valiro falou: “Eu não me lembro nesse momento, eu não me consta, eh, posso até estudar.” Falei: “Bom, enquanto fica por essa aí, se aparecer outra, pode pôr outra, não me incomoda.” E ela permaneceu assim, ficou por bastante tempo, porque realmente era uma realidade. Então, era a união dos esforços de vocês ali para poder criar essa instituição. E aquele que ele comentou ali sobre a imagem bonita, foi, foi fato, coisa boa.
Bruno:
Aquele iniciozinho ali, é isso. Nesse início e também da questão da confiança, quando esse cenário começou a mudar. Eu acho curioso, a história do talão de cheque, chegar em cidades, novos associados. A gente já falou sobre isso, foi trabalho de formiguinha, de estar no comercio, na igreja, como vocês viram essa relação de confiança sendo construída?
Valdir:
Para ti ter uma ideia, houve uma época que nós fizemos o seguinte: fizemos uma listagem municipal, fizeram uma lista de todas as empresas de Lucas que tinham conta na Cred Lucas. Entregamos pro cara de preferência, esses que são sócios, igual a nós. Isso foi feito, tá? Se foi bom, foi ruim, não sei, mas nós fizemos isso porque tínhamos que fazer com que o teu dinheiro não saísse do nosso caixa, trocasse papel, mas o dinheiro tava aqui guardado, tá? Essa é uma ideia que nós temos para fortalecer nossa caixa. Nós tínhamos que ter caixa porque, na verdade, é o seguinte: quando chegava a manhã, tu ia lá no Banco do Brasil, tinha cinco lá, e de repente tu tinha oito cheques para descontar em cima desses cinco, né? Então, tu tinha que ter as coisas mais ou menos controladas, e o controle era uma caneta, né? Tinha nada de computador, não era caderninho, mesmo, tá? E aí, essas coisas vão fazendo com que você vai unindo força e cada dia um aprendizado, né?
Outra coisa, aí nós tínhamos situações, por exemplo, do cara que passava um pouco do limite. Só que nós conhecíamos todo mundo, nós chamávamos o cara e o cara vinha ou nós íamos buscar o cara, sentava, e perguntava: “Como é que é a situação? Como é que é isso? Como é que é aquilo? Como é que você faz, né?” Situações, por exemplo, de ajuizamento também que nós tivemos algumas vezes. Todo banco tem isso, né? Coisa de pessoas que o cara ficava até sem jeito porque a coisa era tão familiar, tão junta, que quando tu chegasse para cobrar alguém, dizer assim: “Pô, tu tá com um problema financeiro aqui”, o cara não tinha nem jeito de, né? Então, e outra coisa, aí também se ajudava, se ponderava, se organizava. Você arrumava alguém, hoje você faz ainda isso, mas com menos intensidade que lá naquela época, porque todo mundo sabia também a situação de todo mundo. Quer dizer, aqui era um livro aberto, né? O cara plantava 5 hectares, se ele dissesse que tinha colhido 500 sacos, tu já dizia: “Não é verdade, né? Tu não tem como fugir disso aqui da tua realidade, né?” Então, era legal no seguinte sentido: você não fugia do que você era, você jamais contava o que você não tinha, tá? Porque todo mundo sabia tua história.
Então, ficava até mais fácil da gente se ajudar, né? Porque eu sabia o teu problema, tal coisa, se eu pudesse te ajudar, e eu dizia: “Não vamos tá aqui, vamos lá, vamos organizar as coisas”, né? Então, isso fez com que, eh, eh, se aglomerasse as forças e você criasse uma credibilidade. Porque, na verdade, o seguinte: quando um cara tu tá numa dificuldade, um cara te ajuda, o que que tu faz? Não, esse é meu parceiro, claro, tá? E a ideia da Cred Lucas era essa: era nós nos ajudarmos. Todo mundo tinha muito pouco, só que o pouquinho unido dava bastantinho. Se tu contass a conta, goza, tu servia todo mundo, todo mundo ficava feliz. Essa é a realidade das coisas. E a partir dessa credibilidade, desse ajustamento de força, é que se criou e veio o que deu, deu, né?
Camila:
E foi para vocês, né, gerirem um negócio que para vocês também era novo, né? Os dois agricultores, você já tinha tido uma experiência, né? Seu Valdir falou de cooperativa, não cooperativa de produção,de produção aqui também. A experiência anterior era na cooperativa de produção, mas como foi gerir do zero um negócio que tava sendo criado, né? Que era tudo novo para vocês, criado do zero. Aquela primeira salinha, contratar as primeiras pessoas, saber o que como que fazia aquele negócio, como foi.
