Neste episódio gravado em Cuiabá (MT), recebemos Seneri Paulo, Diretor Executivo da Central Sicredi Centro Norte, e João Carlos Spenthof, Presidente do Conselho de Administração da Central Sicredi Centro Norte.
Eles fizeram uma análise aprofundada sobre o papel estratégico da Central na expansão e consolidação do cooperativismo de crédito na região Centro-Norte do Brasil e compartilham suas trajetórias pessoais e profissionais, além de experiências marcantes no desenvolvimento do cooperativismo. O episódio explora desde a origem e estrutura do sistema Sicredi, os desafios de levar o modelo cooperativista a novas regiões, especialmente no Norte do país, até a consolidação da marca em Mato Grosso.
Os convidados discutiram ainda os pilares estratégicos da Central, o equilíbrio entre crescimento econômico e impacto social, e a importância da cultura cooperativista para garantir a sustentabilidade e a essência do negócio diante da expansão acelerada.
TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 18
CAMILA CARPENEDO:
Oi, pessoal, bem-vindos a mais um episódio do nosso podcast Raízes Ouro Verde. Hoje nós estamos falando sobre a relevância da nossa cooperativa na nossa região, já contamos as histórias dos 15 municípios da nossa área de atuação e tem muito mais pela frente. Hoje, aqui no nosso 18º episódio, estamos novamente em Cuiabá para um episódio diferente, especial do nosso Raízes Ouro Verde.
Vocês devem ter percebido que o nosso espaço está diferente. Não estamos no nosso estúdio, na sede administrativa. Estamos aqui em Cuiabá hoje recebendo dois personagens que fazem parte do nosso Sicredi na nossa grande região, que vai além de Mato Grosso e alcança os estados do Norte. Eles já vão explicar melhor para vocês o que significa isso.
Então, vou apresentá-los. Hoje estamos aqui com Seneri Paludo, diretor executivo da nossa Central Sicredi Centro Norte, e João Spenthoff, presidente do Conselho de Administração da nossa Central. Sejam muito bem-vindos, é uma alegria receber vocês aqui no nosso Raízes Ouro Verde.
JOÃO SPENTHOF:
Um prazer, um prazer estar com vocês.
SENERI PALUDO:
Obrigado, muito bom estar aqui com vocês.
BRUNO MOTTA:
Vamos começar já contando boas histórias, né Camila, daquele jeito que o podcast Raízes Ouro Verde costuma fazer. Vamos pedir para que vocês se apresentem, contem um pouco mais quem é Seneri, quem é seu João, e também a trajetória de vocês dentro do Sicredi, dentro de cooperativas, dentro da Central, para que quem está nos acompanhando, os nossos associados, e quem não é associado ainda, mas está assistindo aos nossos materiais, conheçam os nossos personagens de hoje. João, quer começar?
JOÃO SPENTHOF:
Pode ser. Bom, meu nome é João Carlos e estou aqui em Mato Grosso há quase 50 anos. No ano que vem, vai fazer 50 anos que estou em Mato Grosso. Vim parar em uma cidade pequena, Água Boa. Na época, havia apenas 50 famílias morando ali. Nossa família começou a trabalhar com agricultura e pecuária, fomos pioneiros na região.
Tive contato com o cooperativismo naquela época, através da Copercana, uma grande cooperativa que colonizou toda aquela região do estado. Canarana, Água Boa, foram cidades que eram agrovilas criadas pela cooperativa, que loteou terrenos para os agricultores. Meu pai foi conselheiro da cooperativa, e a cooperativa era quase como a prefeitura da região, sustentava, organizava, cuidava de tudo. O envolvimento era muito grande. Naturalmente, toda a sociedade era envolvida com o cooperativismo.
Trabalhei como funcionário, balanceiro, pesando caminhões, e também na venda de insumos, no balcão, tirando nota, cuidando de estoque. Minha convivência com cooperativa já foi muito grande. Depois, fiz concurso para o Banco do Estado de Mato Grosso, virei bancário por oito anos e meio. Foi uma experiência muito boa, embora na época o sistema financeiro fosse completamente diferente do atual. Não existia digital, nem PIX. Eram nove funcionários atrás do balcão e o gerente na frente. Praticamente só o gerente atendia os clientes, o resto era tudo back office, trabalho burocrático. Mas foi uma ótima escola.
Depois, tive a felicidade de receber um convite para entrar no cooperativismo de crédito, na cooperativa Crédio Leste, em Água Boa, que já tinha dois anos de fundação. Me convidaram para ser presidente da cooperativa, fui gerente também, presidente do conselho, presidente executivo, dono do comitê de crédito, tudo ao mesmo tempo. Era tipo assim: quem mandava sou eu. Depois, fui convidado para ser vice-presidente da Central, e assim estou há 30 anos na Central. Vai completar agora em junho de 2026.
Sou casado com a Magali, tenho o Jorge, meu filho. Basicamente, essa é a nossa história. Sempre aprendendo, sempre buscando evoluir, levando o cooperativismo adiante, fazendo esse trabalho de missioneiro. Gostava de ir para as glebas, para as roças, reunir com os produtores, falar do cooperativismo, sonhar grande, visitar fazendas. Hoje, olhando para trás, vejo que valeu a pena. Esse dia chegou, né?
SENERI PALUDO:
Com a intimidade que a gente tem, falo que o João é incansável. Nunca vi um cara que não descansa de trabalhar pelo Sicredi, pelo cooperativismo. Ele fica o tempo todo provocando, querendo fazer melhor, provocando mais e mais, enchendo o saco também — isso faz parte, dando trabalho mesmo. O chefe que não dá trabalho, não é chefe. Esse não faz parte, está no teu contrato.
Bom, eu sou nascido no interior de São Paulo. Minha família, tanto de pai quanto de mãe, são gaúchas do sul do país, mas eu já sou nascido no estado de São Paulo. Fui criado no interior, minha mãe jornalista, meu pai comerciante. Cresci dentro de uma editora, acompanhando bastante. Fiz agronomia no interior de São Paulo e logo me apaixonei pela economia agrícola. Fui fazer estágio na antiga BMF, sempre na área de economia agrícola. Fui trabalhar numa consultoria do agro, em 2001, 2002, no Paraná. Essa consultoria abriu uma filial aqui em 2004, e eu já vinha para cá desde 2002. Em 2004, vim gerenciar essa filial no Mato Grosso. Trabalhei nessa consultoria do agro, com commodities agrícolas, formação de preço, comercialização, para alguns grupos aqui no estado.
Em 2008, saí dessa consultoria para reestruturar o IMEA, Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária. Fiquei no IMEA quase quatro anos, depois fui executivo da federação, quase quatro anos também. Depois, fui convidado pelo então ministro Nery Geller para ser secretário nacional de política agrícola. Fiquei quase um ano no Ministério da Agricultura. Quando estava voltando para as entidades do agro, o governador Pedro Taques foi eleito, e fiquei mais dois anos como secretário de Estado aqui. Quando saí do governo, já conhecia o João de outras horas, e ele sempre falava para eu vir trabalhar no Sicredi. Um dia, surgiu uma oportunidade em Porto Alegre, para trabalhar como superintendente de crédito rural no CAS. Queria mudar um pouco de vida, estava cansado do processo de dois anos como secretário do Estado, fui para Porto Alegre. Fiquei quase dois anos lá. Um belo dia, o João falou: vamos fazer umas mudanças na governança, na gestão. Você não quer voltar para Cuiabá como diretor executivo da Central? Perguntei para minha esposa, Carla, se topava voltar, e ela topou. Tenho duas filhas, minha sogra mora comigo, além de uma cachorra. Meu carma é viver entre as mulheres, então sou bastante obediente em casa. Esse é um pouco do Seneri, um pouco da minha trajetória.
CAMILA CARPENEDO:
Que legal. Vamos tentar explicar um pouquinho então para quem está nos ouvindo. Quem é colaborador do Sicredi entende o papel da Central Centro-Norte, das centrais, mas quem não é talvez não entenda toda essa estrutura. Como funciona? Temos as cooperativas, depois a Central, e o CAS, como o Seneri falou. O que é esse CAS? Queria que vocês explicassem um pouco como a Central atua e se organiza para apoiar o desenvolvimento das cooperativas da nossa região.