Ermes:
Era um pouco complicado. Muito tinha que ser palpar, muito tinha que ter muita cautela, tinha que ter, sei lá, precaução. Mas sem gente não podia ficar também, tinha que ter você tinha que contratar alguém para trabalhar, né? E a gente fez, a gente saiu contratando um outro lá, era pouco por poucos funcionários, né? Um recinto muito humilde de trabalho e tal, foi assim que foi. Foi crescendo, foi subindo, e foi até que um dia superou essa fase.
Gilmar:
É uma época aí, o Sicredi Sul mandou duas pessoas para cá, inclusive estão na foto ali da abertura, tá? Eles passaram uma semana aqui com a Idamar, com a Valquíria, Valquíria, o Eledir e o Luiz acompanhando também o Stefanelo, como é que é o nome dele, Nereu, tá? Que é um sujeito também que nunca mais vi, não sei que fim deu, mas um cara que nos ajudou muito. É um cara que nunca exerceu nenhum cargo, tá? Mas era um cara assim, era funcionário da Cooperlucas, mas ficava com nós 10, 11 horas da noite ali fazendo documento, discutindo e tal e coisa. Participou muito, tá? Só que é uma pessoa que nunca nunca exerceu nenhum cargo dentro do contexto, tá? Então, dizendo assim, foi um funcionário padrão de alto padrão, né? De ajuda, tá? Então, as pessoas, eh, eh, vieram de lá e aí fizeram, né? E volta e meia, aí começou a crescer a central de Cuiabá, né? Porque aí Cuiabá começou a desenvolver a central, e a central começou, né? Eu nunca me esqueço que aí começou de repente a se comprar por Cuiabá, né? Algumas coisas, tá? Aí houve alguns problemas numa época, mas tá… Aí a central começou a trabalhar, né? E aí o momento que a central começou a trabalhar, começou a nos dar um pouquinho de apoio também, tá? Mas algumas coisas eram muito nossas, por exemplo, a compensação com o Banco do Brasil. Quem negociava a compensação com o Banco do Brasil eram nós aqui. Nós íamos para dentro pro gerente do banco e tal, porque eles não se cobravam isso, né? Então, quando outro toma cada lá, eu te cedo aqui, mas eu quero aqui vai, né? Uma negociação e nessas coisas tu sempre aprende, né? Tu vai aprendendo porque por que que o cara trabalha em cima disso aqui? O que que dá para ele isso aqui? Qual é a vantagem que ele tem que ele prefere esse lado e não esse, né? E aí então não, nós não d… Mas nós vamos agarrar aqui que aqui para nós é interessante, né? Essas coisas assim, e aí tu vai aprendendo com o dia a dia, tu vai aprendendo, eh, dizer assim que nós tínhamos, eh, grandes conhecimentos, nós não tínhamos. Nós íamos tateando as coisas, né? Uhum, mas era bom, era… Era, digamos assim, construtivo pra nossa vida particular, né? Porque tu tá gerenciando uma coisa, esse é um lado bom da cooperativa, e o que reforça o sistema cooperativista.
Ermes:
Tu pega a filosofia, na verdade ela frutificou desde o início. Criou-se na mente desses que organizaram: “Vamos criar um banco para nós”, porque, eh, se ele for bem gerido, se tivermos a possibilidade, o dinheiro vai ser nosso. Nós, eh, não temos tempo, mas é que a necessidade era tão grande de nós demonstrar que a ideia era boa que não tinha como, né?
Valdir:
Outra coisa, as pessoas super sérias, simples, né? Ninguém tinha grande formação, tal coisa, mas todo mundo com interesse de fazer uma coisa funcionar. E aí vem aquela coisa, né? Quando ninguém tem nada, todo mundo ajuda todo mundo.
Bruno:
Para gente avaliar, de que maneira a chegada da cooperativa transformou a economia local naquela época?