JOÃO SPENTHOF:
Vou começar, e o Seneri complementa. Quem fundou a Central foi o Padre João, nosso patrono. Ele foi o primeiro presidente, eu sou o segundo e até hoje permaneço no cargo. A Central tem o papel de promover o desenvolvimento do cooperativismo na sua área de ação, apoiando as filiadas, com papel concedido pelo Banco Central de supervisionar, fiscalizar, controlar e promover o desenvolvimento. Nossa Central cobre 52% do território nacional, com cerca de 18 a 20 milhões de habitantes, abrangendo todo o Norte do Brasil e Mato Grosso. Nosso sistema é de três níveis: cooperativas na base, centrais no segundo nível (cinco no país), e a confederação no terceiro nível, o SicrediPar. A Central tem papel estratégico, tático e de supervisão, além de promover o intercâmbio de boas práticas entre as cooperativas, a intercooperação e fazer valer os princípios do cooperativismo. Não é fácil, pois cada cooperativa tem sua independência, mas é preciso equilíbrio entre os ônus e bônus de fazer parte de um sistema.
SENERI PALUDO:
Costumo resumir o papel da Central em três grandes funções: representação institucional das cooperativas, supervisão (controle e auditoria, conforme atribuição do Banco Central) e o papel de liderança estratégica, promovendo o desenvolvimento harmônico entre as cooperativas. Faço analogia com o poder público: cooperativas seriam prefeituras, centrais seriam governos estaduais, e a confederação seria o governo federal. Mas, diferente do setor público, a pirâmide é invertida: o associado está na base, depois o coordenador de núcleo, a cooperativa, a central e o CAS. É um processo de baixo para cima.
CAMILA CARPENEDO:
Queria voltar ao ponto do papel estratégico da Central. Hoje, ela olha para o desenvolvimento de uma região muito extensa, como o Norte do país. Como a Central tem atuado nessa visão estratégica de desenvolvimento?
JOÃO SPENTHOF:
Já iniciamos esse processo lá atrás. A primeira cooperativa a ir para outro estado foi a Univales, para Rondônia. Depois, o objetivo era o Pará. Em 2004, criamos três cooperativas no Pará, do zero. Vinte anos depois, elas estão consolidadas. Em 2015, o Sicredi definiu como objetivo estratégico estar presente em todos os estados brasileiros. Foi feito um planejamento, mapeando áreas de responsabilidade para cada central e cooperativa, preparando gente, processos e conselhos para o desafio de levar o cooperativismo a regiões onde não havia cultura cooperativista. No início, foi difícil, mas hoje, nos estados onde estamos presentes, os cidadãos nos procuram e pedem para levar o Sicredi para suas cidades. É um trabalho missionário, levando o cooperativismo para uma região vasta e rica, mas cheia de desafios.
SENERI PALUDO:
Complementando, hoje o posicionamento estratégico da Central, que soma dez cooperativas, é claro: levar o Sicredi para todos. Queremos estar disponíveis para 100% da população da nossa área de atuação, seja em Mato Grosso ou na expansão para o Norte. Nosso modelo de negócio é inclusivo, justo e promove desenvolvimento local. O negócio do Sicredi é econômico, mas o impacto é social. Sempre levamos os dois pilares, econômico e social, juntos. O propósito é construir uma sociedade mais próspera, não apenas uma empresa mais próspera. Isso nos move, assim como moveu os pioneiros e move a nova geração de colaboradores.
CAMILA CARPENEDO:
Sr. João, você comentou sobre a chegada em municípios que não conheciam o Sicredi. Por outro lado, em Mato Grosso, o Sicredi tem a maior percepção de marca do Brasil. Como é trabalhar com essas diferenças, entre expansão no Norte e consolidação em Mato Grosso? E qual o papel da Ouro Verde nesse contexto, especialmente em Cuiabá?
JOÃO SPENTHOF:
Mato Grosso é talvez o estado onde o cooperativismo de crédito é mais forte, com maior penetração na população. Praticamente um terço da população é associada ao Sicredi, com alta participação em crédito e depósitos. A lembrança de marca é a maior do Brasil, resultado de anos de trabalho. Se pegarmos Cuiabá há 5 ou 6 anos, muitos viam o Sicredi como o banco dos agricultores. Hoje, graças ao trabalho da Ouro Verde e do Sicredi no estado, a percepção mudou: o Sicredi é para todos, atende a todos, está presente em programas sociais, apoia a comunidade. Isso gerou crescimento e credibilidade para a marca12.
SENERI PALUDO:
Criou um associado atrás do outro, e quando você mostra que é para todos, todos se interessam e se somam novamente aos demais, e esse movimento só cresce. Só complementando, do ponto de vista de marca, é como você falou, a gente tem dois desafios: uma coisa é manter-se na liderança. O Orton Senna falava isso: o difícil não é chegar em primeiro, o difícil é se manter em primeiro. E no estado de Mato Grosso, nós somos a liderança, então o estado de Mato Grosso é a maior rede de agências do estado, é do Sicredi, o maior número de colaboradores de instituição financeira é do Sicredi.
Quando a gente olha do ponto de vista de instituição financeira, tirando as duas instituições financeiras públicas, que são o Banco do Brasil e Caixa Econômica, porque têm o dinheiro público, vamos falar assim, mas tirando eles, a maior instituição financeira do estado é o Sicredi, tanto em depósitos quanto em carteira de crédito. Então, no estado de Mato Grosso, o grande desafio é a gente manter esse padrão e manter esse processo de liderança. Então, não é dormir em berço esplêndido, é a gente continuar evoluindo para manter esse processo.
A Ouro Verde tem um papel fundamental nisso, vem fazendo um papel fantástico no interior há muito tempo, e eu concordo com o João, acho que há cinco, seis anos, desde que voltei de Porto Alegre, vejo a capital outra, vejo o Sicredi, há cinco anos era um Sicredi, hoje é outro, de muita gente, conhecidos, pessoas falando: sou associado, participei da Assembleia, que legal, tenho um projeto isso, projeto aquilo, e esse é um trabalho muito forte também da Ouro Verde aqui. A expansão das agências, a maior rede de agências de Cuiabá, da capital, é do Sicredi, é da Ouro Verde, mas acho que isso partiu também de um posicionamento e um desafio que a Ouro Verde tomou também. Ela falou assim: quero ter a presença em Cuiabá, a mesma presença que tinha no interior. E esse posicionamento, João, acho que mudou tudo. Hoje, Cuiabá é um case, junto com Campo Grande, para mim, os dois, no Brasil inteiro, prendendo todas as capitais do Brasil, os dois cases em capitais que existem, para mim, são Campo Grande e Cuiabá, da maior presença.
Então, Cuiabá hoje acaba sendo referência, inclusive, não só para o Sicredi, mas para o cooperativismo, de como é possível fazer cooperativismo em grandes centros, que é o nome do desafio, João. A gente é muito bom em pequenas e médias cidades, mas em grandes centros urbanos, a gente capenga. E hoje, por um trabalho muito forte da Ouro Verde, desse processo de conhecimento de marca, de exposição, de estar presente na comunidade também.
Essa estratégia de não estar só nos grandes centros, só onde estão as agências das outras instituições financeiras, mas de estar lá na Pedra 90, no Tijucal, no Coxipó da Ponte. Ter essa presença local também é muito importante. E só para não perder o grande… Isso também é um outro… Parece bobo, mas nada é por acaso.
Esse é também um outro posicionamento estratégico que a gente quer: a presença “fisital”. Ou seja, não é só físico, não é só digital. Grandes instituições estão fechando agência, nós estamos no processo de abertura de agência. Por quê? Porque é importante a presença física da agência, do gerente, do colaborador para sentir o bairro, sentir o município, sentir a comunidade. Porque 93% das nossas transações já são feitas aqui, mas a presença física é fundamental, inclusive para lembrança de marca, para mostrar que estamos aqui. E quando você pega esse modelo que já deu certo, está dando tão certo, estamos consolidados aqui. Então, você pega esse modelo, mostra que é possível. Por isso estamos levando para o Norte, porque lá também é possível. Se deu certo aqui, é porque no Norte também vai dar certo1.
CAMILA CARPENEDO:
Observando agora um pouco mais do futuro e da nossa atual realidade, quais são os desafios que vocês percebem que ainda precisam ser superados para ampliar esse alcance que já é tão significativo, mas que pode se tornar ainda mais?