Valdir:
Nós não tínhamos como fazer milagre, então era um banco que não podia mexer com a macroeconomia, que nós não tínhamos como bancar, como financiar tanto. E tinha as terras que não tinham documento, o produto agrícola não valia muito dinheiro. Então, foi uma coisa assim, muito de coração, de amor. Vamos trabalhar em cima desse banco cooperativo para amanhã, para depois, para que com o tempo passado, hoje ou hoje, ou alguma década atrás, a Sicredi para nós é um baluarte, é um… é espetacular, né? Financia a colheita, financia isso. Onde é que, na época, não tinha nem como, não tinha recurso para mexer nessa macroeconomia? E se financiasse, também não receberia, porque a agricultura não era rentável, era deficitária. Uhum, era não, não, não tinha receita, a receita e a despesa não fechavam.
Camila:
Mas hoje, se a gente for olhar para trás e pensar ao longo desses 35 anos, tudo que a cooperativa fez girar na economia aqui do município e da nossa região, vocês conseguem, eh, mensurar o tamanho desse impacto para a comunidade? Caso esse dinheiro que ficou com os associados tivesse ido pra fora?
Valdir:
Eu não tenho o cálculo. É uma coisa que me pergunta de vez em quando, eu não tenho o cálculo de qual é o percentual de dinheiro que o município de Lucas cria e que fica aqui, tá? Digam assim, a nível de economia geral, tá na agricultura mesmo, né? Tu, tua rentabilidade, 15%, 10%, 12% por aí, é né? O resto vai tudo embora. Todas as ações sociais que a Sicredi, a banca mantém, tá? Que tem diversos programas aí, é fruto do quê? Da sociedade daqui. Quer dizer, o dinheiro daqui dessa sociedade vem em benefício dessa sociedade. Isso é extremamente importante e isso, digamos, é uma bandeira que a Sicredi usa muito e tem que usar mesmo. Eu acho que é uma bandeira que tem que ser usada porque é uma bandeira que tem muita força, né? Você dizer o seguinte: “Não, eu ganhei aqui, eu tô botando de volta aqui.”
Camila:
Tem algum fato marcante que marcou vocês?
Valdir:
As primeiras assembleias, depois tá, primeiro ano fechado, uhum, o primeiro resultado positivo. Apresentar aquele resultado, reapresentar aquele resultado, sentir no teu associado teu olhar na frente, né? Deu certo, foi bom. É interessante, vamos continuar, vão aumentar, né? Vão contribuir, eh, eh, isso satisfaz as pessoas, né? Tipo, digamos assim, um sujeito humilde que eu sempre fui e sou até hoje, de ajudar a bancar uma ideia e ver que aquilo dá certo.
Bruno:
Acreditamos que um ponto, eh, semelhante para os dois é esse orgulho de pertencimento. Então, a gente gostaria de saber como foi essa experiência pessoal de cada um de vocês dois ao ver a cooperativa dando resultado, ao ver a cooperativa prosperando, a cooperativa se desenvolvendo.
Ermes:
Eu, na verdade, eh, é um dos pontos da minha vida que eu sempre tenho dito que eu me sinto feliz. A palavra orgulhoso é… me sinto feliz, me sinto… pode falar orgulhoso, é orgulhoso, orgulhoso no bom sentido, né? Porque a palavra orgulhosa também tá, eu me sinto muito feliz de ter participado e ter presente, apresente ainda hoje, numa coisa que deu certo, tá dando certo e vai dar certo. E que marcou… nós soltamos, nós lançamos a semente, caiu em solo fértil, prosperou, deu bons frutos. E daí para frente, tá? E é assim que nós queremos que continue. E que, eh, como nós fomos, nós queremos que outros venham com ideias melhores, com certeza muito melhores que as nossas. E que as pessoas que estão aí, que sempre pensam para o dia de amanhã, trazem mais a juventude. Vamos trazer a juventude, vamos dar chance para que essa juventude também estude esse problema e que abrace a causa e que leve em frente a causa.
Valdir:
Eu costumo dizer o seguinte: você vem ao mundo, isso é um certo ponto. Eu tenho uma certa idade já, e quando tu chega nessa minha faixa etária, eu me acomodei. Tem algumas pessoas que continuam tocando, e eu resolvi um certo momento assim: “Vou viver minha vida, porque se eu não viver agora, não vou viver mais.” Bom, tudo bem, e a vida tem que ser vivida enquanto se tem saúde, depois, né? Mas chega um certo ponto, tu começa a avaliar o que que foi tua vida, tu veio no mundo para fazer o quê? Há algum tempo atrás, uns amigos do meu filho foram lá em casa, comi uma carne, eu achei a carne para eles, tá ligado? Quando conversei, lá para tantas quatro meninas também, e conversando, aí eu comecei a contar a minha história de juventude, da eu vim numa família bastante humilde e tal, e tive dificuldades, tal e coisa. E eu contei, tem algumas que são hilárias, tá? As coisas assim, e rio, tal e coisa. Eu digo: “Tudo bem, essa minha história, e a tua? Qual é? Me conta.” Eu não que que tu tem para contar? Se chegar, digamos, tu tá velinho, vovó, o que que você fez da vida? O que que tu fez? Acho que a função da vida é essa: é você ter uma história, feia ou bonita, mais para frente, mais para trás, mas tem a história.