SENERI PALUDO:
Essa é tão fácil que… João, você falou na minha frente, eu ia falar, essa é tão boa, tão boa, que o João vai responder, pô. Você falou na minha frente, poxa… Quando voltei para Cuiabá, para o Sicredi, o João tinha duas grandes provocações. O João e o nosso Conselho. O primeiro era esse desafio de expansão. O Conselho falou: queremos expandir e precisamos de ajuda dos executivos para fazer esse processo de expansão. E o segundo grande era: não podemos perder a nossa essência cooperativista. Ele falava: não podemos perder. E na época, o João fazia uma provocação muito forte, do elegir, então, sem dúvida nenhuma, cara, nós estamos virando banco, estamos perdendo a essência, perdendo aquela essência de ter mesmo a posição de centralidade nas pessoas e centralidade no usuário. Não podemos perder essa cultura. E num processo de expansão, esse é um desafio.
Já estamos com 7 mil colaboradores nas nossas 10 cooperativas. É muita gente. No ano passado, foram 2 mil novos colaboradores. E, no final do dia, é esse colaborador que manifesta a essência e a cultura do Sicredi. Não é o aplicativo, é esse colaborador. Então, esse processo dessa nova geração que está entrando de colaboradores, de pessoas, que precisam entender a essência do cooperativismo de fato, é um desafio para não perder esse vínculo do que nos faz diferente, do que nos faz único. O que nos faz único não é ter dinheiro, não é ser uma instituição financeira. O que nos faz único é ser cooperativo. Então, esse é um baita de um desafio num processo de crescimento.
Outro desafio também num processo de coisas, então, assim, o trabalho de cultura. Cultura, cultura, cultura, cultura, cultura. Não podemos tirar do dia a dia nosso, principalmente com pessoas.
O segundo grande desafio nesse processo de crescimento é crescer com sustentabilidade. Crescer passo a passo, não querer dar o passo rápido demais. Um dos grandes processos que a gente está, e até fala bastante ultimamente, estamos aprendendo isso: hoje, cadência num processo como hoje é mais importante que velocidade. Às vezes é melhor crescer 10%, 15% ao ano, com estrutura, robustez, do que crescer 30%, 35% ao ano, fazer um processo de expansão e depois ter os processos de dor do crescimento. Outro ponto é continuar crescendo com essa cadência mais importante do que a velocidade.
E um terceiro ponto é equilibrar essa questão que o João também colocou de independência, de autonomia e não. Evoluímos para um modelo que temos que entender que somos interdependentes. Nós, como sociedade cooperativa, as cooperativas são interdependentes de um modo ou outro. Não é independente. Porque, no final do dia, na hora que dá um problema em uma, as outras nove têm que socorrer. Se uma está muito bem, temos que olhar para ela, copiar e passar para as outras nove. Então, esse processo de entender como processo evolutivo, que não é independência, nem dependência total. Quando somos crianças, somos dependentes dos pais. Na adolescência, queremos ficar independentes de tudo. Mas, quando viramos adultos, entendemos que somos interdependentes. Esse processo é um desafio para o nosso modelo cooperativista. Às vezes, queremos virar muito independente, sair fazendo tudo sozinho e aí somos um sistema, não usamos essa força. Acho que é um bom desafio também.
JOÃO SPENTHOF:
O Seneri falou bastante dos aspectos para dentro do sistema, além do desafio também ainda dentro de formar gente, formar gente para essa expansão para o Norte, que também é um grande desafio para continuar, mas de forma sustentável, esse crescimento com novas agências no futuro. Mas, olhando também para o lado mais externo, digamos, é manter o engajamento forte e a participação com os nossos associados e com a sociedade. Daí a importância do programa crescer, de colocar muita energia na formação dos associados para que sejam associados conscientes, que também se preserve a cultura cooperativista entre os associados. Isso é também um desafio grande, manter a participação do associado na vida da cooperativa, nas assembleias, nas reuniões, nas assembleias digitais, participando, questionando, perguntando, manter o engajamento dos coordenadores, desde a formação, com muito esmero, carinho e investimento nesse público que presta um trabalho extraordinário, pois são voluntários das cooperativas, dos coordenadores, formar novas lideranças, lideranças jovens, lideranças mulheres, que daí saem os futuros líderes, futuros conselheiros, dirigentes, toda essa governança primordial para que tenhamos esse olhar sobre a governança, mas sempre no sentido de formação das pessoas, desenvolvimento, acreditando que cada associado tem o potencial, desde que se propicie oportunidades de formação e de crescimento dentro da cooperativa, mantendo o engajamento, a principalidade e conquistando com isso o amor dos associados, ou seja, que os associados considerem a marca Sicredi uma marca querida: penso numa instituição financeira, penso numa cooperativa, penso Sicredi.