Eu costumo dizer o seguinte: existem quatro situações. A pessoa faz a história, a pessoa que escreve o livro, a pessoa que lê o livro, e a pessoa que não sabe ler. Eu tenho que te situar dentro aí. O cara que faz a história é o cara que fomentou a situação. Aí tem alguém que vai contar a história, vocês estão fazendo, contando uma história, e tem alguém que vai assistir à história que vocês estão fazendo, tá? E aquele que nunca viu nada e não vai ver nada, pronto para ele. E a vida é assim. Eu me sinto orgulhoso de ter participado e digo mais: não fui nenhum expert, e também nenhum debaixo, fui do meio. Mas ajudei, né? Sempre que eu precisava, tive junto, tive com as minhas ideias. Não sou um gênio, mas também tenho minhas ideias. E graças a Deus, isso deu frutos, e fico feliz com isso. Quando eu olho situações que eu participei dentro da sociedade e naquela época, Lucas do Rio Verde, até por participar da Coper Lucas… A Coper Lucas era uma liderança a nível de desenvolvimento do município. Eu participei de praticamente todos os atos que houveram aqui dentro em prol de uma situação melhor de morar, alguma coisa tal coisa. Sempre participamos, nós participávamos, quer queira, quer não, nós estávamos dentro do contexto e dentro dessas coisas. Algumas ideias nós fomentamos, nós ajudamos, nós ajudamos criar. E aí, e aí, e aí, tu sente orgulhoso. Bom, isso aqui, esse pedaço é meu. Esse pedaço eu fiz, esse pedaço eu ajudei. Então, e alguns eu comos, outros eu escrevo a história, outros eu leio. Sem ler, eu não quero ficar, mas estão sempre envolvidos, né?
Camila:
Nós ficamos muito felizes agora, já nos encaminhando pro final, né, Bruno, do nosso podcast. Eh, de ouvir essas histórias de nós, né, Bruno, podermos contar essas histórias, compartilhar. E desejamos muito que essas histórias também inspirem essas futuras gerações que precisam se mobilizar para fazer e construir esse nosso futuro, né? E assim como vocês esperam, vocês querem deixar uma mensagem, então, final seja para essas pessoas que, como vocês, fizeram parte dessa história, seja para essas futuras gerações que vão pegar agora essa história e levar pro futuro.
Ermes:
Na verdade, eu queria que a entidade, eh, o sistema agora é um banco de crédito, mas não deixe de ser cooperativa, né? Ouro Verde é um banco cooperativo, é tal, e que ela, eh, fosse sempre mais progresso, mais e mais, mas que visse bastante a parte humana dos seus colaboradores, eh, investisse bastante neles para que eles tivessem uma riqueza de cultura e que essa cultura viesse em benefício da própria própria entidade, enriquecimento, trazer lucros para nós através da sua inteligência, do seu aperfeiçoamento. E então, que dê bastante e que veja também o lado sempre humano. É que me parece, eu não vou… Nós somos uma cooperativa, e como tal, não cabe muito bem a colocação, mas é preciso que se dê mais o olho para as pessoas que precisam ser ajudadas.
Eu comentei uma vez com o Padre João Aidman, falei: “Ó, você sabe que a pobreza absoluta, ela é um tipo de escravidão terrível? Porque quando eu era jovem, quando eu tinha lá meus 18, 20 anos, eu quis estudar e eu precisava comprar uma bicicleta, e eu fui ao banco para pedir. Quem é teu avalista? Ah, eu não sei se eu tenho, não tenho avalista, não. Você não vai ter nada.” Então, é o seguinte: nós temos que o banco, os bancos todos e nossa cooperativa tentar botar na mente o que nós podemos fazer de caridade. O banco não pode dar dinheiro porque o dinheiro é nosso, é meu, é teu, é nosso. Como é que você vai pegar e emprestar de uma maneira com que esse dinheiro ele frutifique também dentro da pessoa como ser humano e como obra de caridade? Porque caridade não é só dar aquilo que você tem de si, mas dar aquilo que você é.