É isso que vai fazer com que os associados também sustentem esse diferencial, entendam que é diferente de se relacionar com uma instituição tradicional, é essa participação. E se a gente for falar um pouco mais de futuro, agora, queria que fizéssemos um exercício de imaginar daqui a dez, vinte anos: é possível já imaginar qual vai ser o papel do cooperativismo financeiro e, claro, do Sicredi nos próximos vinte anos nas nossas comunidades?
JOÃO SPENTHOF:
Lá atrás, quando estava no início da cooperativa, sonhava muito assim: vamos ter autonomia, financiar 100% das necessidades dos nossos associados, do jeito que estava crescendo e tal. Só que não é tão simples assim, ao longo do tempo surgem novos desafios, novos entrantes no mercado financeiro, concorrência, inovações tecnológicas, novas tendências. Precisamos avançar na inovação. O Sicredi tem como meta, até 2030, chegar a vinte milhões de associados, hoje temos praticamente dez, e chegar a um trilhão de reais de ativos.
Dentro disso, qual é o nosso objetivo aqui? Olhando para Centro-Norte, poderíamos pensar em cinco milhões de associados e uns 200 bilhões de ativos dentro desse objetivo, dessa meta, dessa visão, desse sonho grande para nós. Agora, claro, tem desafios, precisamos continuar sendo altamente competitivos, buscar inovação, inovar inclusive na forma de relacionamento, de fazer negócios. Está aí a inteligência artificial, ela tem que nos ajudar, nos aproximar nesse relacionamento. O relacionamento físico nem sempre vai ser possível, mas, às vezes, o relacionamento através de outras ferramentas pode ser até mais próximo.
Posso ter um associado morando na Costa Rica, e posso manter um excelente relacionamento com ele. Temos que realmente inovar, ser muito criativos, e manter sempre moderno esse movimento, dar jovialidade para o Sicredi, fazer grandes investimentos e usar nossa criatividade para trazer os jovens para cá, porque eles têm muitas oportunidades, muitas opções hoje, e talvez ainda enxerguem Sicredi como uma marca talvez um pouco mais envelhecida, temos que dar rejuvenescimento à marca. São muitos desafios pela frente, mas com visão e criatividade, vamos conseguir1.
SENERI PALUDO:
Se eu puder contribuir, do ponto de vista de quantidade, corroboro o que o João falou. Acho que temos potencial, nossa central, nessa região Norte do país, para chegar em 5 milhões de associados no Sicredi e chegar a uma carteira de 100 bilhões. Acho que temos essa possibilidade de chegar no médio prazo. Isso do ponto de vista de quantidade.
Agora, do ponto de vista de qualidade, para mim, três indicadores são super importantes. O primeiro deles é que não tem jeito: somos uma instituição financeira, temos que manter o ritmo de resultado financeiro, resultado econômico. Às vezes, a gente fala em resultado, 100 milhões é muito, é pouco. Tem um indicador hoje que usamos muito, que é o ROE, retorno sobre o PL. Boas instituições financeiras no mercado mantêm o ROE acima de 15%, meta próxima de 20% ao ano. Por quê? Porque dá robustez, economia, resultado para continuar girando a máquina. Então, esse indicador de ter um ROE como sonho grande, por volta de 20%, para mim, é um indicador de qualidade muito importante.
Só que só o resultado, só esse indicador, não diz nada sozinho. Para mim, ele é uma tríade entre esse indicador de resultado financeiro, o de satisfação do nosso associado e de felicidade do nosso colaborador. Então, é o ROE, o NPS e o ANPS. Sempre três pontos. É a tríade. Deus, Pai e Espírito Santo.
Para mim, é sempre essa tríade. Do ponto de vista de qualidade, é ser referência em NPS, referência no indicador de felicidade do colaborador e referência em resultado. Ter essa tríade ali. Até porque é fácil gerar resultado, sangra o associado, cobra taxa alta, você vai ter um resultado gigante, mas o NPS vai para as cucuias. É fácil ter NPS alto, esfolando o colaborador para ele trabalhar 24/7 e não pagar bem, ou cobrando taxas bem baixinhas, até abaixo do mercado. E aí você quebra também a cooperativa. Então, o grande ponto para mim, do ponto de vista de sonho, de qualidade, é estar sempre na referência desses três indicadores. Não é um só. É buscar resultado, buscar o máximo possível do índice de satisfação do associado e buscar o máximo possível do índice de felicidade do colaborador. Sempre o equilíbrio.
JOÃO SPENTHOF:
Exatamente. E o impacto na comunidade também vem a partir desses três fatores funcionando bem, esse equilíbrio acontecendo.
CAMILA CARPENEDO:
A gente pode esperar para esse futuro ainda mais impacto de toda a atuação desse cooperativismo deixando riqueza, deixando renda nas nossas regiões?
JOÃO SPENTHOF:
Eu creio que sim, mas é necessário, dentro dos desafios que o Seneri falou, mantermos a nossa solidez, rentabilidade, continuar crescendo, se possível, acima da média do sistema financeiro nacional e caminhando juntos com os programas sociais, com as ações da comunidade, com as ações junto a entidades filantrópicas, todos os programas sociais do Sicredi, mas, sobretudo, tendo esse modelo de negócios que o Sicredi tem, que privilegia a atuação do setor produtivo, desde os micro e pequenos empreendedores, que o Sicredi é líder em operações de pequeno valor, agricultura familiar, médio, grande produtor, pequenas empresas, enfim, esse modelo de negócios que realmente gera impacto e sendo competitivo, precisamos ser eficientes dentro da cooperativa, para ser competitivos em taxas e tarifas, sempre buscando ter produtos adequados à necessidade dos nossos associados e, consequentemente, geramos renda para o associado, agregamos valor, geramos benefícios econômicos. No último exercício, o Sicredi gerou 25 bilhões de benefício econômico para seus associados, uma média de 2.900 reais por associado num ano. Então, é muito possível isso, desde que mantenhamos a eficiência, a solidez, a rentabilidade para proporcionar esses benefícios no futuro e gerar esse impacto social, o impacto do modelo de negócios direto no dia a dia das operações que faz.
SENERI PALUDO:
Dinheiro que fica aqui. Exatamente. Além de todas as ações de responsabilidade social e programas que o Sicredi faz muito bem e, em especial, a Ouro Verde é um expoente dentro desse contexto a nível nacional. Talvez a cooperativa que mais tem expertise e que mais tem quantidade e qualidade na atuação nos programas sociais, em responsabilidade social, é realmente uma cooperativa exemplo, benchmark para quase a totalidade das demais cooperativas. Está na nossa essência. O social não anda… O econômico sozinho, separado, são os dois pilares do cooperativismo. Está nessa essência. Não podemos pensar só em um pilar e não no outro. Não podemos pensar só no social sem o econômico, mas só pensar no econômico sem o social também não tem. Então, é isso de manter essa essência para esse processo de crescimento para o futuro.
A Ouro Verde, sem dúvida, é um exemplo. Em muitos programas, inclusive pioneira, sai na frente, provoca, dá bastante trabalho para a gente lá na Central, não é, João? No bom sentido, de sair na frente, de provocar, de fazer primeiro, de inovar. O que é legal porque vira um polo de referência para outras centrais, para outras cooperativas. E até um pouco disso, não tem o tal da fala, ela empolga, mas, na verdade, é o exemplo que arrasta. Esse processo é muito característico da cultura da Ouro Verde, de ir na frente, de colocar, de implementar e de ser exemplo de que é possível equilibrar o econômico e o social, sim.