Então, ajudar para que a pessoa seja e, nesse ponto, ajudar em escolas, ajudar em, eh, os próprios, eh, toda a sociedade. Então, isso que eu gostaria que fosse mais implementado. Essa é uma mensagem que sei lá se, né, se cabe, mas é que eu gostaria que fosse.
Camila:
Seu Valdir, e o senhor?
Valdir:
Na verdade, eu queria que a entidade, eh, o sistema agora é um banco de crédito, mas não deixe de ser cooperativa, né? Ouro Verde é um banco cooperativo, é tal, e que ela, eh, fosse sempre mais progresso, mais e mais, mas que visse bastante a parte humana dos seus colaboradores, eh, investisse bastante neles para que eles tivessem uma riqueza de cultura e que essa cultura viesse em benefício da própria própria entidade, enriquecimento, trazer lucros para nós através da sua inteligência, do seu aperfeiçoamento. E então, que dê bastante e que veja também o lado sempre humano. É que me parece, eu não vou… Nós somos uma cooperativa, e como tal, não cabe muito bem a colocação, mas é preciso que se dê mais o olho para as pessoas que precisam ser ajudadas.
Eu comentei uma vez com o Padre João Aidman, falei: “Ó, você sabe que a pobreza absoluta, ela é um tipo de escravidão terrível? Porque quando eu era jovem, quando eu tinha lá meus 18, 20 anos, eu quis estudar e eu precisava comprar uma bicicleta, e eu fui ao banco para pedir. Quem é teu avalista? Ah, eu não sei se eu tenho, não tenho avalista, não. Você não vai ter nada.” Então, é o seguinte: nós temos que o banco, os bancos todos e nossa cooperativa tentar botar na mente o que nós podemos fazer de caridade. O banco não pode dar dinheiro porque o dinheiro é nosso, é meu, é teu, é nosso. Como é que você vai pegar e emprestar de uma maneira com que esse dinheiro ele frutifique também dentro da pessoa como ser humano e como obra de caridade? Porque caridade não é só dar aquilo que você tem de si, mas dar aquilo que você é.
Então, ajudar para que a pessoa seja e, nesse ponto, ajudar em escolas, ajudar em, eh, os próprios, eh, toda a sociedade. Então, isso que eu gostaria que fosse mais implementado. Essa é uma mensagem que sei lá se, né, se cabe, mas é que eu gostaria que fosse.
Bruno:
Agradecemos cada mensagem, né? Cada pensamento, cada história lembrada, muito boas, né? As histórias que trazem sempre uma continuidade de tudo que já foi dito aqui, né? Que foi compartilhado nos nossos demais episódios do “Raízes Ouro Verde”. Então, mais uma vez, agradecemos a presença, a participação de vocês e por terem compartilhado aí esses momentos com a gente.
Camila:
Isso mesmo! Obrigada, Bruno, também pela companhia em mais um episódio. E se você gostou do nosso sexto episódio, compartilhe e continue acompanhando todo esse “Raízes Ouro Verde”, esse projeto tão lindo, né? Que são 35 episódios ao longo de todo esse projeto, então tem muita história ainda pra gente compartilhar com vocês, com certeza.
Bruno:
Aí, para quem tá acompanhando, que quer assistir novamente ou quer compartilhar, lembre-se que o nosso podcast “Raízes Ouro Verde” tá disponível no Spotify e também nas principais plataformas de podcast e no nosso canal oficial no YouTube. A gente já também, como falamos no início aqui, é importante que o pessoal, os associados ou os não associados, se inscrevam para receber as notificações dos novos episódios e acompanhem também no nosso site oficial: www.sicrediouroverde35anos.com. Tem todos os conteúdos dessa etapa, né, de comemoração dos 35 anos da cooperativa, e pode ser acessado a qualquer momento.
Camila:
Então, até a próxima semana e o próximo episódio. Até lá!
Conte com a sorte hoje e com retorno amanhã. Participe e concorra: São 10 veículos Zero Km e + de 200 TVs de 65″. A cada R$25 depositados no Capital Social você ganha um número da sorte.
Dobre suas chances de ganhar fazendo depósitos programados.