CAMILA CARPENEDO:
A gente falou bastante disso no programa da semana passada, com o nosso diretor executivo, Roberto Vargas, e com o nosso diretor de operações, Cleitson Pereira. Então, se você não assistiu o episódio da semana passada, volte lá e assista, que a gente falou muito sobre esse equilíbrio entre o social e o econômico, que é realmente parte importantíssima da cultura da nossa cooperativa, da nossa Ouro Verde.
Vamos nos encaminhando para o fechamento já, né? A conversa está boa, né, Bruno?
BRUNO MOTTA:
Boa demais. Mas a gente já está indo para o encerramento aqui.
CAMILA CARPENEDO:
Sim. E para deixar um pouco melhor, acho que a gente pode pedir para que eles deixem uma reflexão para os nossos associados, para quem está nos acompanhando. Uma reflexão de futuro, uma reflexão um pouco mais vívida de cooperativismo. O que vocês querem deixar nesse encerramento aqui?
JOÃO SPENTHOF:
O João me inspira. Olha, eu sempre digo assim: sonhe pequeno e colha pouco. Sonhe grande que você vai colher grande. Vai ter uma colheita muito farta, né? Isso sempre acontece. Se você pensa pequeno, vai realizar pouco. Se pensa grande, porque cria um modelo mental dentro de você, aquilo vai se cristalizando. Ah, quero chegar a X em 2030, queremos ter um trilhão de reais, queremos ter 20 milhões. Isso vai acontecer. Se repetidamente inspirarmos os outros com esse sonho, isso vai se cristalizando na mente das pessoas e elas vão acreditando que é possível.
Para a Ouro Verde, para os associados, pela robustez, solidez, governança muito forte, inspiradora, que nos provoca na Central a buscar sempre as melhores práticas por essa atuação tão forte nos programas sociais, na responsabilidade social, temos tudo para acreditar. Temos a capital aqui como área de responsabilidade. Imagina o potencial de tudo isso. Então, meu recado é esse: vamos pensar grande, vamos sonhar grande, que o céu é o limite aqui. Vamos pensar em 30, 50% da população da nossa área de ação associada. Vamos ter uma cooperativa de 30, 50 bilhões em ativos, de 500 mil associados. Pensar grande que a gente vai colher grande.
SENERI PALUDO:
Assino embaixo. O que o João traz é super importante. Se não tiver a intenção mesmo, aquela chama de falar “é para lá que nós vamos, é isso, a gente consegue, esse espaço é nosso”, de sonhar grande, de pensar grande, é a primeira chama que podemos ter. Depois a gente vai estruturando isso, caminhando junto nessa jornada. Mas acho que é sonhar grande e pensar grande. Nossas crenças podem ser limitadoras ou impulsionadoras ou inspiradoras. O cooperativismo precisa, por essa essência, por tudo que os missionários, os precursores lá atrás pregaram, pensar grande e pensar em inspiração para as próximas gerações. Sonhar que é possível. Muitos desses pioneiros, assim como o seu João também foi, pioneiro do cooperativismo, nos ensinaram isso. Esperamos que um dia possamos talvez ser lembrados como precursores do nosso cooperativismo.
CAMILA CARPENEDO:
Agradecemos muito a participação de vocês. É uma alegria receber vocês. É muito bom também ver e ouvir de vocês todo esse olhar estratégico que estamos tendo para toda essa expansão do cooperativismo, para que ele chegue a cada vez mais pessoas e faça ainda mais diferença nas nossas comunidades. Muito obrigada novamente por estarem aqui no nosso Raízes Ouro Verde.
BRUNO MOTTA:
Encerrando mais um episódio. Muito obrigado aos dois que participaram com a gente aqui hoje. Já deixamos aquele lembrete de sempre: todos os episódios da nossa primeira temporada do Raízes Ouro Verde estão disponíveis no site secredouroverde35anos.com.br. Agora, os episódios dessa fase de relevância, também da semana passada, já estão disponíveis no site e nas nossas redes sociais. E também no Spotify para quem quiser assistir e ouvir onde estiver. Então, acompanhe com a gente, ouça os episódios que já se passaram e fique com a gente nos próximos, que ainda tem muitas entrevistas até o final do ano, até o final dessa temporada.
CAMILA CARPENEDO:
Isso mesmo. Semana que vem tem mais. Até lá.
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